23 outubro, 2022

Tu és responsável por aquilo que cativas.

Lindinalva "Nenê"
Custódia-PE
Outubro/2022


Uma das mais difíceis realidades nos dias de hoje é entender o outro num ato de contemplar a realidade. Contemplar não significa ver, olhar e enxergar. É bem mais profunda essa reflexão. Contemplar é desvendar, decifrar, mergulhar no "mistério das coisas". Já não se conhece as pessoas que pareciam tão centradas e tão realistas frente às abstrações e às fantasias.

Escuto sempre esta frase: O mundo mudou! Será? Ou nós mudamos? Há pouco tempo, acreditava-se que após a pandemia o mundo seria diferente, bem melhor. E o Brasil melhoraria sim, ficando mais reflexivo e empático. Ledo engano!

O Brasil está vivendo um “estado de coisas” como nunca visto. É tão sério que clama pela sensatez de todos os cristãos de verdade. Com toda sinceridade e tristeza da minha alma, vejo algumas igrejas usando seu espaço físico como palanque e seu púlpito dando lugar para a disseminação do ódio e de uma campanha mentirosa e antidemocrática sem precedentes. É tão imperiosa a necessidade do poder da política na prática de algumas igrejas evangélicas que contradiz o Evangelho de Jesus Cristo e mostra a carência de Deus e, daí, se instala a profusão de pastores sem compromisso com a fé.

O mandatário do país está doente. Todas as evidências apontam para essa constatação. Não tem condições morais e psíquicas de conduzir uma nação tão grande como a nossa. E o mais grave de tudo isso é que ele negociou com grande parte dos deputados do centrão o escandaloso orçamento secreto, dando-lhe a prerrogativa de não ser punido em seus absurdos delirantes.

Pasmem, o Brasil é o quarto país que mais se afastou da Democracia, em 2020, em um ranking de 202 países analisados. Esse resultado foi publicado em março de 2021. A Democracia, amigos, pede socorro: negros, índios, mulheres, trabalhadores, jovens, adolescentes, crianças, minorias e todas as pessoas preocupadas com o bem-estar social e coletivo. Da mesma forma, as universidades, as instituições, a educação, o meio-ambiente, as artes, enfim, tudo que é protegido pela Constituição Federal está ameaçado num trágico processo retrógrado que merece a atenção de todos.

Senhores pais, senhoras mães, igrejas cristãs e demais credos religiosos: reflitamos sem relativizar esta frase: “pintou um clima”, dita por Bolsonaro em uma das suas ridículas lives, se referindo à adolescentes venezuelanas que ele, o presidente, teve contato há alguns dias. É asqueroso para quem tem filhos, netos, sobrinhos, ouvir qualquer coisa que tenha ligação com erotização de crianças, afinal, elas não tem idade e nem conhecimento para saber ou viver histórias em que “pinte um clima”. Isso me faz lembrar o triste drama das vitimas vulneráveis desse absurdo. A impunidade desse ser abjeto abre espaço para todas as súcias de plantão que esperam a oportunidade para cometer seus crimes, deixando um rastro de tristeza e dor na vida das famílias de seus filhos menores, carimbando, sobremaneira, a marca da covardia e da brutal violência pelo resto da vida. Isto não é fake news; é a verdade.

Estive presidente do Conselho de Direito e Defesa da Criança e do Adolescente da minha cidade, Custódia, e lhes digo: durante esse tempo ouvi depoimentos de familiares sobre abuso de crianças e adolescentes. É constrangedor e dói ver o sofrimento de pessoas vítimas dessa violência e muitas vezes sem justiça. A cena é desoladora e revolta. Imaginem atitudes covardes dessa natureza encontrando identificação numa fala de um presidente da república! É preciso que essas atitudes sejam punidas; se não forem pela justiça da Terra, serão pela justiça de Deus! Eu creio.

Tempos atrás li o livro “Navio Negreiro” de Castro Alves. E marquei uma frase no seu poema com lápis grafite e minha mente nunca esqueceu. Hoje ela se faz presente neste meu texto: “Senhor Deus dos desgraçados,
Dizei-me Vós, Senhor Deus, Se é loucura ou se é verdade Tanto horror perante os Céus!”…

Por fim, te faço um convite para ler a passagem sobre os vendilhões do templo (João 2, 13-25).

Custódia, 23 de outubro de 2022,

Sinceramente,

Lindinalva (Nenê).

