Foto: Acervo da Família.
A juventude é uma fase da vida tão marcante, que muitos se referem a ela com: “no meu tempo”. Ela é muito significativa, porém bastante efêmera. É aquela coisa, “o que é bom dura pouco”. A minha juventude insiste em ficar cada dia mais distante, porém as lembranças lá da década de setenta são combustíveis que a mantém viva nas minhas memórias. Muitas vezes, envolto em pensamentos que levam aos meus verdes anos, tenho plena consciência de que fui um cara privilegiado. Vivi com intensidade uma juventude quase rebelde, lúdica, carregada nos prazeres inerentes à idade, como dançar, cantar, tocar, beber, conversar, namorar, jogar futebol, foram verbos bem conjugados na minha rotina de pouquíssimas preocupações ou quase nenhuma. Bem, a grande importância disso tudo, foi o compartilhamento junto aos diletos amigos e amigas que comungaram comigo nessa grande trajetória festiva, onde teve como território geográfico principal a minha amada cidade de Custódia. Todos eles estão representados nessa crônica. A maioria da minha turma estudava em Recife, residindo em casas de estudante ou em pensões modestas, mas nossas cabeças e pensamentos estavam sempre apontados para nossa cidade e, com certeza, isso interferia no andamento escolar. O Centro Lítero Recreativo de Custódia foi um templo festivo para todos nós, como também um espaço facilitador para o início de muitos namoros. Palco de carnavais inesquecíveis e de festas memoráveis organizadas em sua maioria por Zezita Queiroz, mas não devemos esquecer outros presidentes atuantes, caso de Sílvio Carneiro, Aparício Feitosa (Chandinha), Reginaldo Rafael, João Ivonaldo, Natalício Vieira, esses que lembro no momento que escrevo. O campo de futebol, batizado de Carneirinho, justamente por ter sido construído na administração do Prefeito Silvio Carneiro e concluído no ano de 1972, atraia multidões de espectadores aos domingos à tarde, para ver o futebol custodiense que naquela década inteira foi destaque em nossa cidade. E os bares? Ah! Esses foram muito presentes em nossa juventude. O Sabazinho, construído entre 1968 e 1969, ainda frequentamos, mas seus dias de glória haviam passado. O Ponto Certo, até pela sua localização em frente à Praça Padre Leão, era um “point” para os jovens da época. Seu proprietário era Jeferson Alves de Queiroz Filho, o amigo Deta. Funcionou de 1971 até 1973. No ano seguinte mudou a localização, porém, sem o glamour inicial, acarretando a ida de Deta para capital do Brasil. No ano de 1977 o amigo Lourival Barros abriu um bar na Rua Luiz Epaminondas. Não tinha muitas pretensões, mas passamos a influenciá-lo a transformar o espaço que era bastante imenso, em uma discoteca. Justamente porque era uma febre mundial naquele momento. Ele encampou nossa ideia, fez uma pista de dança e não demorou para ser um grande sucesso. Foi quase uma revolução em termos de transformar em pouco tempo um armazém em uma boate com jogos de luzes, decoração, música popular brasileira de boa qualidade, como também os sucessos de Bee Gees, Michael Jackson, Donna Summer, ABBA, e os dançarinos inspirados em John Travolta e Olivia Newton John, embalavam os sábados e domingos à noite com muita alegria em um CASARÃO superlotado. Abro um parêntese para falar de um bar muito especial. Com início por volta de 1974, o bar de seu Chiquinho de Panfila foi um local emblemático para toda aquela moçada, que às onze da matina já estava ávida para iniciar as reuniões etílicas. Isso durante as férias estudantis ou nos feriadões, quando íamos da Capital para Custódia, geralmente aventurando caronas na BR 232. Realmente, essas caronas é um capítulo à parte em nossas viagens ousadas, muitas vezes sofridas, mas, com a maior certeza, prazerosas. Quero fazer um preito de gratidão ao casal que, por quase uma