Texto:
Jânio Queiroz
Julho/2024
São Luís - MA
Nos anos 70, em Custódia, cidade do interior de Pernambuco, a juventude tinha uma tradição de aproveitar os dias quentes do sertão para se refrescar nos banhos de açudes e barragens afastadas da cidade.
Principalmente nas férias, quando os jovens que estudavam ou trabalhavam em Recife retornavam à cidade, esses passeios se tornavam verdadeiros eventos sociais.
A rotina era sempre a mesma: reuniam-se de manhã, preparavam um farnel simples, e invariavelmente incluíam uma garrafa de cachaça para animar o banho.
No caminho, faziam uma parada estratégica em um pé de umbu, cujos frutos azedos serviam de tira-gosto perfeito para a cachaça. Era um ritual completo, misto de aventura e camaradagem, que fortalecia os laços de amizade.
Um desses jovens era Luciano, filho de dona Rosa, conhecida como diretora de escola. Certa manhã, antes do grupo partir para o banho, Luciano lembrou-se de que ainda faltava a cachaça. Sem perder tempo, dirigiu-se à mercearia de seu Né, situada na rua da Várzea, hoje conhecida como João Veríssimo.
Ao entrar na mercearia, Luciano avistou seu Né atrás do balcão, arrumando as mercadorias. "Seu Né, o senhor tem cachaça?", perguntou ele, com o sorriso esperançoso de quem já sabia a resposta. Seu Né, um homem de poucas palavras e muito astuto, olhou de soslaio e respondeu, "Tem Pitu e Serra Grande, qual você quer?"
Luciano, sem hesitar, escolheu a Pitu. "Me venda uma garrafa de Pitu, que nós estamos indo para um banho. Quando voltar, eu busco o dinheiro em casa e pago ao senhor", disse ele, com a confiança típica da juventude.
Seu Né, cruzando os braços e balançando a cabeça, soltou uma risada e disse: "É A GENTE DIZENDO QUE NÃO TEM E ESSE PESSOAL COM DIABO DAS TEIMAS.”
Mesmo assim, entregou a garrafa para Luciano, confiando na palavra do rapaz.
Os jovens partiram, animados, para mais um dia de diversão. O banho foi um sucesso, com risadas, histórias e, claro, umbu e cachaça. No fim do dia, cumprindo a promessa, Luciano voltou à mercearia de seu Né, pagou pela cachaça e agradeceu a confiança.
Esses momentos, cheios de simplicidade e companheirismo, ficaram gravados na memória daqueles que viveram a juventude nos anos 70 em Custódia, relembrados com carinho e saudade a cada encontro da velha turma.