21 outubro, 2022

Custódia, a Princesa do Sertão

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas 

 
Custódia terra querida,
Foi fazenda Santa Cruz,
Lá eu ganhei minha vida,
Pra ter fé no Rei Jesus.
Custódia terra de brilho,
Eu sou também o teu filho,
Lhe trago em meu coração.
És terra de São José,
A nossa Custódia é,
A princesa do sertão.

É entre Arcoverde e Serra,
Que existe a bela cidade,
Meu lugar a minha terra,
Terra da felicidade.
Lugar de gente bacana,
Na terra pernambucana,
Nordeste é a região.
Fazendo a minha paródia,
Vou falando de Custódia,
A princesa do sertão.

Saí em 93,
A procura do Sudeste,
Eu vou dizer pra vocês,
Ruim foi deixar Nordeste.
Deixei minha mãe chorando,
Em casa se lamentando,
E saí nesse mundão.
No Sudeste eu viverei,
E jamais me esquecerei,
Da princesa do sertão.

Deus manda na minha vida,
Quem comanda tudo é Ele,
Nessa estrada bem comprida,
Vou na fé que tenho nEle.
Por aqui eu vou vivendo,
Seguindo e não esquecendo,
Do meu querido rincão.
De artistas, de poesias,
Minha terra de valias,
A princesa do sertão.

Marcos Silva.
De Custódia / PE.
São Paulo, 21/10/22.

17 outubro, 2022

Biografia - Antonio Siqueira de Lima "Antonio Vital"

 

Nascido em dia 11 de Fevereiro de 1928, em Solidão, no Pajeú, Antonio Siqueira de Lima, é filho do casal: Antonio Vital de Siqueira e Maria Dias de Lima.

Dessa união tem como irmãos: Eduardo Siqueira de Lima, Julieta Siqueira de Lima, Carmelita Siqueira de Lima, Olindina Siqueira de Lima, Corina Siqueira de Lima e João Siqueira de Lima.

Ainda jovem, trabalhou como vaqueiro para ajudar o seu tio Eduardo Domingos de Lima.

Casou com Niralda Campos de Queiroz, filha de Izaias de Queiroz Amaral e Francisca de Siqueira Campos (Feinha). Casado começou a trabalhar na Prefeitura Municipal de Custódia, durante o mandato do prefeito Ernesto Queiroz. Teve 7 (sete) filhos com Niralda, são eles: Marluce Campos Lima, José Alberto Campos Lima, Pacífico Campos Lima, Vera Lucia Campos Lima, Maria José Campos Lima, Gilberto Campos Lima e José Helder Campos Lima (Dinho). 

 

Foi um bom pai, bom marido e um trabalhador que sempre não deixou faltar nada em sua casa. De poucos amigos, era uma pessoa cativante. Muito conhecido na cidade e na região. Em Custódia os amigos mais próximos foram Zezito Caju, Ernesto Queiroz, Nozinho Veríssimo, Guilherme Andrada, pessoas inseparáveis. Valorizava bem as oportunidades que lhe eram dadas. Retribuía ajudando quem precisava.  

No casa onde foi criado

Pessoa de poucas palavras, porém de muito respeito em sua conduta e no que dizia. Trabalhou na Secretaria da Fazenda como Fiscal de Renda, até quando se aposentou. Sempre ajudava as pessoas que o procurava. Quando sabia que um comerciante passava por dificuldade em seu comércio, evitava cobrar os impostos, foi assim com as viúvas, até hoje essas pessoas lembram de sua atitude ajudando aquelas famílias que perdiam algum ente querido.

 

Um de seus hobbies preferidos era Vaquejada e Pega de Boi no Mato.

Sempre era visto no Café da Hora de Bebela, na sinuca do amigo Toinho Sapateiro ou na barbearia de Zé de Nazário.

Faleceu em 06 de Janeiro de 1998, em decorrência de complicações durante um procedimento cirúrgico.

Uma rua no Bairro Polivalente tem seu nome, uma merecida homenagem aos serviços prestados ao município de Custódia.

Texto: Paulo Peterson
Com informações de Dinho e Marluce, filhos.
Fotos: Acervo Familia

15 outubro, 2022

Relembrando OS ARDENTES




Por José Melo     

Na minha ida a Custódia, na última Semana Santa revivi momentos inesquecíveis da minha juventude, ao reencontrar, depois de mais de trinta anos, o Senhor Dida Boiadeiro, que vem a ser o baterista Dida, do Conjunto “Os Ardentes”, da década de setenta. 

