24 novembro, 2021

Como é ficar cego? - por Aírton Araújo





Algumas vezes, indagaram-me: Como é ficar cego? Ou, afirmaram ficar cego deve ser muito difícil... E, a resposta mais coerente que encontrei foi à seguinte: 

A pessoa vidente que se torna cega é como uma árvore exuberante que foi ceifada no tronco, tornando-se apenas um toco. Aí dependerá da capacidade de regeneração de cada indivíduo para cicatrizar e calejar as feridas, através da perseverança, insistência, luta e enfrentamento dos mais variados obstáculos, bem como, do lugar e do meio em que está inserido, pois se o solo for fértil e receber os cuidados necessários para sua adaptação e reabilitação, o resultado poderá ser uma moita frondosa, deixando de viver a sombra de outras árvores para ganhar a independência, passando a sentir os prazeres da liberdade. Mas, se o lugar em que está localizado o solo for infértil e não receber as devidas correções, que possa oferecer condições de desenvolvimento de suas competências e potencialidades, poderá apenas se transformar em um toco, que viverá para sempre a sombra de pequenas árvores se tornando em muitos casos um incômodo ou um fardo e, em outros, a galinha dos ovos de ouro para o sustento de seus familiares. Por outro lado, se a árvore foi cortada, o solo não é fértil e o toco não recebeu as devidas oportunidades, necessárias para formação de uma moita viçosa. Aí o indivíduo precisa ser muito forte, teimoso e persistente, semelhante a um toco de catingueira, que mesmo diante da hostilidade climática do sertão, além de ser castigado, pisoteado, marginalizado, tripudiado, esfolado, chibancado, queimado, renasce das cinzas para se transformar em uma moita frondejante. O seu crescimento calcado nos alicerces das dificuldades e desafios durante o prolongamento de seu caule,que contará com um ponto positivo, devido suas inúmeras ramificações, que certamente servirão de base para sustentação na desafiante escalada da vida. Mas, mesmo tendo se tornado uma árvore vigorosa e dá bons frutos, para muitas cabeças pequenas, não passará de uma moita. No entanto, outras incontáveis mentes abertas, o respeitarão e compartilharão a alegria da vitória e reinarão juntos, o triunfo da superação, atuando como nutrientes da igualdade e valorização das diferenças. 

Autor: Airton A. Araújo - 10/10/2010.

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