Custódia-PE
Outubro/2022
Uma das mais difíceis realidades nos dias de hoje é entender o outro num ato de contemplar a realidade. Contemplar não significa ver, olhar e enxergar. É bem mais profunda essa reflexão. Contemplar é desvendar, decifrar, mergulhar no "mistério das coisas". Já não se conhece as pessoas que pareciam tão centradas e tão realistas frente às abstrações e às fantasias.
Escuto sempre esta frase: O mundo mudou! Será? Ou nós mudamos? Há pouco tempo, acreditava-se que após a pandemia o mundo seria diferente, bem melhor. E o Brasil melhoraria sim, ficando mais reflexivo e empático. Ledo engano!
O Brasil está vivendo um “estado de coisas” como nunca visto. É tão sério que clama pela sensatez de todos os cristãos de verdade. Com toda sinceridade e tristeza da minha alma, vejo algumas igrejas usando seu espaço físico como palanque e seu púlpito dando lugar para a disseminação do ódio e de uma campanha mentirosa e antidemocrática sem precedentes. É tão imperiosa a necessidade do poder da política na prática de algumas igrejas evangélicas que contradiz o Evangelho de Jesus Cristo e mostra a carência de Deus e, daí, se instala a profusão de pastores sem compromisso com a fé.
O mandatário do país está doente. Todas as evidências apontam para essa constatação. Não tem condições morais e psíquicas de conduzir uma nação tão grande como a nossa. E o mais grave de tudo isso é que ele negociou com grande parte dos deputados do centrão o escandaloso orçamento secreto, dando-lhe a prerrogativa de não ser punido em seus absurdos delirantes.
Pasmem, o Brasil é o quarto país que mais se afastou da Democracia, em 2020, em um ranking de 202 países analisados. Esse resultado foi publicado em março de 2021. A Democracia, amigos, pede socorro: negros, índios, mulheres, trabalhadores, jovens, adolescentes, crianças, minorias e todas as pessoas preocupadas com o bem-estar social e coletivo. Da mesma forma, as universidades, as instituições, a educação, o meio-ambiente, as artes, enfim, tudo que é protegido pela Constituição Federal está ameaçado num trágico processo retrógrado que merece a atenção de todos.
Senhores pais, senhoras mães, igrejas cristãs e demais credos religiosos: reflitamos sem relativizar esta frase: “pintou um clima”, dita por Bolsonaro em uma das suas ridículas lives, se referindo à adolescentes venezuelanas que ele, o presidente, teve contato há alguns dias. É asqueroso para quem tem filhos, netos, sobrinhos, ouvir qualquer coisa que tenha ligação com erotização de crianças, afinal, elas não tem idade e nem conhecimento para saber ou viver histórias em que “pinte um clima”. Isso me faz lembrar o triste drama das vitimas vulneráveis desse absurdo. A impunidade desse ser abjeto abre espaço para todas as súcias de plantão que esperam a oportunidade para cometer seus crimes, deixando um rastro de tristeza e dor na vida das famílias de seus filhos menores, carimbando, sobremaneira, a marca da covardia e da brutal violência pelo resto da vida. Isto não é fake news; é a verdade.
Estive presidente do Conselho de Direito e Defesa da Criança e do Adolescente da minha cidade, Custódia, e lhes digo: durante esse tempo ouvi depoimentos de familiares sobre abuso de crianças e adolescentes. É constrangedor e dói ver o sofrimento de pessoas vítimas dessa violência e muitas vezes sem justiça. A cena é desoladora e revolta. Imaginem atitudes covardes dessa natureza encontrando identificação numa fala de um presidente da república! É preciso que essas atitudes sejam punidas; se não forem pela justiça da Terra, serão pela justiça de Deus! Eu creio.
Tempos atrás li o livro “Navio Negreiro” de Castro Alves. E marquei uma frase no seu poema com lápis grafite e minha mente nunca esqueceu. Hoje ela se faz presente neste meu texto: “Senhor Deus dos desgraçados,
Dizei-me Vós, Senhor Deus, Se é loucura ou se é verdade Tanto horror perante os Céus!”…
Por fim, te faço um convite para ler a passagem sobre os vendilhões do templo (João 2, 13-25).
Custódia, 23 de outubro de 2022,
Sinceramente,
Lindinalva (Nenê).