Alquebrado pelos diabetes, não tem mais aquele vigor, aquela energia contagiante, como todos nós da mesma época já estamos todos na fase “sex” da vida, isto é, na fase sexagenária. 

Relembramos fatos ocorridos na curta existência do Conjunto “OS Ardentes”. 

Como a estréia, em uma cerimônia de colação de Grau, na antiga Petrolândia. Instalamos os parcos equipamentos – a bateria, um amplificados e caixa de som do Baixo, um amplificador acoplado a uma caixa de som para a guitarra, e o único microfone destinado ao canto, que era Paulo Félix. 

Como ainda era cedo, fomos conhecer o Cais do Rio São Francisco, onde ficamos observando meninos na faixa dos quatorze ou quinze anos pularem de uma altura de aproximadamente quinze metros, mergulhando nas águas do Velho Chico, admirados com a coragem ousadia deles. 

Foi aí que Paulo Félix resolveu aprontar uma. Comentando que também tinha coragem de dar aquele pulo perigoso, foi desafiado por Dida para provar isso. 

Sem pestanejar, Paulo começou a se despir para o perigoso mergulho, ocasião em todos nós insistíamos para ele não fazer aquela loucura, mas ele estava resolvido e afirmou que iria pular de todo jeito. Fizemos ver a ele o compromisso que tínhamos, e um acidente seria prejudicial ao grupo. 

Depois de mais ou menos meia hora de insistência, ele finalmente resolveu desistir, e retornamos ao hotel, para prepapar-nos para a apresentação. 

Já no hotel, eu que tinha ficado com a pulga atrás da orelha com aquele rompante de coragem, perguntei a Paulo: 

“Paulo, você ia pular mesmo no rio?” 

Ao que, rindo de nossa cara respondeu debochadamente: 

“Eu? Pular daquela altura? Só fosse doido. Eu estava era gozando da cara de vocês!” 

Finalmente nos deslocamos para o Clube local, para a apresentação. 

Por trás da cortina do palco, observamos a chegada dos convidados, e um detalhe chamou a atenção: a grande maioria das mulheres usava vestidos longos, que era o “chique dos úrtimo” em termos de moda. 

Assustado com tanta elegância, Paulo Félix cismou de que não teria gabarito para se apresentar para um público tão fino. E foi uma mão de obra conseguir convencer o mesmo que aquilo era normal, afinal “Os Ardentes” era um Conjunto Jovem e não podia ser considerado uma orquestra. 

E depois de muita delonga fizemos a apresentação, que se não foi um sucesso, tampouco deixou a desejar. 

Dida era a alegria da trupe dos Ardentes. Extremo gosador, fazia rir até quando não queria, com suas tiradas cheias de humor. 

Vindo de uma apresentação em Iguaraci, ao passarmos pelo terreiro de uma casa, no Açudinho, lá pelas cinco horas da manhã, Dida pediu ao motorista que tentasse atropelar uma galinha, que era para o almoço. 

Puxa pra um lado, puxa para outro, até que ouvimos o barulho da “vítima” por baixo da Rural. Parando, Dida correu, “socorreu” a vítima jogando dentro carro, e partimos antes que alguém da casa aparecesse. Estava garantido o tira gosto daquele domingo. A essa altura, já conseguiu com um dos componentes o almoça na casa dele, onde a galinha será preparada. 

Quando chegamos em Custódia – decepção! A vítima do atropelamento ao invés de ser uma galinha, era o galo do terreiro, de carne duríssima e difícil de cozinhar. 

Mas mesmo assim, ao meio estávamos na casa do anfitrião, para saborear o galo. 

Enquanto esperávamos o galo cozinhar, Dida viu na mesa uma enorme jarra com suco de frutas. Pediu um copo à mulher, e devido as peraltices que estava cometendo, o pedido lhe foi negado. 

Foi aí que entrou a esperteza dele. Ele cochichou prá gente: 

“- Quem duvida que eu não consigo um copo de suco?”. 

Claro que todos duvidaram, esperando pra ver a ideia dele. 

Simples. Dida apelou para a curiosidade feminina, e principalmente para a dona da casa. 

E foi logo para o ataque: 

“- Eu to na dúvida.Nem sei se conto o que Burro Preto (Chamava assim com o companheiro) aprontou ontem em Iguaraci!” 

Foi a conta para aguçar a curiosidade e o ciúme da mulher que insistiu prá que ele contasse, e ele sempre se negando, dizendo que não iria contar. Até que a mulher lembrou do suco e ofereceu a troca de um copo da bebida pela informação do que acontecera em Iguaraci. 

