19 novembro, 2021

Infância no Sertão - por Vanize Rezende



Não era difícil de então desvendar

Ainda menina de olhar repuxado
Da vida os encantos dos banhos de chuva
E da bica gostosa da igreja matriz
Pulando na corda traçando o cordão
Cantando em fileira ou fazendo roda
Saindo a tomar leite bom no curral 
Vaquinhas bem perto lá do meu quintal...

As primeiras bênçãos me foram chegando
Ao sabor dos bolos de goma e também
Do doce de leite e dos pirulitos
Pão doce quentinho lá da padaria
Comida gostosa de Maria Grande
Os frutos da feira a carne de bode

E os cafunés que o meu pai me pedia
E as coisas bonitas que a mãe me dizia.

Na longa manhã da minha vida a brincar
De roda, de corda ou de pastoril
Teatro e esquetes pra o povo aplaudir
Monteiro Lobato a ler sem parar
As tantas fofocas pra ouvir e calar
E as muitas histórias às vezes medonhas
Também assombradas que a mãe me contava
Na doce cantiga que me embalava.

Bonecas bonitas compradas na feira
De pano eram feitas de pano vestidas
De roupa de chita de bico e filó 
Panelas de barro, burrinho e o que mais?
Bichinhos pintados de azul e amarelo
De arame e de palha também se fazia
Coisas de brincar e aqueles biscuits
Quem sabe chegavam de lá de Paris?

Só para os meninos os carros de boi

E o papagaio de papel e cor 
puxado a cordão e sem nunca parar.
Carrinhos bonés petecas e botas 
Bigodes bonitos camisas xadrez 
E calças compridas iguais às do pai

As bolas de gude e de meia e o pião
A cela os cavalos e o caminhão.

http://vaniserezende.blogspot.com.br/

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