década, foi tão generoso com todos nós. Seu Chiquinho e Dona Pura, obrigado por segurar tantos “pinduras” dessa turma tão descapitalizada, mas que no final dava tudo certo. O fiado era uma cultura, quase uma “instituição” em épocas passadas. Quando se ia até a padaria, era comum levar a caderneta para anotar a compra que era paga no final do mês. Como também as feiras que eram feitas nas bodegas. Um detalhe, não havia ainda supermercados. Me recordo que em uma farta bebedeira, acompanhada de batucadas e muitas conversas, estava o nosso amigo Josimar Siqueira, o querido Josa. Policial da Rodoviária Federal, era com certeza o destaque em termos financeiros no meio daqueles jovens e pobres estudantes. Esse detalhe deu até uma certa segurança para seu Chiquinho, esboçado claramente em seu semblante tranquilo e sereno, com os cotovelos sobre o balcão a nos observar. Em dado momento, após várias saideiras, decidimos levantar voo até outras paragens, então, pedimos a “dolorosa”. Era assim que chamávamos a conta e pela quantidade de garrafas de cerveja em cima da mesa e no chão, com certeza estava fora do nosso padrão de consumo. Seu Chiquinho deixou sobre a mesa o papel da conta com tudo discriminado e retornou ao balcão. Josa antecipou-se a todos nós e puxou a carteira do bolso traseiro da bermuda branca. Sinceramente, eu nunca tinha visto ao mesmo tempo uma carteira tão gorda e seu Chiquinho tão contente. Nesse exato momento, pularam três na direção de Josa, seguraram em sua mão e falam bem alto e quase ao mesmo tempo. “ôxe! Tais doido? Tu aqui não paga nada, tu és nosso convidado” Em seguida voltamos para seu Chiquinho, que certamente já estava em outro estágio, e falamos. “Seu Chiquinho, anote aí que depois a gente paga” Bem, a gente pagava mesmo, mas à vista é sempre melhor para o dono do bar. E o fígado que Dona Pura preparava com tanta maestria? Inigualável. Ainda hoje guardo lembranças daquele sabor de um tempero mágico no paladar da memória. Havia com certeza algum segredo naquela iguaria, alguma ciência. Sem falar na costelinha suína que ao lembrar dar água na boca. Todas as vezes que retorno à minha cidade, passo na Rua Nemesio Rodrigues com casas e espaços totalmente modificados, e fico procurando identificar o local onde fomos tão felizes. Gratidão “in memoriam” ao Seu Chiquinho e Dona Pura, pela paciência e por nos acolher tão bem naquele local inesquecível para todos nós que fizemos parte daquela juventude dourada, juventude paz e amor dos anos setenta.
Texto
Jorge Remígio
Recife-PE
Janeiro/2022
Fotos da Juventude Dourada
Carnaval de 1979 no CLRC. Podemos identificar Socorro irmã de Salene, Carminha, Jorge Remígio, Walkiria Góis, Lula Epaminondas, Rosane Souza e Lucidalva esposa de Marcos Ramalho.
Julho de 1979 na Praça Padre Leão.
Atrás. Otacílio Góis, Marcelo Burgos e Jorge Remígio.
Na frente. Enildo Pires, Fernando José Carneiro e Antônio Remígio.
Janeiro de 1977
Aprovação de Fernando José no vestibular.
Na foto: Graça de Geni, Nerice, Nita, Neli Aleixo, Nobinha Amaral e Hiran Burgos.
Agachados: Cláudio Simões, Tadeu Burgos e Jorge Remígio
Comemoração da aprovação do vestibular de Jorge no bar de seu Chiquinho com alguns amigos em Janeiro de 1976.
O primeiro na foto é: Nivaldo Marcolino, depois Jorge Remígio, João Vital, Elijário, por trás o casal seu Chiquinho e dona Pura, a criança é um dos filhos de Zé Virgínio, Marcos Viola, Otacílio Góis, Luciano Veríssimo, Rui Rezende e Zé Virgínio
Jorge e o amigo Otacílio Góis, quando foram aprovados no vestibular e a comemoração foi no bar de seu Chiquinho
Time do Tambaú de Custódia.
Foto do ano de 1979.
A esquerda: goleiro reserva, era de Arcoverde, Chico de Antuza, Luciano Góis Veríssimo, Celso Bezerra, Bel Mariano, Edmilson, era do Recife, Zé Esdras Góis e Antônio Eli Constantino.