Bebendo o copo de suco de uma só “talagada”, Dida passou imediatamente a cumprir sua parte no trato, contando o que o companheiro aprontara durante a apresentação em Iguaraci: 

“ – Burro Preto essa noite em Iguaraci tava bufando tanto que ninguém aguentava tocar!!!!” 

Quase apanha de cabo de vassoura da mulher.  

            

Entendeu? Compreendeu? Bastou!!! - por José Melo

Foto: Jussara Burgos
por José Melo

ENTENDEU? COMPREENDEU? BASTOU!!! 

Dos muitos custodienses que conheci, uma figura foi bastante marcante. Quer pela personalidade forte, quer pela sinceridade a toda prova, e principalmente, pelo seu estilo popular, sempre considerando a todos iguais. Falo de Zé Burgos, verdadeiro benfeitor da pobreza de Custódia. Jamais se negou a auxiliar a quem necessitasse dele. Além de se prestar a auxiliar a quem lhe procurasse, ele tinha muita experiência no ramo de farmácia, o que lhe permitia, naqueles tempos em que não havia médicos na cidade, a receitar remédios para todos os males dos sertanejos de Custódia e adjacências. 

Outro aspecto também bastante forte em Zé Burgos era o humor. Recordo que nas manhãs quentes das segundas-feiras, a matutada ficava sob a marquise da Farmácia Pereira, protegendo-se do sol forte. Zé Burgos pegava uma seringa, daquelas grandes, enchia de água, e sentado por trás do balcão esperava um descuido de um dos matutos, e pressionava uma seringada de água gelada nas costas da vítima, depois retornava seriamente à leitura de um livro ou jornal. A matutada jamais desconfiava de que aquilo era presepada de Zé Burgos. 

Recordo que apareceu na cidade um doente mental, cujo apelido era Mãe Gorda, devido a sua obesidade. Chato, não dava sossego a ninguém, sempre tentando puxar conversa, dando uma de inteligente e enchendo o saco. Certa feita chegou na Farmácia dizendo que estava gripado, e pedindo um remédio. Zé Burgos disse que para aquela gripe só tinha jeito uma injeção. Mãe Gorda aceitou na hora. Só que Zé Burgos injetou água no músculo do braço de Mãe Gorda, provocando uma dor tão intensa que ele saiu em disparada e jamais voltou à Farmácia. 

Quando mais jovem Zé Burgos fora vendedor da Brahma, a famosa cerveja. Isso o fez apreciador da marca. Lembro que quando eu era menino, fui trabalhar em um boteco, de Joaquim Cabral, que ficava próximo à Farmácia Galeno, de Zé Burgos, que religiosamente tomava uma cerveja, sempre na boca da garrafa, próximo ao meio dia. Sempre via Joaquim Cabral atender ao mesmo, sempre sem nenhum problema. 

Ocorre que naquele tempo, a Brahma era a cerveja mais apreciada, enquanto que a Antarctica ninguém queria. Joaquim Cabral, que não era nada tolo, utilizava duas latas daquelas que serviam de embalagem para biscoitos “Maria” e “Creme Craker”, com metade cheia de água. Em uma delas colocava seis garrafas vazias de Brahma e na outra, seis garrafas cheias, de Antarctica. Depois de algumas horas, os rótulos ficavam escorregadios, soltos, e então era só retirar os da Antarctica e colar os da Brahma. Ninguém jamais reclamou da qualidade. Certa feita, na hora em Zé Burgos foi tomar a sua Brahma, Joaquim não estava e eu, inadvertidamente, servi um das brahmas da Antarctica. Ele levou a garrafa à boca, sorveu um gole, cuspiu foram derramou o resto na pia, e disse calmamente: 

- Essa aqui você bota na conta de Joaquim Cabral, que ele já sabe que eu só bebo Brahma! 

A partir daí, sempre tive o maior cuidado em servir Brahma da Brahma para Zé Burgos. 

Como se sabe, o matuto é profundamente grato a quem lhe presta qualquer favor. Zé Burgos prestava inúmeros favores aos caboclos, e certa feita, um deles quis ser agradável a Zé Burgos, porém não conhecia a sua sinceridade acima da média, e lhe disse: 

- Seu Zé Burgos, qualquer dia desse eu venho lhe chamar pra o sinhô ir lá em casa comer uma buchada! 

