Texto:
Jorge Remígio
João Pessoa-PB
Jorge Remígio
João Pessoa-PB
Julho/2020
Estávamos no ano de 1979 e em Custódia todos entusiasmados com o nível do campeonato de futebol local. O campeonato do ano anterior já havia sido bem sucedido em vários aspectos, a criação de uma liga desportiva com dez equipes, bem organizada, com árbitros uniformizados, súmulas, que é um documento do jogo, tudo isso favoreceu o grande público que prestigiava os jogos no domingo à tarde.
Pois bem, tudo foi se aprimorando naquela temporada e os times ganharam mais qualidade técnica naquele ano. Isso mesmo, dez times. Fato bem democrático e inédito para o futebol da cidade, porque contemplou quase todos os jovens que gostavam desse esporte. Eu não quero me referir ao Minhocão como o pior time, ou time ruim. Esses adjetivos são pejorativos e politicamente não é legal se reportar ao time dessa forma. Vou chamá-lo de modesto.
Também não digam que isso é um eufemismo. Sem entrar em muitos detalhes das equipes, até porque o foco aqui é o Minhocão F.C., três times chamados de grandes, Vasco, Tambaú e Independente, brigavam pelo título. O restante jogava pelo prazer da disputa e a luta para não segurar a lanterna ou terminar em último, no caso.
O meu irmão Jânio, que nunca teve muita habilidade com a pelota nos pés, era reserva do Minhocão F.C. e ainda não havia feito a sua estreia naquele campeonato de 1979. Todos os domingos tinham dois jogos. O primeiro começando às 14:00 horas em ponto, para não atrasar o segundo jogo que já terminava no lusco fusco, no crepúsculo vespertino. Quem já jogou futebol sabe muito bem o prazer que esse esporte proporciona. E quando tem um grande público, melhor ainda. Naquela tarde quente de verão, o time do Minhocão fazia o jogo preliminar com o Vasco.
Começa o segundo tempo da partida já com o placar adverso, pois estava perdendo por três a zero. Fábio, que apelidamos de “Piveta” pela sua estatura, era o craque do time e fazia de tudo. Jogava bem, corria muito e tinha uma habilidade incrível com a bola nos pés, mas, andorinha sozinha não faz verão, como diz o ditado. “Mas craque no Minhocão?” Eu explico, Fabio Jogava no Vasco, mas, devido a um desentendimento, saiu e escolheu o time mais modesto para jogar.
O Minhocão. Eu acho que foi por pirraça, sabe. O Carneirinho já estava lotado, gritarias, charangas, e Jânio no banco de reservas ansiava para estrear no seu time e no campeonato que se iniciava. O sol era escaldante por volta das 15:30 horas, mas, fazer o quê? Queria era entrar em campo.
Quando faltavam vinte e cinco minutos para o término da partida ele começou a perder as esperanças de jogar naquele dia e absorto, envolveu-se em pensamentos “Como seria prazeroso jogar com o Carneirinho cheio. Nem me importo com o placar adverso, acho que vai ficar para outro dia.”
Estava tão desligado e desiludido, que nem ouviu quando o responsável pelo Minhocão F.C. falou.
- Jânio, esquenta aí que tu vais entrar no lugar de Capuz.
- Capuz era irmão de Capote, sobrinhos de Luizinho da Oficina.
Como eu falei, Jânio não ouviu, foram os colegas que lhe alertaram. - Jânio, tu vai entrar, faz o aquecimento
- Ôxe!
Com um mormaço daquele, nem era necessário. O calor era infernal, principalmente para quem estava correndo em campo com o sol a pino. Jânio passou a correr para frente e para trás na beirada do campo, o coração acelerado, a ansiedade a mil e quando a bola é arremessada para lateral do campo, Capuz sai em direção a Jânio que esperava pela camisa. Sim, como falei no início, o Minhocão F.C. era um time modesto, só tinha as onze camisas, incluindo a do goleiro.
O reserva já pegava a camisa aquecida. Capuz quando chegou a uns dois metros, Jânio já sentiu o clima do jogo. Pensou. “Se eu for me impressionar com algum aroma, vou perder minha estreia”
Capuz com a testa brilhando e a camisa encharcada de suor, tira do seu corpo e a entrega para Jânio que rapidamente a veste sem pensar em nada, porém, notou claramente que a camisa havia colado em seu corpo.
“Isso é detalhe de somenos importância, o que vale mesmo é o amor ao futebol e também ao Minhocão F.C., por que não?”
Jorge Remígio - João Pessoa, 21/07/2020
Impressionante sua descrição, Jorge. Até fiquei imaginando que eu estava na plateia desse jogo e torcendo pelo Minhocão F.C., rsrs
ResponderExcluirBoa leitura, gostei da "camisa já aquecida" e afinal, Jânio conseguiu chutar a bola ou só entrou em campo?
ResponderExcluirNo caso, Jorge, podia vestir a camisa do time por cima da que estava usando naquela tarde.
ResponderExcluirMas os craques não pensam assim.
Podia vestir a camisa do time por cima da sua, que usava naquela tarde.
ResponderExcluirMas os craques não pensam assim.
O futebol interiorano tem muitas histórias fantásticas. Parabéns Jorge pela belíssima crônica.
ResponderExcluirKkkkkkkk
ResponderExcluirPara quem gosta de futebol, o importante é jogar!
E assim foi com Jânio!
Muito boa, sua crônica.
Gerando na alta, Jorge. Tá valendo! Abraço.
ResponderExcluirMemorável estreia, inesquecível uniforme. Viva o Minhocão!
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