Agachados. O primeiro era de Arcoverde, seguido de Brasília, Jorge Remígio, Reginaldo do Projeto Sertanejo, o seguinte era de Serra Talhada e Evaldo Simões. O Tambaú foi campeão no ano anterior.
Nesse ano de 1979 o campeão foi o Independente que era de Sinval Vaz.
Santa Cruz de Custódia.
Foto em julho de 1973.
Na a esquerda em pé: Urbano Rafael, Josimar Siqueira, Jorge Remígio, Ferdinando Feitosa, Nego, irmão de Ozinaldo, Rui Rezende, Elione Rodrigues e Deda cunhado de Zé de Arnoud.
Agachados. Zezinho Freire, Bartolomeu Quidute, Evaldo Simões, Antônio Eli Constantino, Fernando Vitor e Zé Esdras Góis.
Praça Padre Leão no dia primeiro de janeiro de 1974.
Havíamos raiado o dia na famosa barraca de Zé de Arnoud, que está a esquerda por trás da foto.
Dr. Pedro Pereira, Otacílio Góis, Marcelo Burgos, Jorge Remígio e Zezinho de Joci. Um detalhe. Pedro nos encontrou por acaso naquele momento.
Praça Padre Leão no ano de 1978.
Segundo prédio após a Farmácia Pinheiro, funcionava o Bar Ponto Certo.
Foto na parede do açude do DNOCS em julho de 1973.
Na foto, Lírio Pereira, Urbano Rafael, Zezinho Duarte, Nadja Simões e Cláudio Simões.
Atrás, Jorge Remígio
Festa Nipônica no CLRC. Vanúzia Bezerra, Zezita Queiroz e Evanúzia Rodrigues.
Festa Nipônica foi em 1970
Festa da Cigana no Ginásio Padre Leão em 1970.
Lírio Pereira, Lúcia Gois e Célia Feitosa.
Carnaval no CLRC em 1979.
Da esquerda. Aruza Torres, Elzir Valeriano, Ana Cluadia Remígio, Rejane Medeiros, Flávia Epaminondas, Irlene Moises, Eliane Remígio e por trás, Genival Mariano.
Carnaval de 1973 no CLRC. Tadeu Burgos, Otacílio Gois, Célia Semião, irmã de Baiá e Marcelo Burgos. Atrás da foto estão Maggi, não se é assim que se escreve, Rita Amaral e o esposo Deusinho, Guilherme Andrada e dona Elisa Queiroz.
Foto na Palhoça de Kida Aleixo.
Inaugurada em dezembro de 1976, funcionou por quase quinze anos. Localizada no bairro da Pindoba, ao lado da BR 232, atraia as pessoas da cidade por ter um famoso peixe tilápia assado e uma deliciosa iguaria, que era o xerém com galinha.
Na foto a esquerda, Célia Feitosa, Jorge Remígio, Zezinho Freire, Rui Rezende, Otacílio Gois, Geni Lira e Tadeu Burgos. Dezembro de 1976.
Jorge, começamos um pouco antes, no Ponto Certo.Onde Deda nos atendia muito bem. Depois jogamos futebol várias vezes e tomamos umas no Bar de Seu Chiquinho.Depois vir morar em Serra Talhada. Isso nos afastou ,mas a amizade continua com todos.E sempre me sinto feliz, quando nos encontramos. Há 2 anos estamos um pouco afastados, por essa epidemia. As lembranças são grandes de alguns que já se foram. Gosto muito de Custódia e de todos os amigos e amigas que tive o prazer de fazer, por aí. Meus parabéns, pelo modo como você escreveu essa crônica.
ResponderExcluirFerdinando Feitosa
Irretocável a crônica de Jorge. Como já disse nesse blog, Jorge Remígio é sem dúvida nenhuma um dos mais talentosos colaboradores do blog. Seus textos limpos, são verdadeiros registros das várias épocas que vivenciamos na saudosa Custódia de ontem. Parabéns Jorge, e que venham novas crônicas para deleite dos internautas. J. Melo
ResponderExcluirUma viagem para os jovens da época!Sem dúvidas um presente do escritor Jorge Remígio, para todos os jovens da época! Eu diria que É um acalento para todos.Justamente em momento tão tenebroso em que vivemos hoje.
