06 outubro, 2021

A Custódia que eu vivi - por Joaquim Belo



Por Joaquim Belo da Silva

A custódia dos meus tempos, lá pela década de cinqüenta, era uma pequena cidade encravada no começo do Sertão de Pernambuco, na época o poder político era comandada pelas Famílias Queiroz e Amaral, tendo como comandante o Sr. Ernesto Queiroz, que foi prefeito da cidade e candidato a Deputado estadual. Não me lembro se chegou a ser eleito.

Observei tempos atrás no perfil do orkut, do meu amigo Arnaldo Burgos(in memorian), o grande abraço dos membros das diversas famílias da cidade ao redor da igreja matriz do glorioso São José, padroeiro da cidade, simbolizando o perdão e a paz entre as famílias(ocorrido no I Encontro de Custodienses em 2006).

Na época as pessoas de maiores destaque além das famílias que disputavam o poder político, nós tínhamos, o senhor Luiz Epaminondas - padrinho de um dos meus irmãos - não me lembro qual, uma liderança emergente no cenário político do município, aonde chegou a prefeito, sendo assassinado covardemente. Tinha uma consideração muito grande conosco, quando já estávamos em Betânia ele sempre encostava lá em casa colocava os meninos no colo, era de um coração sem tamanho.


Tinha João Miro, os irmãos Domingos e Sebastião de Aurélio, donos do maior comércio da cidade, que tinham uma particularidade curiosa, não se falavam, faziam suas comunicações por bilhetes.


Joaquim Pereira e dona Corina que explorava o comércio de remédio, Zé Burgos, também dono de Farmácia, padrinho do meu irmão Paulo, seu Luís Amaral do cartório, a família de Pedro Rafael, a família Simões, a família Gonçalves Lima proprietário do hotel da cidade, principalmente o Gerson, rapaz de espírito empreendedor, lembro-me como começou sua fábrica de doces Tambaú, ao lado da BR, logo após a ponte, era um tacho de ferro onde fervia a goiaba, e uma palheta que girava e os frutos para fazer o doce, um negócio totalmente artesanal, tinha dois funcionários: Alfredo e outro que não me não lembro o nome.

O que nos ligava era o futebol. Poucas pessoas tinham rádio, um deles era Fernando Florêncio, conhecido como Fernando de Laura, gente da melhor espécie, todas seis horas da tarde eu estava na casa dele para assistir a novela de Jerônimo “O Herói do Sertão” e depois a resenha esportiva, pois tínhamos uma paixão em comum o Tricolor do Arruda, o velho Santa Cruz. Passávamos o dia todo jogando bola no campo da várzea, com bola de meia ou bola de borracha, à noite fazíamos ponto na praça de matriz para papear, ver as meninas passearem.




As mocinhas da época que tenho em mente são: Terezinha Medeiros, Naísa, Nobinha, Maria Eugênia, Maria Eliza, Robélia, Jaìse e Janice e Zuleica. Uma das lembranças mais bonitas que tenho de Custódia é de Zé Biá e sua banda pífanos, na festa de São José, ele saia tocando pela cidade e nós o acompanhando, acho que ele deveria ser homenageado pelos dirigentes e historiadores da cidade.

Das figuras folclóricas lembro-me de Doca, tinha síndrome de Down, fazia ponto no posto de Zé Miro, Luis Doido, ficava brabo quando nos dizíamos: “Vai pra volta Luis”, Pedro Maravalha, um maluco que tocava um reco-reco, uma figura muito interessante.




Tinha também o Peito de Aço, um velho que morava perto do cemitério velho, era muito estressado e atirava pedra com uma funda, tinha também um que nós chamávamos de Caititu, ele sempre tirava brincadeira com minha irmã Inês, quando passava perto de nós com um galão de água no ombro. Não tínhamos muitas opções de lazer, mas sempre tinha aos domingos partidas de futebol com os municípios visinhos, o grande ídolo era Toreba, goleador da equipe local, as corridas de cavalos também eram muito comuns na cidade.

Tinha os bares de Zuca Pinto, tinha outro bar próximo à igreja onde havia disputa de sinuca, Joãozinho de dona Isaaca era um grande jogador, acho que não tinha adversário, pois dava saída e colocava nas caçapas todas as bolas do jogo.

Custódia como todas as cidades interioranas, também tinha seu serviço de Auto-falante por onde desfilavam cantores como Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto, Anísio Silva, Núbia Lafaiete, Valdick Soriano, Orlando Dias etc.

E para não fugir a tradição as missas aos domingos, as nove sextas feiras e o mês de maio, mês de Maria com celebração de novenas e rezas, os bate-papos nas calçadas entre vizinhos. Assim era a Custódia dos anos cinqüenta, a cidade de parte da minha infância. Acredito que pouca coisa sobreviveu ao tempo e as mudanças de costumes, principalmente depois da televisão.


4 comentários:

  1. Ave Maria.
    Invasão do blog pelos "Belo".
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba

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  2. São os Belos, invadindo o Blog.
    Quinca, vç esqueceu de citar "Roda Feia". Aquele fogueteiro cujo balão não subia, a "giranda" não rodava e as bombas não explodiam. Lembrou ??
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba

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  3. Caro amigo,
    AApesar dos neurônios ainda estarem funcionando em pleno vapor, eu por um lápso de memória deeixei de citar "Roda Feia" obrigado pela lembrança.
    Joaquim Belo
    Belém/PA

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  4. Muito bom reviver os tempos de nossa infancia e juventude.Bela crônica,Joaquim.

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