19 agosto, 2020

História da Cavalhada - Por Pedro Cezar



A História da Cavalhada nasce durante a dinastia carolíngia ou reinado de Carlos Magno (século VI d.C.), portanto há quase 1500 anos. Carlos Magno, de religião cristã, lutou bravamente contra os sarracenos, de religião islâmica, impedindo-os de invadir o centro norte da Europa. A cavalhada é uma tradição dos torneios da Idade Média, onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos, sua destreza e valentia. Na verdade, cavalhada representa a luta entre mouros e cristãos. O feito foi amplamente divulgado, como mostra de bravura e lealdade cristã, por trovadores que viajavam por toda a Europa.

E ficou sendo conhecido como a “A Batalha de Carlos Magno e os 12 pares de França”, livro este que o Museu Zé Cavaco possui um exemplar, considerado obra raríssima, só encontrada em três grandes bibliotecas do Brasil, um verdadeiro épico, cantado em trova, como forma de incentivar a população cristã contra as investidas dos exércitos islâmicos, que, apesar da derrota na batalha de Carlos Magno, não abandonou as investidas, principalmente ao Sul da Europa, vindos da Mauritânia.


Conhecidos como mouros, os muçulmanos da Mauritânia, invadiram, no século VIII, o Sul da Península Ibérica, dominando a região de Granada (Espanha), de onde foram expulsos somente em fins do século XV.

Foram quase 800 anos de ocupação moura por quase toda a península, o que colaborou para o avanço tecnológico destas nações, uma vez que os muçulmanos árabes, propagadores do islamismo, eram mais evoluídos, do ponto de vista tecnológico, artístico e cultural, do que os cristãos da época. Os reis que resistiram a este avanço refugiaram ao norte da península e mantiveram intacta sua cultura, vindo deles a iniciativa de expulsão da soberania moura na Península Ibérica. Incorporada ao folclore, durante séculos, a História de Carlos Magno era atração nas vozes dos trovadores e, somente em idos do século XIII em Portugal é que a Rainha Isabel resolveu instituí-la como uma festividade, aos modos de uma representação dramática, quase que como um jogo de xadrez, a fim de incentivar a instituição cristã e o repúdio aos mouros. 
 

A sua realização está ligada à Festa do Divino Espírito Santo, que tem origem na tradição portuguesa e leva em conta o calendário da Igreja Católica. Segundo a liturgia religiosa, é o dia de Pentecostes, exatamente 50 dias após a Páscoa. Provavelmente a Festa do Divino Espírito Santo foi instituída pela rainha Isabel, esposa do rei trovador Dom Dinis, de Portugal.
No Brasil essa tradição teria chegado por volta de 1756, com os portugueses, e ganhando perfil próprio em cada Estado, em cada região brasileira.

Na verdade, cavalhada representa a luta entre mouros e cristãos. São doze cavaleiros mouros e doze cavaleiros cristãos. No final da longa batalha, vencem os cristãos que ainda conseguem converter os mouros ao cristianismo. Trata-se de uma tradição praticada em várias regiões do Brasil, porém com diferenças marcantes de uma região para outra. Num grande campo de batalha, onde de um lado, o lado do poente, 12 cavaleiros cristãos vestidos de azul, a cor do cristianismo, lutam contra 12 cavaleiros mouros vestidos de vermelho, encastelados no lado do sol nascente.

No Brasil esta representação dramática foi introduzida, sob autorização da Coroa, pelos jesuítas com o objetivo de catequizar os gentios e escravos africanos, mostrando nisto o poder da fé cristã.

A Cavalhada de Zé Cavaco possuía um aspecto original, era uma mescla de modelo antigo, com vestes e desfile de cavaleiros e todo um ritual religioso e místico, baseado na fé católica, com a empolgante disputa de dois grupos de cavaleiros disputando entre si para ver quem retirava mais vezes a argolinha, exposta numa trave colocada em local apropriado.

Porém, a falta de visão cultural e descaso dos políticos e autoridades religiosas fez com que este acontecimento fosse posto fora dos limites da vila de Samambaia. Se o povo de Samambaia quisesse, a Cavalhada de Zé Cavaco, ou de São Sebastião, como Zé costumava falar, não corria o risco de essa memória de representações tão antigas desaparecerem com o desaparecimento dos “mais velhos”. Se por um lado ele tirava do deu próprio bolso para manter viva esta tradição, por outro o poder público teimava em desconhecer. Além do mais, as autoridades religiosas estavam aquém deste evento que principiava o dia das comemorações do padroeiro. Triste e reprimido em suas tentativas, não restou outra opção a José Ferreira Gomes, se não procurar uma comunidade que quisesse dar continuidade a seu capricho artístico. E todo o material, a exceção de alguns expostos no Museu Zé Cavaco para lembrar o ato folclórico foi doado à cidade de Umbuzeiro-PB. Torna-se necessário dizer aqui o tamanho da perda para Samambaia, para Custódia e para Pernambuco, visto que a Cavalhada foi ser realizada em outro Estado. É menos um ato. Deixa um vazio que poucos percebem, mas fica faltando um pedacinho de algo que se foi. Aquelas pessoas que participavam e gostavam sentem falta.

Por essas e outras, eu, Pedro Cezar Bezerra do Nascimento, que tenho familiares em Samambaia, peço que na minha ausência ou de Zé Cavaco, vocês dêem continuidade ao Museu, isso é um bem comunitário e de um valor cultural incalculável, pois as gerações futuras terão a oportunidade de tocar e ver, ler e pensar sobre seus ancestrais e o modo de vida que levavam em tempos passados. Um povo sem memória é um povo sem história, pois nós somos hoje aquilo que fizemos no passado.

PS: Trabalho elaborado pelo artista plástico PEDRO CEZAR BEZERRA DO NASCIMENTO, cedido gentilmente para o blog CUSTÓDIA TERRA QUERIDA. 

Para que mais trabalhos desse porte sejam publicados com mais frequência, pedimos as pessoas caso usem o texto em algum trabalho, cite o nome do autor, pois, trata-se de um projeto feito com muito carinho, e de uma riqueza cultural de grande valor para o município.

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