Joaquim Tenório
Sobrinho foi o primeiro da família a migrar para o sul, embora nunca
tivesse deixado de proclamar sua paixão por sua terra. A circunstância,
porém, assim o exigia, não chovia naquela região há algum tempo e desta
forma tornou-se ele mais um retirante da seca. Foi vaqueiro, agricultor,
comprador e vendedor de caprino e suíno, além de marchante (açougueiro)
em Quitimbú; trabalhou em lavouras da região de Novo Cravinho, distrito
de Pompéia-SP e no município de Marília.
Mudou-se para
Mato Grosso uno no ano de 1955, seu destino desde que saiu de sua terra
natal, o que não aconteceu no primeiro momento porque o dinheiro
findou-se por completo em São Paulo-capital, tendo sido obrigado a
procurar na Estação da Luz o serviço de migração e de lá, acompanhado da
esposa grávida e dos filhos Luizinho e Marizalve, tomar outro rumo e
não o que projetara inicialmente.
Chegou a
Cassilândia tempos depois, no dia 12 de abril de 1955. Sua família havia
proliferado (coisas do sangue nordestino) haviam nascido mais três
filhos: Lourdes, Cícera e Francisco de Assis, nascidos no interior do
Estado de São Paulo. Deu uma volta na cidade, quando pode verificar não
existir nenhuma carroça para fazer frete, sem pensar muito voltou ao
interior de São Paulo, mais precisamente na cidade de Rubiácea, adquiriu
uma com animal e tralha e rumou de volta a Cassilândia. Lá se foram 10
dias de viagem, dormindo ora embaixo da carroça ora em galpões ou paióis
de fazendas.
Assim que
retornou, iniciou o trabalho duro juntamente com seu filho mais velho,
Luizinho; poucos dias depois estava de volta a Rubiácea para comprar
outra carroça, o que foi feito sucessivamente durante 18 meses, período
em que comercializou algo em torno de 40 destes veículos, tendo
adquirido recurso suficiente para comprar um sítio, loteá-lo e
homenagear seu estado de origem dando o nome do novo bairro de VILA
PERNAMBUCO - o maior da cidade. Comprou fazendas, chácaras, sítios,
gado, jipes, caminhonetes, caminhões e até aviões. Também foi o primeiro
corretor de fazendas de Cassilândia.
Foi vítima de
um acidente de avião quase fatal, no dia 02 de julho de 1968, no
aeroporto de Ribeirão Preto-SP. Inexplicavelmente a aeronave caiu logo
após decolar. Passou meses na UTI, teve seu rosto completamente
deformado, o que não pôde ser corrigido a contento por cirurgias
plásticas, dada a gravidade do acidente. Ainda assim não se deixou
abater, dado seu carisma e coração devotado ao bem de seu próximo,
tornou-se político por imposição do povo.
É, até hoje em
dia, proporcionalmente o vereador mais votado da história de
Cassilândia, obteve 35% dos votos válidos em sua primeira eleição. Para
que tal votação seja superada, hoje, são necessários algo em torno de
4.500 votos! Foi Presidente da Câmara Municipal, uma vez vice-prefeito e
duas vezes prefeito.
Maria Tenório
de Melo, minha avó, a prima de Dodô, faleceu aos 77 anos, no dia 15 de
abril de 1962, em Volta Redonda-RJ, vítima de um acidente, quando
retornava ao estado de Pernambuco, depois de uma visita aos filhos em
São Paulo e Mato Grosso, respectivamente. Ela pretendia fazer uma visita
ao seu primo Tenório Cavalcante, o lendário “Homem da Capa Preta”, em
Duque de Caxias, para onde seguia antes de voltar para sua terra, vez
que na adolescência residira por aproximadamente 4 anos na pequena
propriedade rural de seu tio, pai de Tenório, de quem a mesma cuidou.
Acalentava o
sonho de conhecer um avião, achava, conforme ela mesma dizia:
interessante ver aquelas máquinas voando como pássaros. Seu filho,
Joaquim, sabendo disso a esperou em Jales-SP, no final de 1961, com um
avião de sua propriedade. Lembro-me, como se fosse hoje, de lhe
perguntar se havia gostado da viagem, ela respondeu que adorara, mas que
havia ficado mouca (surda). Este foi o primeiro e único reencontro de
Maria Tenório com Joaquim e sua família, dado o desfecho no Rio de
Janeiro.
Os contatos
anteriores a esse reencontro eram apenas por correspondência, via
cartas, que demoravam de 30 a 60 dias para chegarem ao seu destino. O
sistema de telefonia (interurbano) praticamente não existia, quando
muito se falava de uma capital para outra ou de uma cidade grande para
outra também grande, com demora nunca inferior a 10 horas.
O interurbano
chegou a Cassilândia somente nos idos de 1976, com Pernambuco na
prefeitura, quando fez questão que o então Pároco da cidade, Pe. Jhon
Pace, fizesse a primeira ligação internacional para um parente residente
em Washington, capital dos EUA.
Na sequência, ele próprio ligou para o último governador de Mato Grosso uno, o sergipano José Garcia Neto, em Cuiabá.
Dois dos filhos
de Joaquim Pernambuco enveredaram na política, eu, Luizinho Tenório, em
Mato Grosso do Sul; e o caçula, Francisco de Assis Tenório, no Mato
Grosso. As filhas são educadoras e também moram em Cassilândia.
Concomitantemente a política, fui Fiscal de Rendas até me aposentar e
hoje, enquanto economista, presto consultoria a diversas empresas,
câmaras e prefeituras. Assis é empresário do setor madeireiro com
atividades em diversos Estados do país.
Espero ter sido
o mais esclarecedor possível, é muito bom, mesmo que a distância,
sentir-me com um pé em minha terra, em meu berço! Aos conterrâneos
custodienses um abraço fraterno do sempre sertanejo.
Luizinho Tenório