12 março, 2013

[Opinião] Ensinar é preciso e vale a pena sim - por Luciene Pinto


Fiquei bastante chocada e muito preocupada com uma matéria que li numa determinada revista, cujo título era: PARA QUE ENSINAR SE PROFESSOR NÃO VALE NADA? Sou solidária ao colega (autor da matéria) pela iniciativa e coragem de expor sua insatisfação, angústia, frustração e indignação com o sistema escolar de ensino. E ao mesmo tempo venho protestar dizendo que: ENSINAR É PRECISO E VALE A PENA SIM. Então, o que seria dos médicos, engenheiros, advogados e juízes, sem o professor? Você já parou para pensar o que significa alfabetizar? É sublime, ensinar a ler e escrever. É como se você tivesse proporcionando luz aos olhos do cego. Por tudo isso e muitas coisas mais devemos ter orgulho da nossa profissão.

Já dizia Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.” O colega relatou muito bem o que de fato acontece cotidianamente nas escolas brasileiras. Porém, durante toda minha trajetória na educação, tenho ouvido apenas muitas lamentações e criticas ao sistema educacional, mas, ação que é bom, nada. É preciso entender que o sistema somos todos nós e começarmos a nos questionar: será que estou fazendo a minha parte? E a partir daí fazermos o possível para realizar o que podemos. Muitas vezes somos omissos e coniventes com tudo que acontece no dia-a-dia escolar.

Vou citar quatro exemplos que sempre considerei um obstáculo para a aprendizagem:

1- O quantitativo exorbitante de alunos em sala de aula,
2- A aceitação pacífica de uma disciplina que não tem nada a ver com sua área específica,
3- Classes multisseriadas,
4- Professores sem vocação.

Por estas e outras razões a escola vem se transformando numa fábrica de produtos desqualificados. Para que tenhamos um mundo mais justo e solidário precisamos cuidar da educação. Traçando um caminho mais seguro, coerente, melhor e mais consciente, para que as gerações futuras possam construir suas trajetórias de vida com competência e de forma prazerosa, em benefício de uma sociedade mais equilibrada e de gente mais humana, de sentimentos nobres.

Compomos uma gigantesca categoria, porém, desunida, desorganizada e descomprometida. Sou fundadora do Sindicato dos Servidores Municipais de Custódia/PE, e tenho observado que a única causa que consegue unir de fato os professores é a questão salarial, infelizmente. É lamentável dizer: vestimos sempre a camisa quando lutamos por melhores salários, por que não vestir a camisa para lutar também por uma educação de boa qualidade e, por conseguinte, a valorização profissional que tanto almejamos?

Enquanto o professor não entender que é um agente de transformação da sociedade, um formador de consciência e não souber fazer uso das ferramentas que ele dispõe, não chegaremos a lugar nenhum. Pois, enquanto uma minoria tenta fazer a diferença, a grande maioria age com indiferença. As ferramentas as quais me refiro são: a comunidade escolar e o poder da oratória. Você já imaginou nossa categoria organizada, com uma proposta unificada usando o poder da oratória no contato com o aluno, à família e os próprios colegas? Sem sombra de dúvidas a história seria diferente.

Contudo, muitos deixam de fazer a sua parte e usam desculpas esfarrapadas para se justificar. Sou testemunha ocular de alunos postos para fora da sala de aula, simplesmente por não trazerem o livro didático. Um outro dia onze alunos me procuraram para pedir ajuda, pois haviam sido expulsos da sala, apenas porque a professora chegou e não os encontrou na classe. Aí, eu pergunto: que tipo de incentivo esse professor está dando ao aluno? Faço minhas as palavras de Anízio Teixeira: “A democracia depende de se fazer do filho do homem – graças ao seu incomparável poder de aprendizagem não bicho ensinado, mas um homem”.

Precisamos entender que as mudanças não acontecem de cima para baixo, elas de fato acontecem de baixo para cima. Quero finalizar fazendo uma analogia do professor com a fábula dos dois sapinhos que viviam à beira de uma lagoa, e um dia, um dos sapinhos cansados daquela mesmice, disse ao outro: vamos conhecer o mar? E o outro retrucou: Deus me livre! Se a gente sair daqui pode se perder ou morrer no caminho. O sapinho decidido disse: pois fique aí que eu vou conhecer o mar. Passaram-se dias, meses e depois de um ano é que o sapinho voltou à lagoa e encontrou seu amiguinho lá, no mesmo cantinho que havia deixado. O amiguinho perguntou: você conheceu o mar? Sim, respondeu. Qual o tamanho dele? Do tamanho dessa lagoa? Não, muito maior. Duas lagoas dessa? Não, muito maior. Três, quatro, cinco, seis, mil vezes? Por fim o sapinho respondeu: meu amigo enquanto você estiver com essa mentalidade de lagoa, nunca vai saber o que é o mar.

Infelizmente, a grande maioria dos profissionais da educação continuam com essa mentalidade de lagoa, inertes, a espera de um milagre.

Um abraço,
Profª. Luciene Pinto

Nenhum comentário:

Postar um comentário