Lá pras bandas de Custódia, no coração quente do sertão pernambucano, quando o sol rachava o chão e o vento trazia cheiro de terra molhada, vivia um menino magricelo de uns sete anos de idade — curioso e cheio de imaginação. Era eu mesmo.
Naquele tempo, a cidade era pequena, mas cheia de personagens grandes, daqueles que a gente nunca esquece. Um deles era o Sargento Jorge Arruda. Homem de presença!
Barrigudo, bigode grosso, farda apertada, revólver na cintura e uma conversa que prendia qualquer um do começo ao fim. Quando ele começava um “causo”, ninguém arredava o pé.
Eita homem que gostava de contar história!
Dizia, com a maior firmeza do mundo, que tinha brigado com Lampião, o cangaceiro mais temido do Nordeste.
— Eu meti foi taca em Lampião, menino! — dizia ele, batendo no peito. — E quando ele tava se levantando, eu gritei: “Aqui é família Arruda, aprenda a respeitar!”
E o povo, mesmo duvidando, ficava quieto… porque o Sargento Jorge falava com tanta convicção que até o vento parava pra ouvir.
Meu pai, seu Dede do Sítio dos Nunes, era o que ele chamava de “inimigo número um” do sargento. Ninguém sabe direito o porquê — talvez política, talvez orgulho de homem sertanejo.
Mas o mais engraçado é que, mesmo dizendo que não tinha medo, quando tomava umas pingas a mais, chegava em casa e soltava a pérola:
— Tô todo cagado de medo de Jorge!
E ria, completando:
— Jorge, vem me limpar!
Era o jeito dele de tirar onda do medo que não queria admitir.
Diz o povo que um dia o Sargento Jorge prendeu meu pai, mas não durou muito. Parece que até a cadeia respeitava o humor de seu Dede.
E mesmo com essa “inimizade” dos grandes, lá na Rua da Várzea, nós, os pequenos, éramos amigos dos filhos do sargento — o Bebé, Edmilson e mais uma porção deles.
Brincávamos juntos, correndo no barro, dividindo bola, pão e segredo. Porque, no sertão, as rixas dos adultos não impediam as amizades das crianças.
No fundo, o Sargento Jorge era um homem justo, desses que pareciam ter nascido pra fazer justiça com as próprias mãos e com o coração.
Diziam que ele não era de Custódia, que tinha vindo lá de Triunfo, mas acabou se enraizando ali, entre as histórias e o respeito do povo.
E até hoje, quando lembro dele, imagino o homem de farda, com o revólver pendendo na cintura e a voz grossa dizendo: Aqui é família Arruda!
E fico pensando: se ele brigou mesmo com Lampião, ninguém sabe…
Mas que ele brigou com o destino e venceu na memória da gente, ah, isso ele venceu.
Por Jânio Queiroz
São Luis-MA
Outubro/2025
Por Jânio Queiroz
São Luis-MA
Outubro/2025
Lembro bem de seujorge na rua da varzea quando agente ia jogar no capim da varzea voce se lem bra Jânio boa lembrança
ResponderExcluirHistória que custódia já viveu muito importante para as novas gerações
ResponderExcluirParabéns Paulo perteson grande divulgador da cultura nordestina
ResponderExcluirComo lembro, meu pai nao falava com ele!! Mas vivíamos na casa dele! E ele nao estava nem aí brincava com agente! Ao ponto que Solange nossa irmã! É madrinha da neta dele...a filha de Adélia foi fundo agora essa recordação!!!
ResponderExcluir.
Seu Jorge, me lembro dele, no CLRC
ResponderExcluirTinha um bar. Vendia bebidas, gente boa
Seu Jorge.
Conheci muito bem Jorge Arruda desde o início quando era Sd da PMPE, como também toda sua família inclusive tinha um filho de nome Antônio Arruda que era PM também, um dia levei um corte no pé e ele falava que tinha prática de técnica de enfermagem e se dispôs a fazer um curativo no meu pé e ao invés de colocar gases colocou algodão rsrs. O resultado foi trágico para limpar o ferimento com esse algodão agarrado no dia seguinte.
ResponderExcluirLembrança inesquecível.
Marcos Moura
Custódia-PE
Lembro de Seu Jorge, Pedro Vito. No parquinho Ernesto Queiroz, saudades daquele tempo.
ResponderExcluirBom dia! E com emoção, li está linda história pra minha mãe, viúva de Floriano Arruda, que foi registrado quando pequeno, filho de seu Jorge Arruda, meu avó, não o conheci, assim como, meu pai também não conviveu a sua infância, adolescência e adulto, meu pai venho a conhecer seus irmãos em 2014, a 11 anos atrás, faleceu em 2022. É grande a emoção, lendo essas memórias, meu pai também era um contador de causas, e nós filhos temos muito orgulho dele, pessoa honesta e grande pai, saudades eternas. Nossos aplausos, por nos dá um pouco de conhecimento, de como era seu Jorge Arruda, meu avô.
ResponderExcluirSou neto do grande Jorge Arruda, não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas, tive a oportunidade de conhecer quase toda a família, policial militar assim como ele, eu as vezes trabalhando em custódia, conseguir realizar o sonho do meu pai que era conhecer a família Arruda. Ele saiu de Serra Talhada ainda garoto, e conheceu apenas seu pai, como também seu irmão Antônio Arruda, que também era policial militar. Me sinto muito grato por fazer parte dessa belíssima família, e também de ter dado ao meu pai (FLORIANO ARRUDA) a oportunidade de conhecê-los. Meu pai hoje não está entre nós, mas sei que partiu muito feliz, por ter encontrado sua família.
ResponderExcluirSeu Jorge, sempre contava essa história, eu lutava lado a lado com meu irmão nos combates com Lampião. Ele também tinha um filho militar, que se chamava Antônio Arruda (Toinho)
ExcluirMeu nome é Lilia,tenho muito orgulho do meu vô Jorge,eu tive o privilégio de conhecê-lo é também ele pegou meu filho com colo que tinha 2 anos e 6 menos,mim lembro como se fosse hj,quando pegou seu bisneto nos braços,olho pra mim e falou? Uma criança com outra criança nos braços kkkk meu avô era muito respeitado é amado por tudo família❤️ mim lembro dele todos os dias,Te amo pra sempre meu avô amado
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