Corria o tempo pelos anos de 1935 a 1945. Custódia vibrava, crescia e se agigantava, numa explosão de trabalho e fartura. Sua época de ouro! Eu estava lá e assisti ao desenrolar do seu desenvolvimento. Agora vou contar o que vi. Era o Município de maior progresso sócio-econômico do sertão de Pernambuco.
Custódia era o maior produtor de algodão em rama do Moxotó e do Pajeú, rivalizando com Queixadas, hoje Mirandiba, além do cultivo de mamona e negociação de couro cru e curtido. Dispunha de duas bolandeiras, ambas no centro da cidade, de propriedade de Ernesto Queiroz, que foi Prefeito de Custódia por várias legislaturas, e de Antônio do Junco, que descaroçavam algodão e, em fardos prensados, vendiam à Boswuel de Lagoa de Baixo, atual Sertânia, e à Sanbra de Caruaru, afora o caroço que era negociado na região.
Tinha uma Fábrica de Tanino, localizada na Várzea, o orgulho da terra, pertencente a José Estrela, ex-Prefeito de Custódia, e administrada pelo genial Duda Ferraz, valendo salientar que, do gênero, só havia duas no mundo, a de Custódia e a outra na Argentina. O tanino, extraído da casca do angico, planta nativa e abundante na região, era exportado até para a Alemanha, com várias aplicações, inclusive medicinais, especialmente para curtição de couro. Contava com cinco Usinas de Caroá, assim distribuídas:
1) – a da Rua da Várzea, de Raul Guimarães;
2) – a da estrada do cruzeiro, de Severino Pinheiro;
3) – a do Distrito de São Gonçalo, a maior e mais importante de todas, de Aurélio Vasconcelos, também ex-Prefeito de Custódia, ressaltando que a fazenda era das maiores e melhores propriedades agrícolas do Estado, dando-se ao luxo de dispor de um campo de pouso para seu Teco-teco PPTYB ;
4) – a do Distrito de Samambaia, de Numeriano Freitas;
5) – a do povoado Samambainha, de João Leite, pai do ex-governador do Estado, Eraldo Gueiros.
O caroá é, também, uma planta nativa e abundante na região, cujas fibras se usam na manufatura de cordas, barbantes, linhas de pesca e tecidos. As fábricas produziam grande quantidade de brancas fibras e os resíduos serviam de ração para o gado.
Havia uma Fábrica de Doce Japonês que abastecia não somente a cidade mas boa parte da região. Era um doce muito apreciado, especialmente pela criançada.
A Cooperativa Agro-Pecuária de Custódia, qual um estabelecimento bancário, com acentuado movimento econômico-financeiro, marcou época, pela organização e por sua reconhecida utilidade pública.
A Farmácia Pereira, de propriedade de Joaquim Pereira, competente Farmacêutico Licenciado pelo Departamento de Saúde Pública do estado, sobressaindo-se na área da manipulação, era tida na época como a maior e mais surtida farmácia do interior do Estado.
A Casa Góis, dos irmãos Domingos e Sebastião Góis, dois homens de comportamentos exóticos, era considerada também como a maior e mais completa casa comercial do território interiorano de Pernambuco.
Não se pode deixar de mencionar os saborosos pirulitos de Sebas, os suspiros de Dona Mariinha de Seu Mariano e os sequilhos de Dona Anita Remígio. Ainda hoje sinto o gosto deles. Havia poucos mendigos e nenhum miserável.
Gostava de ouvir o apito da Fábrica de Tanino, que era ouvido em toda cidade. Era a voz de Duda Ferraz chamando os operários para a messe.
Esta é a face risonha de Custódia na idade mais viçosa de sua vida, bebendo da água cristalina do Sabá e comendo do solo dadivoso desse sertão bravio e encantador.
São os ecos de um tempo barulhento!
JCarneiro