Ao quer Zé Burgos respondeu de imediato: 

- Eu não como merda na minha casa, quanto mais na dos outros!!! 

Com sua fala característica, sempre falando rápido, sempre encerrava uma conversa com a frase do título acima: 

- “Entendeu, compreendeu? Bastou!!!”. 

Salve o centenário de Zé Burgos.

 


Texto:
Jorge Remígio
Recife/PE
Outubro/2022

 

Ele foi para mim um ídolo. Muito próximo pelos laços familiares, ele era primo em primeiro grau do meu pai, sentia que a sua casa era uma extensão da minha. Foi essa vivência na minha infância, adolescência e  parte da minha juventude. Pena que ele nos deixou tão precocemente, poucos dias após o carnaval de 1978 aos cinquenta e cinco anos e quatro meses. 

Eu falei no início desse texto que ele era meu ídolo. Sim. Porque logo cedo eu percebi que Zé Burgos era uma pessoa diferenciada. A caridade dele era espontânea e muitos anos depois entendi como sendo um socialista no seu mais puro estágio do significado do termo. Não esperava recompensa pelas assistências que prestava, principalmente aos desprovidos ou aos que pouco tinha. Mas, não era só isso que me causava admiração. 

O seu jeito peculiar, brincalhão, firme nas atitudes e identificado com a juventude dos anos setenta, foi uma personalidade unânime para todos da nossa turma. Vez por outra ele passava na porta de um bar a caminho de sua casa para o almoço, vindo da Farmácia Pereira do seu sogro, então deparava-se com uma turma de estudantes descapitalizados, mas mesmo assim, tomando umas cervejas. Ele da porta. "Já tomaram quantas?" Tomamos onze, seu Zé. Então ele falava para o dono do bar. Essas aí pode anotar que são minhas. Nunca esquecerei dessa e de centenas de boas atitudes que esse homem teve em vida. 

Salve! Zé Burgos em seu centenário. 

Entendeu? Compreendeu?

12 outubro, 2022

Centenário de José Pereira Burgos

José Burgos

Manteve a família trabalhando como farmacêutico pratico e ganhou notoriedade pelo acerto dos diagnósticos, pela simpatia e por ajudar aos menos favorecidos. Lembro-me de ouvir minha mãe dizendo:

Zé Burgos, você tem que separar o amigo do comerciante.


Ele respondia prontamente:

Minha mulher está te faltando alguma coisa? Veja a situação: a pessoa está doente e sem recurso, eu tenho o remédio, não posso negar socorro...


Por esse motivo ele ficou foi reconhecido como o Pai da Pobreza.

Lembro-me de ver meu pai auxiliar muitas famílias que queriam vir para a construção de Brasília.

 José Pereira Burgos e Antônio Pereira Burgos 1944.

Na época da Segunda Grande Guerra, meu pai  serviu ao exercito na zona praieira, estava no Rio de Janeiro embarcado em um navio para ir a Monte Castelo na Itália, quando receberam a noticia que guerra havia acabado.

Homenagem póstuma, se estivesse vivo, hoje estaria completando 100 anos. Seu legado ainda é muito lembrado por aqueles que tiveram o prazer de conhece-lo.

Conheça mais acessando sua biografia: Clique Aqui

Participe do sorteio de vários brindes do Advogado Jânio Queiroz

Neste mês de Outubro, o Blog Custódia Terra Querida em parceria com o Advogado Jânio Queiroz, vai sortear brindes com nossos internautas. São 02 (duas) camisas de academia, 02 (duas) xícaras com pires, 02 (dois) copos de cristal de vinho, 02 (dois) abridores de bebidas e 02 (dois) porta álcool, todos personalizados.

Para participar, basta comentar nesta postagem, ou acessar a Fan Page do Blog Custódia Terra Querida no Facebook, através do Url https://www.facebook.com/CustodiaTerraQuerida, e compartilhar a postagem do sorteio em seu perfil pessoal.

O resultado sai no dia 30 de Outubro. Será realizado um sorteio ao vivo através da página no Facebook.

Participe!!!!

10 outubro, 2022

Procissão de São José em Custódia 2003


Enviado por Maxsuel Siqueira

Respondendo crítica de comentário anônimo


Por José Carneiro

Na poesia em que trato da minha infância e juventude em Custódia há um comentário de um anônimo que, nas entrelinhas e veladamente, faz uma crítica ao meu modo de proceder com ao distanciamento e abandono à terra que tanto amei. 

