13 dezembro, 2020

A barraca de Zé de Arnô (anos 70)


Paródia 1 : À la recherche du temps perdu

Cena 1: A barraca de Zé de Arnô (anos 70)

Menino lá das bandas do Umbuzeiro, perto do Soares se não me engano. Depois de ter “sido dado pra criar” retornava da roça para a rua.

A primeira morada foi ali na Rua do Rio, perto do prédio da rádio comandada por “ZÉ MELO” e do Centro Lítero Recreativo de Custódia “CLRC” na Rua da Várzea. Mas isso foi antes da mudança para a Fraga Rocha ali nas cercanias da bodega de “SEU NEZINHO” e mercearia de “CHICO”, homem de baixa estatura, mas gigante de coração.

Nessa época o politicamente incorreto reinava às escâncaras sem, no entanto, trazer consigo a marca da crueldade própria do atual bullying na linguagem estrangeirada. 

Apenas uma limitação vocabular dos habitantes para definir de forma literal o que a vista alcançava.

Era o primeiro Natal já de menino que ainda não vestia calça, porque isso só pra gente grande. Mas mesmo assim, ganhou de presente um sapato cavalo de aço e uma calça boca de sino acompanhado com uma faixa para colocar à cabeça com as cores americanas “do norte”, of course, pois era o auge de influência estadunindense sobre um regime que hoje insistem dizer que não foi ditadura. Mas para uma criança isso em nada desbotava o novo mundo que descobria, pois vivia longe dos efeitos dessas pantominas políticas. Acho até que a maior parte dos adultos. Por medo claro.

O que mais encantou àquela criança naquele natal foi o movimento instalado na praça principal, coalhada de pés de algaroba e banco de cimento rodeados de canteiros sem flores ou vegetação. Terra batida mesmo e uma calçada que se usava para “arrodear” à noite depois da missa e os mais velhos paquerar muito.

Tergiverso. É o período de Natal que importa.

Movimento parecido com praça de alimentação de shopping, agora eu vejo, com as barracas para os homens da cidade poderem ouvir música e encherem a cara durante o dia e à noite, sob a eterna vigilância de um “SABAZINHO” que àquela altura era uma referência dos jovens enquanto para ele, criança, era um mimoso quadrado menos um bar e tornado uma mercearia sob a administração do maior intérprete de Nelson Gonçalves da cidade: João Amaral.

E sob essa a eterna vigilância do “SABAZINHO”, não havia barraca melhor para ouvir as músicas de sucesso da época do que a de “ZÉ DE ARNÔ” (assim mesmo ARNÔ e não ARNOUD, sem afrancesamento, porque quem vencia a guerra cultural de então era a gloriosa américa do norte e sua aliança para o progresso. Apesar que desconfio que o ARNÔ fosse uma corruptela de ARNÓBIO).

Ah que dias eternos aqueles!!!!!. Menino curioso a olhar os jovens e homens inteligentes de Custódia sentados na barraca de “ZÉ DE ARNÔ” a se empanturrar de cachaça e cerveja, esperando o tempo passar para depois das festas poderem voltar a beber no “PONTO CERTO”, outro bar memorável sob a gestão de “DETA”. 

Mas isso só tinha graça depois de passado o Natal, porque naquela semana o reinado absoluto era de “ZÉ DE ARNÔ”.

Por Um Custodiense....

 

3 comentários:

  1. Como é bom lê esses relatos. Voltei à minhas origebs e e infância.
    Maravilhosa descrição da nossa Terra Querida.
    Saudades.

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  2. Marcou época, a Barraca de Ze de Arnoud, pione9que abriu o caminho para dezenas de outras, com o crescimento das festas de ruas.

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  3. Tinha até outras barracas, mas a de Zé de Arnô, foi a que pegou(rimou). Eu desconfio que as barracas, principalnente a de Zé de Arnô, exercia um encantamento, que era a novidade, a coisa diferente do cotidiano, contrastando com os bares de destaque da cidade, que naquele momento era o Ponto Certo de Deta, o Bar de seu Chiquinho, Sabazinho e outros de menor destaque. Fico me questionando o que oferecia aquelas barracas, além da novidade? Não existia água encanada, não tinha toalete, não tinha cozinha, porém, como falei acima, era a novidade. Parabéns! Para o autor do texto, que optou por não identificar-se.

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