Nosso Senhor Jesus Cristo
Chamou São Pêdo outro dia,
Dixe, vá na terra, essa sumana
Prum trabáio de valia
Vêja cuma tá o meu povo,
Me contá o qui há de novo
E vortá cum sete dia.
São Pedro chegou na terra,
Cum muita disposição,
Vêi parar im Pernambuco,
Bem no mêio do Sertão.
Pamode tudo obiservá
E vortar para contá,
Cuma tá a situação.
Duas sumana já passou,
São Pedro nun deu nutiça
Deus intão mandou pra ele
Um recado sem maliça
“Pedro, vorte ligêro
Sinão eu mando traze-lo,
Nem qui seja cum a puliça
São Pedro intão resolveu,
Pru Paraíso vortá.
Chegou pra Deus e passou,
As nuvidade a contá:
“No sertão tá bom danado,
Eita povo animado,
Achei bom tê ido lá”.
Lá tá tudo muito bom,
Tem fartura de cumida,
Buxada e sarapaté,
Tem quaiada iscorrida
Cuscuz cum leite e jabá,
Di tudo do mundo há,
Tá tudo uma boa vida.
São Pedro No Sertão
Quando é nas sexta-fêra
Tem forró no pé de serra,
Cum a sanfona gemendo
Cum a zabumba qui berra,
Digo cum satisfação,
Qui, hoje, lá o sertão
É o mió lugá da terra.
Tem festa de vaquejada,
Casamento e pescaria,
Futibó e pega de boi,
Samba, coco e cantoria
Lá ninguém vê a tristeza,
Muita fartura na mesa
Tudo cum muita alegria!
Intão Deus lhe perguntou,
Intão lá num tem mais fome?
Tu qui passasse esses dia
Junto cum aqueles home,
Me arresponda agora,
Tu visse arguma hora
Eles falá no meu nome?”
São Pedro li respondeu:
“Ingraçado, eu num vi.
Nuca falaro im seu nome
E se falaro eu num uvi
Mas isso eu agaranto,
Num falaro in nem um santo
De todos qui tem aqui.”
No outro ano, de novo,
São Pedro foi chamado.
Prá vortá de novo a terra
Aí ficou logo animado
Deus disse, vá, passe um mês,
Ou se quizer, passe três.
E me traga o resultado.
Saiu numa sexta-feira,
Logo no sabo vortô.
Foi direto ao Gabinete
Do nosso Pai Criadô.
E com o seu falatóro
Fez logo o relatóro
De tudo qui incontrou.
“Meu Senhor lá no sertão,
Ta uma seca danada
Num tem água pra bebê,
De comê num tem mais nada
Só tem sufrimento e peleja
Muita miséra e tristeza
A vida quaji acabada.
Deus então li perguntou:
Se São Pedro ouviu falá,
O nome de Deus ou de Santo,
Pur argum home de lá.
Respondeu: “É toda hora,
Quando resa ou quando chora
Tão sempre a se lembrá.
Tem resa missa e novena
Ladainha e Procissão
O povo muito contrito,
Cum o rusáro na mão
Clama pro nosso sinhô
Eita povo rezadô!
Veve só de oraçãqo
Isso prova qui o povo,
Quando tá no sufrimento
Se lembra de Deus e reza
Pra suportar o tormento
Mas se tá cum a vida boa
Brinca, pula e sorta loa
De Deus num lembra um momento.
José Melo
(Baseado em anedota popular)
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