15 outubro, 2020

[ISTOÉ GENTE] A mulher que viu Lampião


Fabiana Moraes
de Recife (PE)



Pernambucana de 95 anos tira anotações do baú e lança livro com histórias do sertão.

Sob o sol forte do sertão do Pajeú, em Flores, a 386 quilômetros de Recife, no sertão de Pernambuco, centenas de pessoas aguardavam um dos dias mais importantes na história da cidade: a chegada do primeiro automóvel ao local, em 1916. Tudo havia sido preparado com cuidado, nos mínimos detalhes: banda de música, bandeirolas coloridas e vigário para abençoar a novidade. A bordo do carro estava o então governador de Pernambuco, Manoel Borba.

Essa e outras histórias estão no livro Flores, Campos, Barros e Carvalho – Olhando Para o Passado Até Onde a Vista Alcança, da funcionária aposentada do telégrafo de Flores, Maria Stella Siqueira Campos, 95 anos. “Nunca passou pela minha cabeça lançar um livro e fazer sucesso”, diz a autora. 

A família está reunindo documentos para provar que Maria Stella é a autora estreante mais velha do mundo. Caso obtenha êxito, ela ganha um lugar no Guiness Book, o Livro dos Recordes.

A presença do primeiro automóvel no sertão fez barulho, literalmente. Maria Stella, filha do coronel João Nascimento e de Maroca, tinha 12 anos quando presenciou o fato. “Tinha gente que corria para se esconder no mato, como se estivesse vendo uma assombração ou a besta-fera”, relembra ela, que vive com a filha Maria Helena, de 76 anos.

O Rio Pajeú aparece várias vezes na publicação. Foi brincando à margem dele, em 1918, que a escritora pôde ver as sombras e ouvir as vozes do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião. “O rio ficava no quintal da minha casa. Eu estava perto dele quando vi, de longe, o bando passar. Escutei tiros. Lampião havia assassinado um homem que trazia um ofício às forças volantes, informando que o bando encontrava-se na região”, recorda.

Lampião ainda protagoniza uma das histórias mais interessantes do livro. Conta-se que ele havia decidido atacar o município de Custódia, próximo à cidade dos Siqueira Campos. O cangaceiro mandou um garotinho até a cidade para verificar quantos soldados havia no quartel ou na delegacia. Ao voltar, o menino anunciou: “No quartel, só tem cem”. Temeroso com o grande número de macacos, maneira pela qual chamava os guardas, Virgulino desistiu da invasão. O que ele não sabia é que Cem era o apelido do único soldado presente no quartel naquele dia.

Materia publicada originalmente na Revista Isto é Gente, em 22 de Novembro de 1999, enviada por José Soares de Melo.

LINK do texto na Istoé Gente: AQUI


Um comentário:

  1. Nossa memória, adormecida, precisa só de um fato para despertá-la.
    Neste postado se fala de Barros Carvalho.
    Menino, ainda em Custódia, colei nos postes e paredes da cidade, muitos cartazes com o retrato de Barros Carvalho, candidato a Governador, creio que contra Cid Sampaio que ganhou de goleada.
    Lembro de uma quadrinha que rolava contra o candidato do PSD:

    "Adão foi feito de barro,
    de um barro bom e batuta.
    Mas esse Barros Carvalho,
    É um barro "fela" da puta.

    Naquela época, a gente ganhava pouco mas se divertia.
    Fernando
    Ilheus/Ba

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