01 setembro, 2020

Zezinho Pedreiro, um atleta do Vasco de Custódia

Ederaldo Lemos
Custódia-PE
Setembro/2020

Campeonato regional realizado na cidade de Arcoverde, o Vasco de Custódia, administrado por Ederaldo Lemos, Zé Magão, Zezinho dos Vidros e Marcão, foi convidado a participar. 

Primeiro jogo contra o Flamengo de Arcoverde, resultado foi 0 X 0, considerado uma vitória. O segundo jogo seria contra soldados do 3º Batalhão da Polícia de Arcoverde, um time temido por seus atletas robustos e nada delicados. 

Não foi possível alugarmos um ônibus, havia muita gente, inclusive torcedores para ir até a cidade vizinha. Alugamos uma van, lotação máxima 16 pessoas. 

Logo de cara a torcida foi dispensada, iriam 11 titulares e 5 reservas, até o treinador, no caso eu, me recuperando de um lesão muscular, ficaria em Custódia. 

Porém tinha um reserva, chamado Zezim Pedreiro, jogador veterano de seus 56 anos de idade. Qual posição jogava? Jogava de teimoso... 

Ficamos parados ali na BR-232 em frente ao Bairro da Redenção, ele e eu, olhando a van se distanciar até perdê-la de vista. 

Zezim olha pra mim e diz: 

- Nós vamos também. 

Respondi

 - Como? Eu lhe pergunto

E ele diz: 

- Vamos alugar outra van. 

– Mas de jeito nenhum. 

– Então vamos na sua moto. Insistiu Zezinho. 

- Tá sem gasolina e eu estou sem um cruzeiro novo no bolso. 

Tentei finalizar a investida.

E ele, deixar parar emendou:

- Eu boto 15 litros de gasolina. 

Novamente tentei fazer com que ele desistisse, dizendo:

- Mas a moto tá com a documentação atrasada. 

e ele - Tem nada não. 

Ele me convenceu. Partimos rumo à Arcoverde, debaixo de um sol escaldante. O “tem nada não” de Zezim Pedreiro não funcionou, na Polícia Rodoviária em Cruzeiro do Nordeste fomos parados. O policial solicita o meu RG e os documentos da moto... Perguntou

-Vão pra onde?

Respondi:

– Eu vou levando um jogador de futebol para Arcoverde... 

O Vigilante Rodoviário olha pra Zezim com seu rosto marcado por rugas profundas e me pergunta: 

- Mas cadê o atleta? 

Eu repondo que é um time de veteranos. A moto ficou apreendida até que eu retornasse com o documento em dias. Pegamos carona e chegamos quase no início da partida. 

O time já estava em campo, eu havia escalado o time ainda em Custódia. 

Termina o primeiro time 0 x 0, e Zezim perguntava quando ele iria entrar em campo, eu lhe respondia que no momento certo ele jogaria. 

Era notório que o Zezim jogava apenas pelo prazer de jogar, embora não produzisse muito pouco em campo, era um jogador muito abaixo da menor média que se pudesse imaginar. 

Começa o segundo tempo e Zezim constantemente olhava pra mim, eu notava isso pelo canto dos olhos. 

– Parece que fulano tá machucado. 

Ele falava como se aquela fosse a oportunidade dele. 

- Tá não é impressão tua. 

- Sicrano já cansou. 

- Cansou nada, ele tá é correndo que só.

- Quando é que eu vou entrar? 

- Deixa a gente marcar um gol. 

E o tempo vai passando, quando marcamos um gol. Vasco de Custódia 1 X 0 Batalhão de Arcoverde. 

- Agora eu jogo. 

- Daqui a pouco, vamos pelo menos segurar a vitória. 

Depois de tantos pedidos e olhadas pra mim, finalmente eu mando Zezim fazer um aquecimento, faltavam apenas 5 minutos para o final do jogo. Não tava danado que eles empatariam o jogo. Coloquei ele para ficar na frente, no ataque, que era para ele não atrapalhar a defesa. 

E o atleta Zezim Pedreiro após o aquecimento e assinatura na súmula, entra em campo, faltando apenas três minutinhos para o término da partida. Pensei que não aconteceria nada de anormal nesse pequeno tempo....mas aconteceu

Eis que na primeira jogada em que Zezim iria participar acontece o inesperado... 

A bola é lançada pela ponta direita, uma bola aérea, teriam que pular para cabecear a bola, Zezim e o lateral deles, um belo senhor de aproximadamente dois metros de altura e 120kg, mas parecia um paredão... 

Os dois pulam em busca da gorduchinha, que passa por sobre suas cabeças, mas era inevitável o encontro dos dois corpos atléticos, que pela desigualdade física notória, Zezim é lançado a uns dois metros de distância, cai sobre o braço direito, e? Quebra o braço é claro. 

Falo com o pessoal que continuassem a partida, e logo após o término do jogo, avisei a todos que poderiam retornar para Custódia, que eu resolveria o caso, levando Zezim para o hospital. 

No hospital não foi possível o atendimento, mas com a atuação da vereadora Célia, resolvemos a situação na Casa de Saúde São Lucas com Dr. Paulo Rabelo. 

E na hora de voltarmos para Custódia, notei que eu não tinha trazido dinheiro suficiente para as passagens. 

Tive que pegar um táxi até a rodoviária e o que sobrou não dava nem para uma passagem. 

Problema resolvido, Zezim pediu as pessoas ali presentes uma ajuda para a compra das passagens. 

Passei três meses fazendo uma feira de supermercado para o atleta Zezim Pedreiro... 

É que a mão quebrada era exatamente a que seguraria a colher de pedreiro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário