Fernando Florêncio
florencio.fernando@hotmail.com
Ilhéus-BA
Março/2009
Nossa cidade sempre contrastou com tudo que se disse dela em tempos passados. Relendo uns escritos do Ernestinho Queiroz, (Coronel sem Patente) sempre faço uma pausa num trecho cuja citação teria sido feita pelo então bispo diocesano da época.
Dom. Adelmo Machado teria dito: “CUSTODIA NASCEU COM O ESTIGMA DA DIFICULDADE, ATÉ PORQUE SEU NOME COMEÇA COM CUSTO.”
O vaticínio do bispo estava totalmente “furado”. As coisas foram difíceis para Custódia assim como foram e continuam sendo para outras cidades. Pelo contrário Custódia sempre se destacou naquilo que se propôs a ter e/ou a fazer. Senão vejamos:
- A Feira de Custódia. Se alguém conhecer uma melhor e mais animada, não tenha cerimônia em dizer onde fica. A de Caruaru, não fora Luiz Gonzaga, até hoje o Brasil não saberia da sua existência.
- A Festa do Padroeiro São José. Diga onde tem outra igual. !!!
- Os bailes com orquestras, tanto os do Fenix quanto os do Ptb.( Atualmente os do CLRC.) Jazz puro “mermão” .As mulheres todas de “longo”e os homens de terno, gravata e sapatos DNB feitos por Zé de Zaqueu na sapataria de Duquinha.
São João? Caruarú aprendeu com Custodia. Os primeiros Bacamarteiros são originários do Quitimbú , distrito de Custódia.
-E a galera da Roqueira ??
Ei, pisiti. Você aí Cara Pálida: sabe em qual cidade foi inventada e quem inventou “A ROQUEIRA” ??? Vou dar uma pista: O inventor foi um mecânico chamado GALFIM. Agora descubra de onde ele era e onde morava. Elementar, meu caro Watson, Galfim era custodiense, diria Sherlock Holmes o detetive dos romances de Agatha Christie.
Para esta geração eletrônica, depois explico o que é roqueira. Com certeza não tem nada a ver com Rita Lee.
- E o Esporte Clube Custódia.?? Com Gabiru/Naime e Vevé. Sem comentário.
- E a água do Sabá ? Creio que não a exploram, pela relíquia que é.
- A Tambaú, Uma pedrinha na chuteira de muitas multinacionais. Marcas famosas já sucumbiram.
Ou “quebraram” ou foram incorporadas.
- E nós, custodienses ? Existe povo de melhor índole? Tem igual ?
Custódia é tão iluminada, que até figuras estranhas vindo não se sabe de onde, a ela chegaram e ficaram. Ex: Luiz Doido e Maria, Pedro Maravaia, Xê, Capitão do Sabá e tantos outros. Alem de custodienses ilustres, natos e chegados, que fizeram e continuam a fazer da nossa cidade um ícone do desenvolvimento e do progresso.
Diante disso, um fato merece toda a nossa atenção. Além do futebol, nossa cidade se sobressaiu também nas corridas de cavalos. Naquela época chamávamos de “prado”.
A pista de corrida era uma estradinha paralela ao campo de aviação. Uma pista reta de aproximadamente dois mil metros. Aos domingos, sempre tinha corridas.
Os páreos eram concorridíssimos. Gente de toda a região vinha ao “prado” de Custódia. As apostas eram altas. Dinheiro vivo. Muita grana.
Importado por um fazendeiro local, em sociedade com outros aficcionados, chegou a Custódia um potro baio, que foi logo apelidado de Melado. Potro novinho. Arisco. Na ponta dos cascos, como se dizia na época.
Apostar em “Melado” era vitória certa. Podia gastar por conta. O potro era imbatível.
A fama de “Melado” atravessou as fronteiras do Moxotó. Ficou conhecido até no Agreste Pernambucano. Mas como não existe bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe, junto com a fama de “Melado” chegou também a Custódia o primeiro “Esperto”. Malandro no bom sentido. Bem vestido, sapato DNB bicolor bem engraxado, bom de papo e endinheirado. Por onde passava deixava gordas gorjetas. Caiu do céu para garçons, engraxates e lavadeiras. Verdadeiro Um Sete Um. Bom de conversa, sem igual.
Logo após a chegada do malandro, chegou não se sabe de onde, uma Égua Manga Larga, cheia de mimos. A égua era tão grande que levava o nome de LAZARINA. Tinha até veterinário. Muito bonita e ficou “hospedada” na roça de Sêo Arnou, embaixo de uns frondosos pés de Juá, vigiada dia e noite. Tratamento vip. Alimentada com aveia e capim de planta selecionado. Visitantes e curiosos, só viam a Égua de fora do cercado e questionavam o porquê daquele pano cobrindo toda a anca da Égua. O tratador respondia que era para evitar o pouso da mosca varejeira “nas partes” do animal.
A noticia da corrida MELADO x LAZARINA se espalhou, e logo começaram as apostas. Tinha gente pagando pule dobrada. Ou seja: apostando 100 por 50 no Melado.
Porem, o malandro e seus amigos, só apostavam se Lazarina levasse uma “usura” (vantagem) de 50 metros. Ou seja, o Melado dava 50 metros de vantagem, numa corrida de mil.
Porém, um “araponga” do Melado” furou o cerco, conseguiu chegar na Lazarina e constatou que os dentes do animal estavam um tanto quanto ”enferrujados”. Sinal de velhice. Animal com prazo de validade vencido e/ou prestes a vencer.
Não deu outra. A notícia em forma de cochichos correu toda Custódia e redondezas. Diante disso, as apostas dobraram no cavalinho “Melado.”
Mermão !!!! chegado o grande dia, um domingo ensolarado, gente “saindo pelo ladrão”caminhões e rural willis lotados chegavam aos montes. Dinheiro vivo sendo “casado” de mão em mão.
Alinhados os animais, a bandeira branca arriou dando a largada. Logo na arrancada, em poucos segundos o Melado encostou no traseiro De LAZARINA, que não trazia o pano a lhe cobrir “AS ANCAS “.
E assim foi durante os mil metros do páreo O MELADO correndo e cheirando “AS PARTES DE LAZARINA”. A ÉGUA ESTAVA “PROGRAMADA” PARA NAQUELE DOMINGO, DIA DO PÁREO, ESTAR NO AUGE DO CIO, EXALANDO TODOS OS CHEIROS, ODORES E AROMAS POSSÍVEIS E IMAGINÁVEIS.
Foi o caos. O que teria acontecido. Pensaram até em CATIMBÓ.
O MELADO PERDEU POR UM CORPO DE DIFERENÇA: O CORPO DA ÉGUA LAZARINA.
POR MOTIVOS ÓBVIOS, “O ESPERTO” – ZEQUINHA DE JOÃO FLORENCIO – NUNCA MAIS BOTOU OS PÉS EM CUSTÓDIA.