Não podemos negar que o Carnaval passou por muitas transformações nos últimos anos. Principalmente se compararmos aos carnavais de outrora, que segundo os foliões da época o que prevalecia era a festa de rua, e não a competição entre as agremiações. A diversão nos clubes contava com marchinhas, dedos para cima, confetes, serpentinas, fantasias e muito lança-perfume.
É lógico que os tempos mudaram. Antes, no passado, não éramos tomados pelo consumismo que nos faz escravos, a vida era mais fácil de ser vivida, sem tantas cobranças, competitividade e outros. Tudo mudou, infelizmente, nem tudo para melhor. O carnaval de rua, de Recife e Olinda, por exemplo, tornou-se perigoso, devido à violência e os assaltos à luz do dia. Já na Bahia, o carnaval fugiu da tradição, conta com trios elétricos, embalados por músicas dançantes, em especial o axé. Se bem, que os trios viraram uma “febre” em todo o país. O foco, a estrutura da música, os desfiles do carnaval tradicional ganharam uma nova versão.
Recordo-me, ainda criança, na Rua da Várzea, dos animados e ingênuos foliões que passavam jogando água e talco em todo mundo, durante o período carnavalesco. Ficávamos de portas fechadas, observando dos vidros das janelas de casa, para impedir que algum folião mais ousado adentrasse sem pedir licença. Protegidos do mela-mela nos divertia ver as pessoas correrem para não serem pegas pelos foliões. À tarde, vinha à matinê. Fui poucas vezes. Tínhamos uma educação muito severa e papai nem sempre permitia. Mas, adoráva-mos a folia.
Lembro-me de um baile de fantasias no Clube, na gestão (Zezita Queiroz). Eu, minhas irmãs (Lucinha, Luciene, Lélia) e algumas amigas fomos caracterizadas de Branca de Neve e os Sete Anões. Nas noites seguintes nos vestimos de palhacinhas e ciganas. Mesmo não vencendo o concurso de fantasias, promovido pela Presidente, brincamos muito, pois a orquestra era excelente e o salão estava cheio de rapazes querendo paquerar. Foi muito legal.
Na década de 80, Sílvio Carneiro, através de D. Osminda convidou-me para aprender uma Marchinha de sua autoria e cantar no clube, num domingo de Carnaval, aí chamei o grupo de Jovens para fazer o Refrão. Aprendemos a marchinha nos primeiros ensaios, deixando o autor muito feliz. Penso que a idéia dele era resgatar os “velhos carnavais”. Apesar de ter sido muito bom, o projeto não foi adiante. O tempo foi passando, e os carnavais do clube e das ruas desapareceram. Sílvio partiu desta vida sem ver, à volta do famoso carcará. Quando vim para Recife, Luciene guardou a Letra da música, com cuidado e enviou-me nesses dias. Nunca esqueci a melodia. Agora, em homenagem ao Ex-Prefeito e Compositor Sílvio Carneiro, Deixemo-nos envolver pela folia e pela letra da música que nos remete a um passado recheado de saudades. Segue abaixo a letra. Um bom Carnaval para todos!
A VOLTA DO CARCARÁ
Marcha – Letra e Música: Sílvio Carneiro
I
UM CARNAVAL QUE PASSOU, DEIXOU:
A SAUDADE DO CARCARÁ
E ANTES DE SUA PARTIDA, CÔRO.
DEIXOU A DESPEDIDA, (BIS)
MAS UM DIA VOLTARÁ
II
FESTA IGUAL, NINGUÉM MAIS VIU,
DIA DE SONHO, ALEGRIA SEM IGUAL,
UMA AVE QUE REI MOMO ASSISTIU,
FOI UMA BRASA NO NOSSO CARNAVAL.
III
FOI UM SUCESSO INESQUECÍVEL
NO SALÃO DA FOLIA IMORTAL,
FOI A GLÓRIA, O CANTO INVENCÍVEL.
DA MARCHA FIRME NO NOSSO CARNAVAL
Um abraço,
Leônia Simões