Meu caro desconhecido: é lamentável não se identificado. Esconder-se no anonimato, sem um motivo que justifique, como é bem o caso, caracteriza uma fuga de si mesmo. Mas, mesmo assim, respeito sua atitude. 

Com toda sinceridade tenho a lhe dizer que não fui eu quem se afastou de Custódia, que tanto amei e dela guardo as mais gratas recordações e as mais doces saudades. Muito pelo contrário. Foi ela que não me quis, ou melhor, não soube me compreender e conservar meu bem querer.

Fui a primeira pessoa, na história de Custódia, a concluir um curso universitário. Fui eu e o Deputado Estadual Manoel Novais, natural de Floresta, que fundamos o Ginásio Padre Leão de Custódia, que funcionou precariamente no Grupo escolar General Joaquim Inácio, tendo eu como diretor. 

Mas, infelizmente, em que pese o interesse e colaboração do então prefeito Luiz Epaminondas Nogueira de Barros, o educandário não obteve o reconhecimento oficial. Lembro que, nas comemorações do primeiro Sete de Setembro da gestão de Luiz Epaminondas, o desfile do ginásio foi deslumbrante, a ponto de receber rasgados elogios do prefeito, que era, reconhecidamente, um bom administrador e um homem de visão. 

Além disso, tive outras atuações em favor da terra e seu povo, sem, contudo, receber nenhum reconhecimento. Mas, como refere a Bíblia Sagrada, ninguém é bom profeta em sua terra. Ressalvo que a única lembrança e homenagem que recebi de minha terra, em toda minha vida acadêmica e profissional, foi por intermédio de Jussara Burgos, que me agraciou com o paraninfado de uma turma do ginásio Padre Leão, que credito à amizade que me unia ao seu pai José Burgos, meu grande amigo, de quem conservo na memória e no espírito os mais legítimos sentimentos de admiração e apreço.

Meu caro amigo, envolto no manto do anonimato, longe de mim o mais leve ressentimento do meu torrão natal. O fato de somente agora, depois de tanto tempo, retornar a Custódia, entre outras coisas, não é outro senão, a tendência natural e humana da humanidade, de na velhice voltar às origens.

Parafraseando o poeta "depois de um longo e tenebroso inverno", matando saudades, eu volto à minha terra!

05 outubro, 2022

Memórias de uma custodiese

Vanize Rezende
Recife-PE
Abril/2012



Quando alguém se aposenta, após um longo período de trabalho profissional, são recorrentes as oportunidades de repassar a memória dos tempos em que são feitas as primeiras escolhas de vida e ensaiados esboços do que se deseja alcançar mais tarde. São passos de acelerar os tempos, desbravar empecilhos e aproveitar os cruzamentos para refletir, ver como adentrar-se em difíceis estradas curvilíneas, equilibrar-se nos pedregulhos ou superar veredas espinhosas.

Nas caminhadas é possível descobrir a exuberância de uma paisagem à subida da serra, observar vales verdejantes ou ouvir o sussurro das águas que arrebentam nas pedras. Outras vezes surge a singela beleza de um estreito corredor sertanejo, ladeado de arame farpado e cipós ressequidos. Os diferentes hemisférios da vida oferecem paisagens diversas que enchem a vista de belezas únicas. Ao contemplar essas paisagens, os caminhantes podem não se dar conta quando estão a chegar ou a se perder do seu destino.

Com ela não foi diferente. Seu primeiro trabalho, ao terminar o magistério, foi o de enfrentar uma sala de pivetes assanhados que não sabia conduzir. O magistério não era bem o que teria escolhido. Seu pai, cuidadoso com o futuro das filhas, não lhe permitira seguir o curso clássico da época como teria desejado. Sertanejo de rígidos princípios pensava que as filhas mulheres devessem cursar o magistério, pois assim estariam preparadas para o casamento e a maternidade. Quanto aos dois rapazes, estes puderam escolher advocacia e engenharia como desejavam, pois seriam futuros doutores e chefes de família. Esse foi o seu inevitável roteiro de iniciação. 

Assim, quando estava por completar onze anos, seu pai a acompanhou a Pesqueira, cidade agreste das primeiras fábricas de doces, com seus altos bueiros, cuja fumaça anunciava aos viajantes a proximidade da estação de chegada. Era a sua primeira viagem de trem e a primeira viagem a lugares fora dos ares do sertão.

