Texto: Fernando Florêncio
Ilhéus-BA
Janeiro/2013
Ilhéus-BA
Janeiro/2013
Meus pais fariam 82 anos de casados. Portando, bodas de não sei o quê, pois que eu saiba, catalogaram só até bodas de diamante (75 anos).
Revendo fotos antigas, encontrei essas que te mando para que você e outros da tua geração vejam como eram os meus antepassados e as pessoas daquela época revivam uma saudade de mais de 50 anos. Não existe nada de excepcional a destacar sabre esta familia. As mulheres, como era comum na época, eram essencialmente “donas de casa”. Eram criadas para casar e procriar, sem no entanto se afastar um milimetroda conduta ilibada e dos bons costumes. Se viúvas viessem a ficar, se enlutariam de preto total e fechado por um ano.
Lembro bem de Da. Izaque viúva de “Sêo” Antonio Lopes, mesmo muitos anos depois de viúva, foi sepultada de preto. A exemplo de Da. Izaque muitas nunca voltaram a refazer a vida com outro casamento. Quanto aos homens, meu pai, – Zé Daniel, – consta que teve uma fase próspera como comerciante, tendo desistido daquela atividade porque alguém lhe dissera que logo após a ditadura de Getulio Vargas, entraria o Comunismo através de Luiz Carlos Prestes e neste regime tudo passaria a ser do Estado. Todo e qualquer bem seria confiscado.
Minha mãe, D. Laura Florêncio, contava que logo outro comerciante – Sr. Zuzú Pires – mais bem informado, comprou todo o estoque de Zé Daniel com um deságio de 20% (vinte por cento) sobre os preços das faturas. Ou seja, deu de presente. Com os poucos “caraminguais” que recebeu de Zuzú Pires, comprou uma fazendola lá pras bandas do Serrote. Todos sabem qual o destino final de pequenos agricultores naquele sertão inóspito, sem meios sequer para adquirir o necessário para viver com decência.
Zé Daniel, também teve uma fase digna de registro. Segundo Ernestinho, no livreto CORONEL SEM PATENTE, Zé Daniel exerceu por algum tempo a função de “Juiz de Paz” que hoje corresponderia a “Juiz de Pequenas Causas” e presidente da Cooperativa Agrícola de Custódia. Zé Daniel, logo após ficar viúvo de Da. Laura, caiu em depressão, vindo a falecer pouco tempo depois, em Nova Iguaçú, no Rio de Janeiro, não obstante a dedicação em tempo integral de Dulcilia (filha mais velha) durante todo o tempo, por 24 horas todos os dias que duraram sua lenta agonia. Faleceu lúcido aos 83 anos, chorando, lamentando e sentindo que partiria sem rever a sua terra natal. E assim foi.
Vou combinar com Dulcilia para trazer os despojos dos dois para um sepultamento simbólico em Custódia. A Da. Laura Florencio e Zé Daniel, nesta data, manifesto o meu mais puro e sincero agradecimento por terem me indicado o caminho da honradez da decência e da cidadania. E, principalmente por não terem dado ouvidos a aqueles que os hostilizavam – alguns até com o mesmo sobrenome, – quando alertavam que “Estavam criando cobra para mordê-los“, já que eu era filho adotivo. Coisa que menino jamais esquece.
As fotografias que veem a seguir, foram tiradas por ocasião das Bodas de Ouro de Zé Daniel e Da.Laura Florêncio, juntamente com o Batizado da nossa filha mais velha – Prúdence -.(no colo ) na Igreja de Santa Luzia, em Nova Iguaçú no Rio de Janeiro, para onde a família migrou lá pelos idos de 1965.
Zé Daniel e Da.Laura (Missa em ação de graças pelas Bodas de Ouro.)
D. Iaiá Florencio, Zé Daniel, Da.Laura, Catonho Florencio e D.Gercina.(esposa de Catonho)
Maria das Dores (Filha de Dulcilia c/Manoel do Curtume), Sr.Francisco Elias (Esposo de Dulcilia), Dulcilia, Padre Marcelo, Fernando Florencio, Maria Apolonia(esposa) e Osmam (filho de Dulcilia c/Manoel do Curtume) Zé Daniel e Da.Laura c/ Prúdence no colo.
Fernando,
ResponderExcluiré a primeira vez que acesso este blog. Recebi um convite de Paulo Daniel para acessá-lo, no facebook. Como gostei de ver as fotos, as imagens da cidade e de relembrar tantos nomes trazidos nessa tua postagem sobre Zé Daniel e Dona Laura,que me soam como "água benta" temperada de saudades, lembranças, vontade de rever a terrinha que já não vejo há muitos anos!
Um grande abraço e beijos em nossa querida Osminda!
Vanise Rezende
(filha de Ester Pires e do custodiense Né Marinho, que dias antes da morte me dizia, sonhando seus melhores sonhos, que logo mais iria a Custódia!).