09 julho, 2020

Cordel "Os filhos de Mestre Lunga e Lindalva"


por 
Luciene Pinto
Custódia
Julho/2020 


Família é célula base 
Estrutura promissora 
Que cultivando instrução 
Cria base propulsora. 

A nossa maior herança 
Ultrapassa o amor 
Glorifica nosso Deus 
Fonte de maior valor 

Esses ensinamentos 
Faz da família provedora 
Que deixará seu legado
Para a geração vindoura 

Mestre Lunga e Lindalva 
Com decência e respeito 
Criaram seus nove filhos 
Felizes e satisfeitos 

Porque com habilidade 
Nortearam os valores 
A bênção era de praxe
Para nossos genitores 

Educação e respeito 
Sempre nos foi exigido 
Desaforo a idosos 
Logo era corrigido 

Nossa família é assim
O maior porto seguro 
Melhor presente de Deus 
Estando claro ou escuro 

Os filhos de Mestre Lunga 
E Lindalva eu apresento
Nessas rimas literárias 
Cada um tem seu assento 

Do mais velho ao mais novo 
Deus estendeu o talento 
Três homens e seis mulheres 
Nenhum ficou ao relento 

A minha irmã Linalva 
Essa é a filha primeira 
Conhecida como Azinha 
Gentil e toda faceira 

Mulher muito inteligente 
Tem a voz encantadora 
Muito bem compõe e canta 
Azinha é grande autora 

Fez hinos pra três escolas
Faz paródia e cordel 
Tem uma mente brilhante 
Também boa menestrel 

Ela é uma crocheteira 
De trabalhos deslumbrantes
Sapatinhos de bebê 
Os dela são fascinantes 

Não poderia esquecer 
As bonecas majestosas 
Que com massa de biscuit 
As deixava estilosas 

Meus amigos e amigas 
Os causos que alembrei 
São lá do túnel do tempo 
Mas confesso que gostei 

Revê-los na passarela 
Em uma ala desfilando 
Tal qual uma aquarela 
As cenas vinham chegando 

Pinturas bem atraentes 
De cenas interessantes 
Estavam adormecidas 
Mas são significantes 

Ao longo desse cordel 
Relatarei causos nossos 
De criança e adolescente 
A inocência eu endosso 

Num passado mais remoto 
Ingenuidade imperava 
Camisola de Azinha 
Que ela muito estimava 

Fumando com as colegas 
A camisola furou 
E com medo de mamãe 
Logo se ajoelhou 

Aflita e de mãos postas 
Pediu a Deus com fervor
Senhor feche esse buraco 
Eu te peço por favor 

Ao vê aquele tormento 
E sem poder ajudar 
As suas duas amigas 
Gargalhavam sem parar

Segundo filho é Nano 
Simples e inteligente 
Foi arrimo de família 
O tempo suficiente 

Otimista e corajoso 
Um mecânico sem igual 
Grandioso motorista 
Na cidade ou capital 

Nano era astucioso
E um dia aprontou 
Mamãe ia a um enterro
De alguém que Deus levou 

Então de longe eu gritei 
Mamãe também quero ir 
Negaram a necessidade 
Que eu tinha de sair 

Nano disse sente aqui 
Procure me obedecer 
Você irá com mamãe 
E vai me agradecer 

Sentei onde ele mandou 
E juro que acreditei 
Enlaçou-me ao tamborete 
Sem agilidade fiquei 

Com toda sua gaiatice 
E com muita esperteza 
Disse agora pode ir 
Use toda ligeireza 

Eu sorria e chorava 
Bumbum preso à cadeira
Os irmãos tirando onda 
Dessa sua brincadeira 

Fiquei muito chateada 
Com toda a sua trama 
Hoje eu posso garantir 
Saudade do panorama 

A Nenê é a terceira 
Integridade em pessoa 
Ela compõe e escreve 
Obras autênticas e boas 

Pratica fraternidade
Sensível e caridosa
Ao tratar o semelhante 
É versátil e habilidosa 

Sem ter sido musicista 
Música sacra Nenê fez 
Criou letra e melodia 
Ambas de uma só vez 

A Década de cinquenta 
Saudade hoje representa 
Lá no oitão da igreja 
Num cinema apresenta 

Filme sobre Amazônia 
Para a cidade em geral 
Meus pais e meus irmãos 
Vendo de forma integral 