ResponderExcluirParabéns amigo Jorge, suas crônicas nos remete a uma época maravilhosa da nossa juventude. Muito obrigada pelas boas recordações do bar dos meus pais Sr Chiquinho e D.Pura!
ResponderExcluirParabéns querido e inesquecível Jorge Remigio. Sempre foste um intelectual desde a década de 60. Fantástico a sua descrição. Seu texto nos sensibiliza com fatos e viajamos no túnel do tempo. Éramos felizes. Sem palavras para descrever tudo que sinto. Obrigada por propiciar este momento de saudades e prazer. Que Deus te dê muitos e muitos anos de vida com saúde, para termos você conosco por muitos e muitos anos. Gratidão Gratidão Gratidão. Abraços da sua amiga que te admira muito. Sou sua fã LUCIA GOIS
ResponderExcluirTive o prazer de viver essa época em Custódia (final dos anos 70 e metade da década de 80).
ResponderExcluirÔ terrinha boa e hospitaleira!
Fiz uma verdadeira viagem ao passado com essa crônica tão brilhante e rica em detalhes.
Parabéns Jorge Remigio pela matéria!
Parabéns amigo Jorge. É uma viagem no tempo. Por vários motivos, entre eles trabalhar muito cedo, não vivi tão intensamente como vocês, mas acompanhava de longe e sentia-me feliz em ver a alegria de todos.
ResponderExcluirEita! Retratou com perfeição as épocas bem vivida da juventude Custodiense. Me vi...revivi. Parabéns Jorge!
ResponderExcluirEita Jorge, pela amizade que temos me vejo inserido nas suas histórias. Embora nascido em épocas diferentes já conversamos muito sobre essas vivências. Tive a honra de conhecer Custódia e a casa de seu Claudionor e dona Osanira na praça Padre Leão. Grande abraço Jorge meu irmão.
ResponderExcluirFoi muito prazeroso viajar nessa crônica, viajei no tempo, vivi momentos parecidos com os de Jorge e sua turma, na época, vivemos momentos diferentes, ele tendo uma idade com diferença de 5 anos de diferença, na época era muita, hoje temos os gostos parecidos e vivemos as mesmas coisas.
ResponderExcluirParabéns, meu amor, é prazeroso ler suas crônicas!
Elzir Valeriano
Fomos muito felizes
Caro Jorge,
ResponderExcluirRevivi muitos desses lugares descritos em sua crônica, com uma imensa saudade... Amo Custódia e não me canso de expressar esse amor por onde quer que eu vá. Guardo lembranças inesquecíveis do Casarão, por ter sido a grande novidade da época e a primeira boate a frequentar com minhas amigas adolescentes. Contudo, não era fácil se esconder da ronda policial, por conta da pouca idade da turma, mas, Lourival, sempre dava um jeito de nos esconder embaixo do balcão ou das mesas ( Risos).
Cheguei a ir a palhoça de Kida umas três vezes, papai controlava nossas idas e vindas nas festas e diversões dos finais de semana. A gente só ia com alguém da confiança dele. Conheci o bar de Deda, em sua segunda versão.
Quanto ao clube, guardo uma infinidade de lembranças dos carnavais, dos festivais de chopp, das feijoadas beneficentes, dos bailes de formatura, da música eletrônica que acontecia aos domingos. Das festas juninas, das serestas, das reuniões política e da contagem de votos, nas eleições...De um show de calouro, do qual participei, na década de 70, tendo Zé Melo, como responsável pela organização e locução.
Nossa, quantos devaneios...
O futuro parecia tão distante nesse pedacinho de chão chamado Custódia. Então, é isso, Jorge, você resgatou, num
lindo relato
um passado de muitas memórias, que nos fez ir bem longe... ao túnel do tempo, numa viagem suave, prazerosa e inesquecível.
De volta ao presente,
seria redundância dizer que sou sua fã?
Um abraço,
Leônia.
A década de 1970 foi sem dúvidas para nós que a vivemos mágica, divertida e encantada. Sou remanescente desse período. A juventude é página de um livro bom como diz bem a música e quem a viveu intensamente é um privilegiado. Parabéns ao amigo pelo artigo e obrigada por me relembrar tempos tão felizes e saudáveis. Em Lavras vivemos essas mesmas histórias.
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