22 junho, 2023

José Carneiro comenta livro FOI ASSIM II de Fernando Florêncio

Livro Foi Assim II

P R E F Á C I O
J.Carneiro

Fernando Florêncio de Sousa, primo e conterrâneo, pede-me que, à guisa de prefácio, fale sobre o seu segundo livro – FOI ASSIM II – ainda em preparo.

Li o esboço do livro e atendo o pedido com gosto e emoção.

Fernando Florêncio é um escritor nato. Tem estilo próprio e escreve de forma peculiar. O seu primeiro livro - FOI ASSIM - me surpreendeu deveras. Li-o de um fôlego só, pois consegue prender a atenção do leitor do princípio ao fim. Tem vida e originalidade. Além de fugir do convencional, ele tem um toque especial de graça e singeleza. Eu diria que o estilo simples, as frases suaves, o pensamento solto e o linguajar espontâneo, sem preocupação semântica e literária, faz com que sua leitura se torne agradável e prazerosa. Esta assertiva pode despertar uma certa estranheza e curiosidade. Todavia, no decorrer da leitura se conclui que o segredo do mérito reside na sinceridade da palavra e na firmeza do pensamento. Por outro lado, a forma como expõe os fatos e o modo como vive as situações, cria um clima de franca comunicabilidade. Com efeito, tudo que diz agrada e desperta, por que sabe transmitir e convencer. Fiel às raízes, sem esconder as origens, faz um retrospecto de sua vida, exaltando sua terra e sua gente, notadamente amigos e familiares. Sua memória privilegiada não deixa que esqueça nada e conta tudo, chegando ao ponto de descer ao lugar mais profundo de sua privacidade, revelando o que vem da alma, numa exteriorização fora do limite. O livro, além de tudo, é abrangente, havendo, inclusive, lances históricos, beirando a romance. Entre os incontáveis casos e passagens, destaco o que refere ao movimento militar de sessenta e quatro, o qual, entre tantas coisas descritas, redundou na sua desditosa expulsão da Marinha de Guerra do Brasil; sobre a chegada de tio José Daniel em Nova Iguaçu e da doença e morte da prima Darcira, que quase me levam às lágrimas; e o caso estranho e misterioso envolvendo Severo de Lulu do Lambedor do Ingá.

Inicia o livro, contando que partiu de Custódia em cima da carroceria de um caminhão carregado de carvão e ganhou as estradas poeirentas do mundo em busca de novos horizontes. E destemido, próprio do sertanejo, enfrentou as vicissitudes da vida, transpôs os obstáculos do tempo e conquistou um lugar ao sol.

FOI ASSIM é a cara de Fernando Florêncio, seu retrato fiel de corpo inteiro, de frente e de perfil, em preto e branco, sem pose e sem retoque, de um tempo que se escondeu nos escombros do passado.

Agora é a vez de - FOI ASSIM II – o segundo livro, com outra feição e diferente roupagem. É outro o livro e outro é o autor, na essência e natureza. Assim é a vida, em sua constante evolução, em que a gente assiste aos seus lances e procura conhecer os seus meandros.

Sim, outro livro, por que sua leitura é amena e agradável. Já não cuida dos tormentos da vida e inquietudes do mundo, mas da beleza das coisas e dos encantos da natureza. E, de modo especial, do valor do bom combate, da grandeza do bem comum e do poder do trabalho.

Sim, outro é o autor, por que solto e desimpedido, alegre, contente e feliz com tudo e com todos, embalado pelo canto harmonioso da liberdade, vivendo na doce paz do lar, no convívio acalentador de uma família organizada e na companhia festiva de bons amigos e velhos companheiros. E, de quebra, a reparação de boa parte do direito que lhe foi usurpado, propiciando o sossego de um porto seguro.

É um outro homem, num momento auspicioso, não mais amargando a incerteza do futuro, mas saboreando as delícias do presente e usufruindo os prazeres da vitória conquistada a duras penas. E qual certo pedreiro, vestindo apropriado avental, se sente realizado por ter conseguido construir um edifício sobre sólidas colunas. Um verdadeiro exemplo de vida. Uma afirmação de que só através do bom trabalho se pode conquistar a terra e ganhar os céus. Que somente servindo bem a Deus e aos semelhantes se pode ter felicidade, por que ninguém é feliz sozinho.