No filme surgiu um jipe 
Nenê correu assustada 
Valei-me meu Padre Cícero 
O povo cai na risada 

Correndo se agachou 
Pra atropelada não ser 
A plateia rindo muito 
Fez ela se aborrecer 

Lucinha é a quarta filha 
É a mais calada delas 
Fervorosa em sua fé 
Decidida e não protela 

É artesã de primeira 
Inspirada o bastante 
Na arte com o jornal 
Fez coisas exuberantes 

A luz já foi a motor 
Às dez horas apagava 
Nas noites de lua clara 
O povo aglomerava 

Na calçada a conversar 
A meninada a brincar 
De avião e de rodas 
E nessa rua a pular 

Com senhor Chico Eugênio 
Dona Maria era casada 
Vizinhos e bons amigos 
Ela era bem engraçada 

Sentava-se a calçada
De maneira eloquente 
Contava pra os vizinhos 
Histórias bem pertinentes 

A Lucinha e a Nenê 
De alma tinham temor 
Com o enredo da história 
Elas dormiam sem pavor 

Mamãe só observando 
Na calçada elas dormir 
As babas já escorrendo 
E elas sem presumir 

Que Mamãe astuciosa 
Com ideias afloradas 
Fosse deixá-las lá fora 
Dormindo bem descançadas 

Juntamente com papai 
Esperou o alvoroço 
Ao vê aporta fechada 
Elas teriam um sobrosso 

A zoada dos cachorros 
Fez as duas acordar 
Elas batiam e gritavam 
Mamãe venha nos salvar 

A quinta filha sou “eu” 
Mas tenho que agradecer 
A grande oportunidade 
De essa família ter 

Fazer parte desse tronco 
Felicidade me traz 
Então hoje minha prece 
É pela saúde e paz 

O causo que agora conto 
É da época da lambada 
Lá dentro do casarão 
Houve uma briga danada 

Com o recinto fechado 
E garrafas a voar 
O destino era a rua 
Pra quem quisesse escapar 

Quando a catraca travou
Eu exclamei sem pensar 
Arranca essa molesta 
Pra que possamos passar 

Passando o desespero 
A gente ria e chorava 
E contava a aflição 
Para quem nos perguntava 

Lélia é a sexta filha 
Simplicidade em pessoa 
De tudo sabe um pouco 
Sua bondade ecoa 

Acolhendo a cada um 
Na hora que precisar 
Indo vê-la no convento 
Não deixa nada faltar 

Minha Lélia quis cantar 
Hino da Independência 
Logo então desafinou 
E não perdeu a essência 

Faltou-nos fraternidade 
Na hora que deslizou 
Mas com assertividade 
A voz logo entonou 

Enfrentou o desafio 
Com potência e fervor 
Nem pensou em desistir 
Encarou o dissabor 

Continuou firme e forte 
E dignidade mostrou 
Dando uma bela lição 
A quem dela caçoou 

Sétima filha é Leônia 
De aptidão intelectual 
Na música é afinada 
E tem voz fenomenal 

Uma grande oradora 
Argumentos consistentes 
Holístico conhecimento 
Discurso bem coerente 

Agora eu trago o causo 
Da Leônia a caçula 
Que em tempo de trovão 
De medo perdia a bússola 

Um dia numa procissão 
Na saia de mamãe entrou
Grande foi o desespero
Até que o trovão parou 

Quando o céu escurecia 
Não queria mais brinquedo 
Agarrando-se a mamãe 
Dizendo tremo de medo

E se alguém lhe dissesse 
O mundo vai se acabar 
Mamãe perdia o sossego 
Na hora de se deitar 

Leonildo é o oitavo 
Homem de benevolência 
É fraterno e presente 
E de boa consciência 

Em toda festividade 
Um bom articulador 
Na hora de atividade 
Um grande estimulador 

Uma das prioridades 
É a família preservar 
Instigando o respeito 
Pra união conservar 

A família dos Feitosa 
Morou vizinho da gente 
Maria e seu Anfilófio 
Pessoas convenientes 

Dona Maria querida 
Era uma mulher bondosa 
Figura muito decente 
Cidadã atenciosa 

Ela criava uns pintinhos
Que andavam lá por casa
E o Leonildo levado 
Às vezes extravasava 

