20 outubro, 2021

Coisas que não se esquecem jamais - por Joaquim Belo

Foto: Cristiano Jerônimo

Custódia naquela na década de cinqüenta não tinha médico, pelo menos eu nunca ouvi falar, lembro que quando João – um dos meus irmão – quebrou o fêmur foi levado para Sertânia na fubica de João Correia. Minha mãe, Dona Julieta Januária, mais conhecida como dona Jília, era hipocondríaca, razão pela qual tinha um cuidado excessivo com a saúde nossa e um profundo conhecimento de remédio caseiro e era natural que tivesse uma aproximação muito grande com Dona Corina e Sêo Joaquim Pereira dono da farmácia da cidade, depois com o casal Zé Burgos e Dona Noêmia, que também eram donos de farmácia, pessoas de boa índole que se tornariam depois padrinhos do meu irmão Paulo. Tinham sempre algum remédio sobrando em nossa casa, morávamos numa casinha de taipa que ficava numa confluência do terreno de D. Izaac de Manoel Lopes, pais de Joãozinho o maior jogador de sinuca que já vi. Eu menino um pouco levado aproveitando a ausência de minha mãe peguei um vidro cheio de comprimidos engoli uma parte e o resto eu os joguei num buraco de rato afirmando que era aquele animalzinho o responsável pela façanha, até que poderia dar certo se não fosse eu começar a passar mal com um acesso interminável de vômitos. Graças aos préstimos e conhecimentos farmacêuticos de dona Corina e Sêo Joaquim Pereira, é que estou aqui contando o caso.

A situação estava braba em Custódia e meu pai resolveu mudar para o distrito de Betânia, como não tinha emprego foi tirar dormentes para meu tio Pedro Roberto vender a Rede Ferroviária do Nordeste. Lembro bem a viagem, nunca tinha andado de carro, à medida que o caminhão andava, eu tinha a impressão que eram as arvores quem se moviam. Chegando a Betânia, não sei por obra e graça de quem, nós fomos morar em um dos cômodos de uma escola, denominada Escola Típica Rural, a outra sala funcionava a sala de aula em outro cômodo morava a professora dona Maria do Carmo Moreira, que era de Flores ou Triunfo não me lembro bem, foi nessa escola que nasceu minha Irmã Maria Inez, a escola ficava situada entre a chácara de Sêo João Daniel e a vila de São Gonçalo, São Gonçalo era um povoado abandonado, parecia uma cidade fantasma, as casinhas, a usina e os depósitos onde eram armazenados os maços de fibras beneficiadas do caroá. 

Todo esse patrimônio pertencia à firma José de Vasconcelos, destacava-se uma casa muito boa avarandada, já um pouco deteriorada pela ação do tempo. Lá morava uma senhora com as filhas, ela tinha um nome esquisito parecido com Dona Tapuia. A situação foi melhorando e fomos morar no centro da vila em uma casa ao lado da residência de Sêo Pedro Pereira e dona Julieta, ele comerciante e irmão de Joaquim Pereira dono de farmácia em Custódia. Meu pai Augusto Belo tinha um único vício na época jogar baralho, graças a Deus não bebia, se não eu não estava hoje aqui contando essa estória, pois eu não era referência em comportamento para qualquer criança, e pai não dava refresco a peia rolava solto e quando ele não se saia bem no carteado a dosagem era em dobro.

Quando era uma dose cavalal eu me refugiava na casa de Major Zé Miguel e era bem acolhido por Doma Mariinha, a outra opção era na casa de Dona Julieta de Sêo Pedro Pereira, era lá onde eu encontrava a cura para a dor física e da alma. Em janeiro de 1957, meu pai já como Guarda Arrecadador, graças à ação do deputado Olimpio Ferraz. Tempo depois, já morando em Sertânia, voltei a Betânia em companhia do Veterinário José de Sousa Leal, em uma de suas viagens de trabalho, aproveitei para visitar aquelas almas boas. Dona Mariinha já estava no reino de Deus e Dona Julieta estava em uma cadeira de rodas vitima de um derrame cerebral, já não conseguia articular com clareza as palavras, porém as lagrimas que rolaram de seus olhos quando eu lhe abracei, foram bem mais significativas do que qualquer palavra e posso dizer que foi um dos momentos de maior tristeza que já passei, mas foi também uma das maiores emoções passei em toda minha vida.

Por Joaquim Belo

4 comentários:

  1. A CIDADE E O JUIZ ESTA DE PARABEMS

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  2. Sr. Joaquim Belo, que história bem vivida, Parabens! Só conheço Custódia de nome sou de Recife...amei ler.

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  3. Joaquim lembro de você sendo de um time de futebol juvenil.Eu tinha em torno de sete anos. Mas ainda lembro dos seus pais e de seus irmãos, José,Maninho e Antônio. Dos outros, não lembro. Moro em Serra Talhada,onde sou médico há 47 anos. Espero reencontra- logo e saber notícias de seus irmãos.

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