Na mala velha de minha mãe
De tudo tem um pouquinho
Tem fotos amareladas
Tem contas pagas de luz
Tem relíquias sagradas
De Santos que lhe conduz.
De tudo tem um pouquinho
Tem fotos amareladas
Tem contas pagas de luz
Tem relíquias sagradas
De Santos que lhe conduz.
Caros amigos de Custódia comecei com esse verso porque ele me faz remeter a Custódia da minha infância, ao abrir essa mala encontro nossas historias em comum. Vou começar por Zé Biá, minhas primeiras lembranças dessa terra, vejo-o na rua tocando pífaro ou era outro instrumento, sei que me trazia sonhos e imagens que me acompanham para sempre.
Outra imagem era as andanças para o sítio de tio Né no umbuzeiro, me lembro da música do velho Gonzagão que diz "mas os pobres vê nas estradas o orvalho molhando a flor, vê de perto o galo campina que quando canta muda de cor, sai moiando os pés no riacho...".
São João na roça talvez foi a mais marcante, era férias de junho, sai de Sertania correndo para Custódia, geralmente ia de mixto, aquele carro híbrido meio caminhão meio ônibus, ligado a manivela, íamos junto de galinha, porco e gente tudo misturado. Era nessa época que me encantava em poder brincar de roda com as filhas do vizinho do meu tio sinhozinho, a mais linda tinha olhos verdes como da música Asa Branca, era um encanto pegar na mão de Leda e sonhar em casar com ela.
Pai véi ou Zé Baié era uma figura cheia de encantos que contava historias antigas que ficam como arquétipos culturais repassados para o coletivo dos nossos inconscientes.
Meu orgulho era ser afilhado de Zé Burgos e claro receber sempre um dinheirinho dele sempre que ia tomar a benção e aproveitava para pedir bênção a dona Noêmia com sua elegância européia, parecia um conto de fada madrinha. Tive o privilégio de viajar com meu padrinho no final da sua jornada, fomos a Triunfo, acho que ele estava se despedindo e me convidou para ir com ele.
Custodia sempre foi rota da minha vida, mesmo quando saí pelo mundo como hippie, sem saber viajei com o Ramon Japiassu, que por sinal é parente da família Burgos. Falar nessa fase é lembrar-se das feiras e das minhas novas aventuras vendendo artesanato na praça ou andando com um periquito no ombro parecendo o pirata do Rum Montilla.
E a fama de cabra macho e a frase de efeito não brinque comigo porque sou de Custódia, eu ficava imaginando como tinha sido as histórias de brigas e tiroteios nas ruas com bala cruzando de cima a baixo.
Bem acho que nessa colcha de retalho cultural outros irão trazer mais pedaços e espero ver o resultado final numa publicação.
Um grande abraço a todos
por Paulo Belo da Silva
Oi Paulo.
ResponderExcluirJá que tens orgulho de ser afilhado de Zé Burgos, dá uma olhadinha no que escrevi sobre ele com o título de: O HOMEM QUE VIA LONGE.
Fernando Florencio
Ilheus/Ba
Este cabra parece ter o mesmo dom das artes plásticas da Inez.
ResponderExcluirSitio de Né Roberto. Eu, Maninho e Tona, pegamos muitos piaus, piabas e traíras na cachoeira de Né Roberto. Era o açude dos Gorgonhas "sangrar", lá estávamos nós com nossos anzois de alfinetes e iscas de pão crioulo dormido comprado na padaria de Sêo Pedro Rafael.
Só não volta ao passado quem passado não teve.
Fernando Florencio
Ilheus/Ba
Oi Paulo que lembraças bonitas nos trouxe esse texto, tantas pessoas bonitas. E na mala velha de minha mãe, tinha tanta coragem, tanta sabedoria, lição de vida que nos passou mostrando a importância da luta pela sobrevivência, confesso que fique emocionado e ainda tem os comentário de Fernando esse amigo quase irmão.
ResponderExcluirQue texto lindo!
ResponderExcluirConheço todos esses Ze's.
Voltei no tempo, através do seu conto.
Abraço