A infância é uma época que nos deixa grandes lembranças, algumas marcantes. Dentre elas, o futebol teve seus grandes momentos, alguns eu diria inesquecíveis, outros bastante engraçados. Os inesquecíveis foram as peladas jogadas na frente de casa, na avenida Inocêncio Lima; lembro também dos jogos no campo do 15(onde hoje é a residência da família Gonçalves); e com o time do Teimosão(formado por jogadores idosos ou fora de forma) nas manhãs de sábado e domingo campo da AABB. Como espectador, a ida a partidas de futebol no Recife com meu pai para ver jogos do Sport Clube do Recife; por aqui, ir aos domingos no estádio Carneirinho assistir partidas do Tambaú e Portuguesa.
Em 1984, o município participava do Campeonato Arcoverdense de Futebol. Nosso representante era o time da Portuguesa, os destaque do time: Jorge Amador, Nadilson Santos, Luciano, Marcos Ramalho, Derni, Tonho de Duquinha, Franciélio, Valdemir, entre outros.
A Portuguesa chegou a fazer uma boa campanha. A cada nova vitória, crescia o número de pessoas que iam para Arcoverde assistir os jogos. A maneira de ir aos jogos era em cima de algum carro aberto, em ônibus cedido pela Prefeitura, ou arrumar um carro particular e bancar o combustível.
Num desses domingos, contagiado pela multidão que se aglomerava na frente da antiga prefeitura, resolvi pedir autorização ao meu pai, para ir a esta aventura futebolística. O difícil foi arrumar vaga, meu pai arrumou um jeito, pediu ao seu amigo Chico Macaco, para me levar em seu carro particular, ficando ele dessa forma, como responsável, por eu ser menor de idade. Chico tinha um lindo Opala, cor vinho, brilhante que dava gosto.
A ida foi tranqüila, chegamos por volta das 13h, tempo para assistimos a partida preliminar entre a Portuguesa juvenil e o Vasco local, nosso esquadrão goleou por 5×3. Tudo estava dentro do script, o domingo seria de felicidade total. Mas não foi isso que aconteceu, o clima ficou tenso entra as torcidas já na partida preliminar.
Tudo começou com uma guerra com bagaço de laranja, atiradas de um lado para o outro. Para completar, dentro de campo, um de nossos jogadores cuspiu no rosto de um jogador time local. Foi ai que começou uma verdadeira batalha campal. Em campo, os jogadores trocavam tapas, um dos mais perseguidos era Neguinho Luciano. A torcida inflamada pelo que assistia dentro do campo, resolveu intensificar a guerra com as laranjas, o estádio virou um verdadeiro pandemônio.
Era briga dentro e fora do campo. Chico Macaco provocado por um torcedor local, se achando protegido dentro dos seus domínios, não aguentou as provocações, entrou na torcida adversária, trazendo o sujeito para fora do alambrado, em seguida brigando com ele.
Meu Pai em casa jogava baralho na maior tranqüilidade do mundo, quando inventou de ligar o rádio justamente nesse momento da partida. Ficou aflito quando escutou os locutores dizendo que o jogo tinha sido interrompido por confusão entre os jogadores e com as torcidas.
Chico Macaco terminou preso depois da agressão, meu desespero foi grande ao término da partida, sem saber como retornar para casa. Procurei carona em todos os carros que retornavam para Custódia, em vão, todos estavam lotados. O desespero ia aumentando conforme a noite chegava. Fui salvo por um rapaz que veio conosco no mesmo carro. Porém, nem tudo estava resolvido. Rumamos junto com toda a torcida custodiense para frente da delegacia, onde nosso querido amigo Chico estava preso. Foi muito hilário, a multidão gritando na frente do prédio, em uníssono “solta, solta, solta…”.
Por sorte, o agente de plantão era Cesar Porfírio, custodiense. Quando Chico saiu do prédio, parecia que havia acontecido um gol, a multidão foi ao delírio. Ainda enfrentamos um pneu furado na viagem de volta, mas graças a Deus chegamos em casa são e salvos.
Só a título de informação, a partida principal acabou 0x0.
Um domingo futebolístico para nunca mais esquecer.
Por Paulo Peterson - 23/10/2008
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