Como se não bastasse, depois de tanto tempo, como num passe de mágica, encontra-se de volta à sua terra natal. Quanta alegria! Quanta recordação! Quanta saudade! Só que, agora, em vez de uma carroceria de um caminhão carregado de carvão, por estradas esburacadas e poeirentas, em automóvel moderno e por rodovias asfaltadas. E, para gáudio seu, numa Custódia completamente diferente de quando a deixou. Pois que, também uma nova terra, risonha e pacífica, inteiramente isenta das agruras do passado. E, mais do que isso, cheio de si, cantando vitória, revendo as mesmas paisagens e trilhando os mesmos caminhos, rodeado dos velhos companheiros e de braços dados com os custodienses ausentes, que também voltaram ao inesquecível torrão. Quanta felicidade!

Custódia é e sempre foi uma cidade diferente das demais. Ela tem algo a mais que as outras. Difere em graça e riqueza, sobressaindo-se no folclore e literatura, com muita história para contar. Tem características próprias e singulares, valendo destacar: as belas e tradicionais festas de São José; as fervorosas novenas do mês de maio; o velho cruzeiro no homônimo morro; as sentimentais serenatas ao clarão da lua cheia; os movimentados dramas de Padre Duarte; os animados bailes nos salões do Fênix; a insubstituível zabumba de Zé Biá; as impagáveis lorotas de Jovino Costa Leão; a bela fonte do Sabá; a Serra da Torre; a Serra da Velha Chica; a grande e rica fazenda do Dr. Aurélio Vasconcelos no distrito São Caetano; as conceituada s parteiras mãe Delmira e Sá Manoela; os geniais Duda Ferraz e José Perfeito; os inflamados discursos de Catonho Florêncio; os inconfundíveis leilões de seu Floriano Pinto; as enternecedoras crônicas de José Melo; as marcantes participações culturais de Paulo Peterson e Jussara Burgos; a várzea e o eclipse, saborosas produções de Jaílson Vital; a feira de Custódia de Fernando José, uma peça literária; a chegado do bispo, de Jorge Remígio, de forte sabor humorístico; os justos e perfeitos traços, feitos sob o prumo do compasso e do esquadro, no desenho de Joaquim Pereira, por seu filho José Neto; os líricos livros de Ernesto Queiroz Júnior, Maria José do Amaral França, Sevy Gomes de Oliveira, Odete de Andrada Alves e Fernando Florêncio de Sousa, com referência especial ao historiador Jovenildo Pinheiro, são manifestações intelectuais que elevam e dignificavam a comunidade.

Custódia é um celeiro de profissionais qualificados: médicos, veterinários, dentistas, enfermeiros, advogados, bacharéis de várias áreas, padres, professores, cinco juízes de direito e categorias outras.

O blog de Paulo Joaquim Peterson Pereira - Custódia Terra Querida – merece menção especial, por ser de utilidade pública e pelo zelo como é administrado, projetando a cidade e concidadãos.

Enfim, os livros de Fernando Florêncio, tanto um como o outro, mais do que aventuras de um velho marinheiro, são o testemunho vivo da personalidade de um homem de fibra, de fé e de coragem, que, com esforço próprio e mercê de Deus, combateu o bom combate e conquistou o lugar que lhe foi reservado na seara do Senhor. E, mais do que isso, movido pelo mais puro sentimento de amor e gratidão, deu tudo de si por aqueles que lhe deram nome – José Daniel e Laura Florêncio.

2 comentários:

  1. Sem intenção de fazer Marketing Pessoal.

    Mas este prefácio e esta capa estão bonitos demais.
    Oportunamente enviarei as impressões, também prefaciais, escritas por Laìse Pires.

    Com essas considerações dos meus conterrâneos, estou mais fôfo que o "pão de ló da Tia Prezalina"

    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba.

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  2. Quem acompanha este blog, que conheça alguém dos Saboyas, faça chegar até eles esta matéria.

    Faça ver ao Dr.Fernando Saboya, meu pai biológico, que ele não gerou nenhum borra-botas, mas um homem com "H" de homem do qual ele deveria se orgulhar. Não obstante os percalços, estou aberto a qualquer entendimento. Completei 69 anos esta semana (14/10). Não gostaria de que nenhum dos dois viesse a morrer deixando esta pendência para tras.

    A humildade responsável é melhor que o orgulho prepotente.

    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba

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