22 novembro, 2021

OSMINDA: Marcante e inesquecível leveza de ser

Osminda Carneiro

Por mais que eu procure palavras, por mais que eu construa frases e períodos, por mais que eu vasculhe as lembranças, tentando traçar o perfil dela, de forma que se aproxime mais do que ela foi, e continua sendo, não consigo satisfazer o meu desejo. O resultado fica sempre distante da intensidade do que ela é no coração de quem teve a graça de desfrutar do seu convívio. Uma pessoa linda - e não só pra rimar com Osminda, mas porque a beleza que trazia dentro de si transparecia na sua figura carismática. Aprendi desde criança a admirá-la. Seus múltiplos e reconhecidos dons são fascinantes. A leveza, a ternura, a paz, a cumplicidade terna e mágica e tantas outras características, que destacam essa marcante figura humana, estavam expostas e explícitas no seu olhar, no seu sorriso, na sua voz, na sua palavra, nos seus gestos, nas suas atitudes. Uma pessoa absolutamente rica de humanidade, que trazia sempre o sinal do amor, da alegria e da luta, impregnados na sua alma e no seu coração e refletidos no seu jeito de ser e de estar no mundo. E não sou eu apenas quem diz isso. A vida diz. As pessoas dizem. O tempo diz. O grande poeta, escritor e amigo Zé Carneiro afirmava, com a maior convicção, a voz embargada e os olhos brilhantes: "Tudo o que sou devo a Osminda - tudo o que sei aprendi com ela."

Amante da arte, percorreu suas vias e foi destaque por onde caminhou: na pintura em tela e tecido, nos bordados, na palavra escrita ou falada - sempre mostrou beleza, criatividade e humanidade. Como as pessoas que tomam esses caminhos por eles revelam uma sensibilidade muito intensa, ela sempre estava revelando esse lado com muita espontaneidade, sem alardes e sem segundos propósitos - ela apenas precisava ser. Tinha muita imaginação, sempre aliada ao sentimento, que precisava brotar e revelar-se por alguma saída, por alguma porta, por alguma brecha, por alguma janela, por algum caminho. Eram traços fortes que precisavam ser libertados. E entre tintas e pincéis, tecidos e telas, linhas e agulhas, cores e formas, ela ia pintando, bordando e criando o que saía quentinho do coração pra virar arte e aquecer o coração de quem se identifica com esse mundo mágico. E ia mais além: motivava o outro, aluno, a entrar em contato com a beleza que a arte produz. Queria levar sua rica experiência para o outro também ser contemplado com os encantos desse lado bonito da vida. E muitos passaram pela sala onde com ela treinavam bordados e pinturas, em exercícios permeados de ricos momentos de troca como aprendizes da arte da vida. Nessa teia de ricas relações, muitos encontros com ela eram marcados, à parte, para cada um suprir a natural necessidade do ser humano de ser ouvido - pra fortalecer os laços ou pra desatar os nós da vida. E ela tecia, com sabedoria, sensibilidade, respeito e cumplicidade, as "sessões" privadas e secretas. Era uma psicóloga nata - e cumpriu muito bem esse papel por muito tempo e para muitas pessoas. Mesmo sem ter essa intenção e mesmo sem programar ou arvorar-se dessa condição. As confidências fluíam como um rio seguindo seu curso natural.

Ligando todas as linhas que teciam seus diversos dons, ela seguiu servindo, com alegria, porque via o mundo como uma ampla casa onde todos precisavam dar-se as mãos para cumprir a missão de ser feliz.

Mestra da vida, pós-graduada, com doutorado e especialização, ela é uma incontestável referência entre as pessoas que marcaram a história de nossa amada Custódia.

Laíse Rezende
Recife-PE
Novembro/2021

Um comentário:

  1. Parabéns para esta grande escritora Laise. Fantástica a sua descrição desta grande mulher D. Osminda. Merecida homenagem para este ser humano ímpar que nos deixou boas recordações e saudades. Abraços: Lucia Gois

    ResponderExcluir