Não obstante a rigidez do internato havia algumas alegres compensações: a saída nos finais de semana, quando era acolhida pelos parentes, na cidade, sempre que conseguisse manter qualidade no estudo e um bom comportamento. Assim, podia ir ao cinema, a grande novidade da época, quando via o seriado de Tarzan ou mesmo um filme com Beth Davis. Seu pai, Né Marinho, a visitava a cada mês trazendo as guloseimas ansiadas, com os sabores de sua terra e as notícias da mãe cuidadosa e terna, ainda ocupada com os filhos menores. Chamava-se Ester e gerenciava a casa da sua máquina de costura, a fazer roupas para os sete filhos.


A vida no internato, na agreste cidade de Pesqueira, era bem diferente dos dias de sua infância em Custódia. Lá aprendeu a cuidar da sua voz suave e tônica e a participar do canto coral que lhe trazia muitas alegrias e suscitava novas descobertas sobre a arte da convivência humana. Nos ensaios do coral aprendia a ouvir o outro com atenção, a levantar ou baixar o tom da voz para harmonizá-la com o solfejo coletivo, a esperar o momento de cantar e saber quando, de súbito, silenciar. Não havia solistas, como nas grandes orquestras, nem as primeiras bailarinas do balé. Importante, ali, era pensar no conjunto harmonioso das vozes com as suas características diferenças. E quantas diferenças bonitas e necessárias!


Aquela jovem estudante, com seus traços indígenas, cabelos pretos e lisos, tinha um olhar curioso e muita criatividade. Os sonhos se abriam para o universo. ao tempo em que aprendia a localizar-se no colorido labirinto do mapa mundi. Sonhos ingênuos de então, que se tornavam sempre mais espaçosos e cheios de desejos.

Foi no internato que ela conheceu melhor a arte de pensar, nos longos momentos de silêncio impostos na sala de estudo. Era um espaço apropriado para que, entre as ingênuas adolescentes do internato, as mais ousadas se iniciassem nos emocionantes momentos de transgressão: ali, escreviam cartas aos jovens estudantes do Colégio Diocesano ou das cidades onde haviam deixado sua infância. Pois o coração da mulher, ainda que criança, já começa a entrever, embora com certo desassossego, as suas escolhas e os seus afetos.

O silêncio e a quase imobilidade exigidos por cerca de três horas para o estudo das internas, mais serviam para a leitura de cartas que chegavam dos correios, sem a intervenção das cuidadosas mestras protetoras, ou fazer bilhetes aos amigos e amigas da cidade e, ainda, para sonhar os sonhos mais reclusos, enquanto fosse possível alcançar o desejo que tinham de ser grandes.

Ali, ela também aprendeu a preparar as famosas filas para o êxito nas provas mais difíceis. Assim, a menina sertaneja planejava muito bem o dia das provas de bordado e tricôt, que lhe resultavam mais difíceis do que as chatas operações de matemática. Sempre se reconheceu limitada mas artes manuais, tão criativas e práticas, mas para ela dificílimas de executar. Havia sempre uma colega que aceitava, em troca de alguns “sopros” nas provas de história ou geografia, preparar um arremedo que fosse da arte manual em causa, a fim de que ela conseguisse, no máximo, o mínimo da nota necessária.

Aos quinze anos iniciou seus primeiros passos da tão sonhada libertação dos pais. Conseguiu que o seu pai entrasse em contato, em Recife, com o hoje grande filósofo e professor Zeferino Rocha, então sacerdote responsável pela Ação Católica da Juventude Estudantil (JEC) na Região Nordeste. Sob a sua tutela seu pai lhe permitiu residir em Recife, numa casa estudantil da Ação Católica. Mais tarde ficou em outro pensionato com mais duas irmãs, aos cuidados uma das outras.

Seu pai continuou a visitá-las a cada mês. A convivência saudável e solidária com outros jovens da Ação Católica promoveu o seu crescimento pessoal e seu interesse por outros projetos e caminhos que descobria. Assim, desenvolveu novos interesses enquanto participava de fóruns de cinema, encontros dançantes entre amigos e desenvolvia uma grande curiosidade pela literatura. Foram os melhores tempos da cultura francesa na formação dos estudantes da época.

Aos 21 anos foi convidada a participar de um evento em Frankfurt, na Europa, o que contribuiu para que aquela matuta, lá do sertão, alargasse mais o seu olhar sobre o mundo e se ocupasse de questões emergentes em outro movimento que privilegiava a fraternidade universal: o Movimento dos Focolares. Foi a sua oportunidade de residir em Roma, trabalhar para complementar a bolsa de estudos que conseguiu na universidade, e manter contato permanente com pessoas de outros países, seja na comunidade onde vivia, seja com os colegas universitários provenientes do então chamado “terceiro mundo”.