Os muros feitos de varas 
Brincando ali livremente 
O traquinas Leonildo 
Não deixou pinto vivente 

Saía bem caladinho 
Com o pintinho na mão 
Levava a Dona Maria 
Que notava boa ação 

Eu encontrei morto ali 
O pintinho da senhora 
Oh meu filho obrigada 
Você veio em boa hora 

Tome um bolinho de caco 
Pela boa atitude 
Que Deus te dê boa sorte 
Por essa sua virtude 

Isso aconteceu apenas 
Numa fase de criança 
O Lelé é um bom homem 
De caráter e confiança 

Não apreciou a vida 
No período da infância 
Mas devo reafirmar 
Toda sua relevância 

O nono e caçula é Hugo 
Autodidata sim senhor
Compositor e cantor 
Continua sendo show 

Já gravou quatro CDs 
Dificuldade encontrou 
Quando montou sua banda 
Muito apoio lhe faltou 

OS AMIGOS DO LUAR 
Nessa terrinha nasceu 
Mas não dispôs do apoio 
Por isso ela decresceu 

Huguinho tem bela voz 
Mas esse ramo deixou 
Como José do Egito 
Outro destino tomou 

Esse gênio nos fascina 
Tanto invento ocultado
Precisa ser descoberto 
Esse talento encantado 

Maquinário que fabrica 
Parece até industrial 
Pena que nossa cidade 
Não dá o valor real 

Entre os quatorze anos 
Huguinho se escapulia 
Buscando sua liberdade 
Corria para a folia 

Quando o açude sangrava 
Juntava-se aos amigos 
Buscando aprender nadar 
Sem o medo do perigo 

E Leonildo medroso 
Sem querer acompanhar 
Dizia logo a papai 
Hugo já foi aprontar 

Com a chegada de Hugo 
Desconfiado ficava 
E Hugo levando bronca 
Ele então se deleitava 

Dia sete de setembro 
Registrou na nossa mente 
O respeito a nossa pátria 
E símbolos que a pertence 

Aquelas saias de pregas 
Eram muito bem passadas 
E demonstrava o cuidado 
De mamãe bem empenhada 

Nossas roupas impecáveis
Cumpriam as exigências 
Sem faltar nada a nenhum 
Mamãe era providência 

E na hora da saída 
Parecia uma galinha 
Puxava sua ninhada 
Pra baixo de sua asinha 

Esse modesto cordel 
Eu fiz com muito prazer 
E compartilho agora 
Querendo agradecer 

Pela atenção de todos 
Com essa literatura 
Passando a filhos e netos 
Parte da nossa cultura 

Salve a nossa família 
Que a humanidade serve 
E os dons vindos de Deus 
Só peço ao Pai que preserve 

O legado dos nossos pais 
Dignidade nos deixou 
Essas mulheres e homens 
A sua raiz honrou 


8 comentários:

  1. Que cordel legal! É muito interessante compartilhar com todos as situações engraçadas vivenciadas por vocês! Parabéns, tia Luciene! O cordel ficou incrível! 👏🏻👏🏻👏🏻

    ResponderExcluir
  2. Boa noite! Parabéns, minha irmã, Luciene Pinto. Você conseguiu juntar as nossas pérolas, que estavam bem guardadinhas nos nossos corações. Esse espírito de unidade que nos mantinham e mantem a nossa família é o nosso bem maior. Seu "causo" é demais: "arranca essa molestia". O medo foi grande! Kkkk

    ResponderExcluir
  3. Família muito conhecida e querida na nossa Custódia.

    ResponderExcluir
  4. Lindo!!! Amei!! Agora cada um dos netos sabe bem a quem puxou.kkkkkk
    Annaflora

    ResponderExcluir
  5. Parabéns pelo Cordel maravilhoso . Eu Amei, relatando uma vida de uma família que estará sempre na memória de Custódia .

    ResponderExcluir
  6. Minha cordelista preferida você foi no túnel do tempo mesmo, não foi? Muito bom, muito bem contado nossos causos de criança,jovem e adolescentes.Tempo em que eramos felizes e sabiamos,tempo que não volta mais, só nas boas recordações.

    ResponderExcluir
  7. Um belíssimo cordel, feito com muito amor e dedicação! A senhora é uma excelente cordelista, titia! Parabéns! ♡

    ResponderExcluir