José Major e Dona Firmina
José Major só tinha de militar o nome. Um homem alto, robusto, moreno, educado, fala mansa e pausada, sempre bem trajado, sereno e de palestra agradável. Fumava. Mas, infelizmente, por culpa do destino, não via onde pisava nem sabia por onde seguia, dependendo dos outros. Era cego. Morava na Várzea (atual Rua João Veríssimo do Amaral), numa casa cercada de árvores, um sítio de onde tirava o sustento da família, com criação de gado. Nunca soube o seu nome por inteiro. Era casado com a dona Firmina, e o pai de Socorro, Nizinha e Zélia Sá.
Zé Major era cego de ambos os olhos, mas via mais do que muita gente de boa visão e achava que o pior cego é aquele que não quer ver. Dona Firmina, além de extremosa esposa, foi a mulher mais trabalhadeira que conheci, e as filhas as mais amorosas da face da Terra, sem deixar de mencionar o servo fiel, seu eterno guia, Dema. Não resisto a tentação de falar da beleza de Socorro, um morenaço de fechar comércio, como se rotulava na época uma mulher formosa, que se assemelhava às mulatas do Rio de Janeiro, tão decantadas por Chacrinha e Sargentelli. Com os meus olhos de namorador mirim, era assim que a via, com muita simpatia, apreciando sua maneira de ser e admirando seu corpo escultural, cujas pernas, me lembro bem, eram um capricho da natureza, com todo respeito.
Zé Major costumava fazer ponto numa casa perto da minha, parece-me que na casa de Dona Dondom, mãe de Né Marinho, e, quando eu assomava à porta ele dizia: "Zé Carneiro?" Reconhecia-me pelas pisadas. Nunca o vi lamentando a cegueira. Era um homem notável. Visitei-o muitas vezes na Estrada da Imbiribeira, em Recife, onde morava com a mulher e as filhas Nizinha, e Zélia. Ele se alegrava com a minha presença e falava muito de Custódia, perguntando por tudo e por todos, com um profundo sentimento de amor e saudade de sua terra e de sua gente.
Zé Major, uma legenda viva de Custódia.
Autor: José Carneiro de Farias Souza (In memoriam)
Livro: A Baraúna (Prosa e Versos) - Recife - 2015
José Mariano de Sá, mas conhecido por Zé Major, era tio da minha avó materna Ana Pereira de Sá. Dona Anita ou Nita, como era chamada. Teve um sítio, vizinho ao da minha avó, logo após o chafariz da Várzea. Quando as filhas foram residir em Recife, ele morou um tempo em uma casa de sua propriedade, vizinho a casa de seu Cecílio Ferreira na Praça Padre Leão. No início de 1961 modou-se para o Recife, para morar com a filha Ivanise. Custódia ficou nas suas memórias carregadas de saudade. Amava a sua terra demasiadamente. Jorge Remígio
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