Tudo isso levou a jovem universitária a conseguir uma consciência crítica razoável, diante das já então gravíssimas diferenças entre povos, países e pessoas na comunidade universal. Foram nove anos de trabalho social, como também de muito aprendizado e vivências de momentos gratificantes na sua vida pessoal e profissional.

 
Estudou Comunicação Social e Jornalismo e chegou a tornar-se educadora pela urgência das necessidades dos empobrecidos no Nordeste do Brasil. Com o aprendizado nos diferentes programas e projetos que coordenou, na região, exerceu, mais tarde, a profissão de consultora autônoma de secretarias de educação estaduais, organizações não governamentais, centros universitários e outras instituições. Seu mais recente trabalho profissional foi o de consultora de dois programas do MEC, na região metropolitana do Recife. 

Nesse percurso, o exercício do casamento e da maternidade e a convivência com suas três filhas, já independentes e adultas, lhe ensinaram a estar atenta aos sinais dos tempos, às extraordinárias e rápidas mudanças por que passou a sua geração e ao grande salto percebido também na geração de suas filhas. Na convivência desses tantos anos, sua história lhe ensinou a enxergar, com mais clareza, como essas grandes mudanças influenciaram positivamente e profundamente o seu modo de pensar e de agir até aqui, com os setenta e mais anos que carrega com tanto prazer.

Hoje, ao manter a partilha com pessoas de idades e condições de vida diferentes, enriquece-se e amplia o seu aprendizado da liberdade e do exercício do bom senso, o que lhe permite de continuar a fazer novos projetos, acreditar na beleza da vida e estar aberta a novas aventuras, como esta de brincar de escrever, de que tanto gosta. Também não quer prescindir de ocupar-se de trabalhos solidários e das relações de bem-querer.

O mundo precisa de amor!

Lindinalva Almeida
Custódia-PE
Outubro/2022


A Igreja define o amor como “doação e acolhimento”. E vê no amor o maior sentimento do homem, razão pela qual, ele não pode viver sem amor. Esse sentimento de carinho, benevolência e de demonstração de afeto, que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de demonstrá-lo através de atitudes e ações, motiva a necessidade de proteção e pode se manifestar de diferentes formas.

Etimologicamente, o amor surgiu a partir do latim “amor”, que tinha justamente o mesmo significado que hoje. Assim, o substantivo dá origem ao verbo amar, que representa a ação do indivíduo que experimenta esse sentimento, isto é, estabelecendo uma relação entre o sujeito que ama e o que é amado.

O conceito de amor é um dos mais amplos e complexos que existe. Entendê-lo esbarra na singularidade de cada um. Essa emoção gostosa sentida pelo gênero humano provoca entusiasmo e nasce de laços consanguíneos ou de relações e atrações físicas, fazendo o maior bem para quem dá e para quem recebe. Esse amor que é ação e atitude é o mesmo que tem o poder de transformar o mundo, numa força capaz de converter “dor em riso, pranto em alegria e trevas em luz”. Jesus nos diz: “coragem, não desanime!”. Por causa do amor, as ações de quem o possui no coração, são de pessoas melhores, empáticas e dispostas a fazer sempre o melhor, sem precisar olhar qualquer outro tipo de interesse. Embora o amor seja a máxima corrente, este não se define, simplesmente se vive. E com toda propriedade, a Bíblia dá a definição mais bonita que Paulo escreveu sobre o amor. Digamos que seria o suficiente para entender como é importante ter amor por parte de quem somos. Em 1 Coríntios 13:4-7: “o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.

Nesta reta final da eleição de 2022, senti uma grande necessidade de escrever sobre esse bem maior chamado amor. Tão grande e tão escasso nos últimos tempos! Um tanto quanto paradoxal, grande e escasso! Pois bem! Ele é grande porque é a pura expressão do Altíssimo: o amor “tá lá, tá aqui, tá ali e, sim, pode ser sentido independentemente da distância, da luz, do som e do toque”.

Queridos amigos, peçamos à misericórdia de Deus que o vento da caixinha de Pandora não sopre sobre as nossas estruturas.

Custódia, 01 de outubro de 2022.


Um abraço fraterno,

Lindinalva (Nenê).