04 setembro, 2020

O último romântico - Daniel José

Por
Daniel Feitosa
Recife-PE
Novembro/2006

Tenho tentado manter esse fio de romantismo que teima pairar sobre os meus princípios, sobre a minha essência. De tal forma que luto, desbravadoramente, contra a descrença de um coração puro e verdadeiro. Não é nada fácil. É como nadar contra a maré; é como ir de encontro a um exército em vantagem de soldados e armas; é como medir forças com um ser sobrenatural.

Sempre costumei intitular-me "o último romântico" não por outro motivo senão a raridade da existência de seres ainda com o espírito arraigado nos tempos antigos. Tempos estes em que se ouvia um bolero letrado, em que se escreviam cartas de amor, em que se permitiam as mais profundas declarações revestidas de um vasto e sincero conteúdo; tempos, enfim, que traduziam a fiel natureza humana e permitiam que as pessoas não se sentissem alienígenas ao admirar as estrelas, sob um céu estrelado, recitando versos de Fernando Pessoa à pessoa amada.

Falta sentimento, falta coragem. É medo de amar, é medo de se magoar. É a real escassez dos corações sentimentais e dos olhos chorões. Uma Era glacial que invadiu os tempos modernos e apagou o fogo que dantes aquecia as relações humanas.

Daí, surgem as crises existenciais banais com uma força avassaladora e nos deixam num verdadeiro estado de sítio para com as regras que ditam as nossas ideologias e sentimentos. Bate o desespero, a vontade de encontrar uma solução à emergente situação, uma agonia sem fim. Você fica perdido, à mercê do tempo e da memória.

As pessoas, então, revestem-se de capas invioláveis e individualizantes e partem pro abraço fingido com um sorriso pintado no rosto. Tudo perde o valor. As preciosidades pretéritas são desmoralizadas e reduzidas a nada. A figura lírica dos adoradores de romances e quimeras esvai-se gradativamente, deixando assim um espaço cada vez maior aos devastadores 'corações de pedra'.

Não sei de quem é a culpa ou qual o motivo, talvez até saiba, mas o que para mim importa é o modo triste e medíocre como costumam viver a maioria das pessoas - dotadas de uma covardia crua e desprezível. É isso que me entristece e me faz sentir o cansaço de viver.

Eu vivo numa geração em que poucos sentimentos são levados a sério e que a ética interna dos grupos etários não mais existe. Eu vivo numa época em que as músicas são horrendas, sem letra nem ritmo. Eu sei que eu vivo numa sociedade que repudia o preconceito da forma mais hipócrita possível. Ainda sei que a tendência dessa situação é piorar, pois não mais se lêem literaturas de conteúdo, assim como não mais há noções pregadas pelo profeta Gentileza. 

Eu quero só continuar a aliar o amor ao romantismo, como assim há de ser. Quero, também, manter viva a alegria e a felicidade de acreditar, ludicamente, que amar é mesmo tudo. 

~Daniel Feitosa


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