Bastante querido por adultos e crianças, Doca era carinhosamente chamado de Doquinha. Sua deficiência mental em nada atingiu o bom humor, a seriedade, o gosto por aventuras (por vezes sumia, em viagens pelas redondezas) e até pelos prazeres da vida: adorava um cigarro, e se algum irresponsável lhe desse, apreciava uns goles da “marvada”, ocasião em que ficava intolerável.
Diferente da grande maioria dos deficientes mentais, Doca era extremamente querido por todos, inclusive pela família, os Benício. Seu pai, Mestre Ozório, Toinho Benício, Joãozinho Benício, enfim, todos da família, nutriam verdadeiro carinho por Doca, e lhes davam toda assistência possível.
Como característica especial, Doca tinha duas manias: uma delas, era a de posar de policial. Sempre conseguia um chapéu ou uma farda da PM, que usava permanentemente. Contam que certa vez tinha um bêbado abusando nas ruas, tendo os gaiatos o advertido de que o Soldado Doca poderia aparecer a qualquer momento e prender o abusado. E não é que Doca apareceu, e incentivado pela turma deu “voz de prisão” ao bêbado e o conduziu até a Cadeia?
Outra característica de Doca era personificar um Orador. Mesmo sem ser entendido por ninguém, sempre ganhava uns trocados para pronunciar discursos inflamados e cheios de gestos. Quem apenas o escutasse, sem o ver, certamente julgaria ser um discurso em outro idioma, tamanha a ênfase com que ele balbuciava sílabas incompreensíveis.
Certa feita, na década de setenta, eu fazia um programa de auditório aos domingos, no velho Centro Lítero Recreativo. Num desses, a Rádio Pajeú resolveu o transmitir direto de Custódia, o que foi feito com o CLRC lotado. Distribuição de brindes, publicidade e várias atrações locais foram apresentadas. O Sanfoneiro Joãozinho, o Conjunto Musical “Os Ardentes”, sem contar com grande número de calouros, como Gonzaga de Alcides Bom (que cantava música de sua autoria), o Primo Ozório, Zé Esdras, (o ex-Prefeito mesmo!), o Dr. Ferdinando, (também ex-prefeito, de Serra Talhada) na época estudantes. Enfim, muitas “atrações” foram apresentadas. Mas quem fez sucesso mesmo, foi Doquinha, com o mais inflamado de todos os seus discursos. Tanto que posteriormente a Rádio Pajeú recebeu cartas perguntando em que língua aquele orador tinha falado…
Parece-me estar o vendo conversando seriamente, olhos arregalados, contando alguns fatos, cheio de gestos e trejeitos, que não eram compreendidos por ninguém, e ao término sair andando normalmente, acenando com a mão para os que ficavam.
Texto: José Soares de Melo
PS. – Doca é membro da família Benício, irmão de João Benício, seu nome de batismo era Diocleciano Benício de Queiroz.
"Quem me dera ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto, como o mais importante". O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte. Parabens!!!!!!!!!!!!!!!! José Soares de Melo. São os votos de um eterno amigo. Escritor Janio Queiroz.
ResponderExcluirDiocleciano , meu tio,da família Benício, irmão do meu avô Antonio Benício de Queiroz.Novamente o parabenizo José Melo.
ResponderExcluirEu gostava de vê-lo fardado. Aquela época era uma tranquilidade. SaudafeS.
ResponderExcluirBela narrativa do nosso ilustre amigo Zé Melo! Diocleciano Benicio de Queiroz ( Doca ou Doquinha) É meu tio querido, Irmão de minha mãe Maria Benicio, Tive a honra e o prazer de viver e conviver com esse ser único, Muitos achava que ele era doido, Na verdade ele tinha síndrome de Dau, Um cara do bem, A cidade inteira amava meu tio, Gostava de qualquer farda, Gostava de viajar ônibus, Todos os motoristas das empresas que passava por Custódia realizava os sonhos do Tio, Levava ele pra Arcoverde ou Serra Talhada e colocava ele de volta em outro ônibus, incrível, Lamentável não está entre nós, Deus te abençoe tio onde vc estiver.
ResponderExcluirDoca filho de minha tia avó Tertulina, conhecida por mulata, irmã da minha vó Maria Antonia de Jesus. Embora com suas limitações devido a síndrome de Down, conhecia seus parentes e para informar que era parente esticava o braço e apontava a veia fazendo o caminho dessa ao pulso em seguida apontava para o parente e juntava os dois dedos indicadores unidos. Era assim que ele dizia ser meu primo. Minha mãe costumava mandar ele me procurar na praça e botar para casa, quando estava perto da luz a moto pagar. Ele chegava onde eu estava balbociando "mama" e fazendo o gesto de parente apontava em direcção da minha casa, só parava quando eu atendia sua ordem, ele feliz deixava-me em casa. Era um primo querido por todos nós. Socorro Rezende
ResponderExcluirDigo luz a motor.
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