29 outubro, 2020

O instrumento que toca sem ser tocado - Zé Melo



Há muitos anos atrás – e bota anos nisso, conheci um instrumento musical até hoje praticamente desconhecido. Eu deveria ter pouco mais de dez anos, o que significa que isso deve ter ocorrido no início da década de sessenta.

Apareceu na então pequena Custódia, um “estrangeiro” que se propôs a fazer a apresentação de um novo instrumento musical. Novo, para nós, sertanejos isolados do mundo. Na verdade o tal instrumento fora criado no finalzinho da década de vinte.

O tal “estrangeiro” dizia ser o inventor daquela maravilha, e estava rodando o mundo apresentando aquela maravilha. O local escolhido foi um antigo prédio da paróquia, que servia para uma escola onde Tia Dona, como era conhecida, ministrava aulas, e também chegou a servir de cinema, sendo posteriormente a sede do Centro Lítero Recreativo de Custódia.

A apresentação foi um retumbante fracasso: praticamente ninguém foi assistir ao concerto programado.

Não sei se foi a Prefeitura ou comércio, mas na verdade foi programada uma apresentação pública daquele instrumento. 

De graça, a Praça Padre Leão abrigou muita gente naquela noite, para conhecer o invento. Creio que na época a cidade ainda era servida por energia gerada a motor.

Providenciado o palco – a carroceria de um caminhão - foram instaladas gambiarras para a iluminação, instalado o som da “Duas Américas”, e o espetáculo começou.

O “aparelho” mais parecia uma daquelas antigas caixas de sabão, com duas anteninhas nos cantos, e só.

O apresentador, com forte sotaque explicou aos presentes o que era aquela geringonça. Um aparelho musical que tocava sem ser ”tocado”. Explico: o músico executava seus números sem tocar no instrumento, apenas aproximando e afastando as mãos das anteninhas. Explicou que até trilhas de filmes sucesso de bilheteria foram executadas naquele instrumento.

Após a execução de algumas músicas – todas “estranhas” para nós, simples sertanejos, principalmente as crianças, o “estrangeiro” convidou algumas pessoas para experimentar aquela maravilha. O convidado subia na carroceria do caminhão, se postava frente ao invento e o apresentador segurava-lhe as mãos, aproximando e afastando-as do aparelho, o que produzia sons diferentes.

Lembro bem que o mesmo convidou uma conhecida professora da cidade, já chegada nos anos, solteira e famosa pela “braveza” que tinha com seus alunos.

Não esperando o controle do apresentador, ela aproximou bastante uma das mãos de uma das antenas, o que provocou um ruído fortíssimo, de muitos decibéis.

Afastando-a do aparelho, o apresentou com seu sotaque carregado explicou porque ocorreu aquele ruído tão forte:

- “É que a senhorra aqui ter muita energia guardado na sua corpo, e o aparrelho disparrou toda a sua potência!”.

Hoje, mais de meio século depois, curiosamente o meu cérebro disparou o “replay” das lembranças, trazendo-me essas recordações, e por curiosidade procurei me inteirar do que era aquele instrumento. Apenas recordava o nome do “aparelho” – THEREMIN.

Foi conhecer um pouco mais desse instrumento que ainda é praticamente desconhecido do povo, mas que na verdade é bastante utilizado em gravações e menos em apresentações públicas. Quem desejar conhecer mais é só vasculhar no Google.

Não sei se na verdade o apresentador daquele show era realmente o inventor do Theremin, o russo Leon Theremin, ou se algum divulgador do inventor. “Só sei que foi assim”.

Texto: José Melo Soares

Matéria exclusiva do Blog Custódia Terra Querida. 

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