Após o falecimento do seu sogro Joaquim Pereira da Silva, no ano de 1972, assumiu definitivamente o controle da farmácia da família, juntamente com a sua sogra, dona Corina Marques Pereira. Era um farmacêutico prático muito competente, e uma pessoa de um carisma inquestionável. Ele foi, para mim, a primeira pessoa preocupada com o social que conheci. Presenciei várias cenas dele na minha infância, adolescência e até na fase adulta, que atestam essa minha afirmação.
Sérgio com 12 anos com a mãe Osanira
Hoje
Naquele momento, dos filhos de Claudionor, só se encontrava Sérgio, que era o mais novo, com 12 anos. Foi pedido a Sérgio que se dirigisse correndo até o bar, pois poderia nem mais encontrar Zé Burgos no local. Sérgio saiu em disparada, e enquanto corria com todas as suas forças, pensava em como fazer Zé Burgos desistir daquela viagem improvisada.
Claro que não deu tempo para elaborar nada em seu cérebro, mesmo diminuindo intensamente a velocidade de sua correria, ao avistar a rural ainda em frente ao bar. Quando adentrou no estabelecimento de seu Chiquinho, deparou-se com Zé Burgos em uma mesa cheia de garrafas vazias de cerveja, e Zé do Bode, sentado em uma mesa ao lado, só esperando, como se diz no jargão militar, a voz de comando. Zé Burgos ao avistar o primo, fala alto e sorridente “Serginho, você chegou em boa hora, Chiquinho, traz mais uma saideira e um guaraná prá Sérgio, vamos para Sítio dos Nunes e você vai comigo visitar o túmulo do meu pai.” Sérgio já sabia desse intento, porém, não estava em seus planos fazer essa viagem, muito menos para um cemitério.
- E agora, fazer o quê?
Calculou. Eram 15:30 horas, uma viagem para Sítio dos Nunes não leva mais do que meia hora, pois só são 20 KM, muito próximo. Com folga, às 16:00 horas chegaremos ao cemitério, e ainda retornaremos com a claridade da tarde, mesmo que as preces e meditações se estendam um pouco. Perfeito. Entraram finalmente na Rural e seguiram viagem na BR 232. Realmente, a viagem foi tranquila e Sérgio respirou aliviado quando avistou as primeiras casas. Porém, subitamente, Zé Burgos fez um pedido inesperado ao condutor. “Zé do Bode, antes de irmos até o cemitério, quero rever meu primo Zé Velho, ele tem um bar aqui pertinho na rua Dr. Santana Filho. É meu parente também, pois meu pai era Antônio Burgos de Santana.” Nesse momento Sérgio acendeu o alerta, tinha que recalcular todo o seu plano. Zé Burgos, ao entrar no bar, foi saudado calorosamente pelo primo Zé Velho e outros parentes que estavam ali. O anfitrião abriu logo uma cerveja e em seguida foi dizendo para Zé Burgos o grau de parentesco de alguns que se encontravam no local.
Todos passaram a se confraternizar embalados pelas Brahmas que eram abertas seguidamente e em pequenos intervalos, um guaraná para Sérgio, que pouco tempo depois passou a recusar, alegando que o bucho não aguentava mais. Sim, a sua grande preocupação agora era com o falecimento do sol, e o horizonte quase opaco, já não mais refletia a luz. Sérgio constatou isso, pois a todo instante, impaciente, saia na calçada e olhava o sol descambando velozmente lá prás bandas de Serra Talhada. Ir no cemitério durante o dia, para ele, era até suportável, mas à noite? Passou a ter calafrios, medo, pânico mesmo, imaginando a morada dos mortos no escuro.
“CEMITÉRIO MORADA JARDIM DA SAUDADE a 300 metros.” E agora? Zé do Bode olhou para Sérgio e não falou, mas os gestos e olhares substituíram qualquer palavra naquele momento conflitante, até porque temiam acordar Zé Burgos. Sérgio parecia despertar de um pesadelo, e com as duas mãos, olhando para Zé do Bode, gesticulava freneticamente na direção leste, à esquerda, para Custódia, “meu Deus, que alívio, minhas preces foram ouvidas” O retorno foi mais veloz, porém, a necessidade de se chegar logo, tornou-se angustiante. A rural parou em frente à casa número 55 da Rua 20 de Julho, e dona Noêmia encontrava-se à sua frente. Zé Burgos acordou do sono breve e Sérgio foi o primeiro a sair do carro. Ajudou seu primo a sair e dona Noêmia agradeceu a Sérgio pela companhia que fez a seu esposo.
“Não foi nada, dona Noêmia, foi tudo tranquilo.” Enquanto se dirigia para sua casa na Rua Padre Leão 12, pensou: “será que Zé Burgos quando acordar amanhã, vai pensar que tudo isso foi um sonho? Ou também poderá imaginar que a corrida com Zé do Bode limitou-se do bar de seu Chiquinho para sua residência? A vida imita a literatura!" Entendeu? compreendeu?
Zé Burgos faleceu no início da noite, do dia 25 de fevereiro de 1978, aos 55 anos e quatro meses.
Obs. Estamos esperando uma foto de Zé do Bode, tão presente nesta crônica.
Texto de Jorge Remígio
Recife, 06 de dezembro de 2023
Nós vamos lendo e relembrando de todos os cantos deste trajeto. Belo texto!
ResponderExcluirSem palavras meu cunhado Jorge Remígio! você e fodaaaaa...👍👍👍👏👏👏
ResponderExcluirMais uma excelente crônica. Parabéns, Jorge Remígio !
ResponderExcluirBelo texto !
ResponderExcluirAmei o texto
ResponderExcluirDesse jeito, viu? Sofri....kkkk Medo da " gota, homi?"
ResponderExcluirCemitérios, hoje em dia é uma coisa comum, pois lá existem energia com luzes, abertos a qualquer horas. Antigamente, cemitérios eram à escuras, fechados, então quase ninguém visitavam a estas horas da noite. Silêncio imperava. ( Sérgio Murilo Remígio)
ResponderExcluirExcelente texto Jorge parabéns
ResponderExcluirJorge no dia da morte de seu Zé Burgos, como eu chamava,já morava em Serra Talhada, mas passei à noite e fiquei até a hora do seu sepultamento. Era um grande homem e meu amigo pessoal.
ResponderExcluir🙏🙏🙏
ExcluirFerdinando
ResponderExcluirSou Ferdinando.
ResponderExcluirMeu primo querido, adorei a sua crônica. Muito bom saber o quanto o meu pai esteve presente na sua vida e o quanto você gostava e o admirava. Adoro as suas crônicas e o seu jeito de escrever. Avante com mais preciosidade como essa. Muito obrigada 🙏🥰
ResponderExcluirBelo texto. Como sempre suas crônicas nos remetendo a nossa memória afetiva. Abraços!! Tatiana.
ResponderExcluirAdoro suas crônicas meu querido primo Jorge.
ResponderExcluirSeu Zé Burgos era super simpático e atencioso na Farmácia e c/mto carinho que cuidava da gente!!
ResponderExcluirDeus o acolha!!JFDMoura
ResponderExcluirExelente a crônica do amigo Jorge Remigio sobre a visita do Ze Burgos ao cemitério, parabéns amigo vc é preciso em sua narrativa.
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