Por
Vanise Rezende
Recife-PE
Junho/2020
Vanise Rezende
Recife-PE
Junho/2020
De
uma apagada fotografia de quando eu era criança, posso inferir que eu
era uma menina gorducha de olhos repuxados, lábios volumosos, bochechas
notáveis e cabelos abundantes. Tudo o que recordo daquela época são
histórias que me mãe me contara mais tarde. Reminiscências com toques da
imaginação.
Um
dia – eu tinha entre quatro a cinco anos – entrei na sala de costura da
minha mãe e a encontrei fazendo um bonito vestido para Leny, minha
irmã.
- E o meu? – perguntei-lhe enciumada.
- Depois eu vou fazer o seu e o de Laíse...
- Vai ficar bonito como o esse?
- Vai! Eu ainda vou comprar o tecido. Agora vá brincar, me deixe terminar aqui.
A
promessa de Ester, minha mãe, não me convenceu. Saí direto para o
cartório do meu pai. Eram os anos ’40, um tempo em que as crianças
circulavam tranquilas na rua. As famílias se conheciam e cuidavam uns
dos outros.
No cartório contei ao meu pai que queria comprar um vestido igual ao que mamãe estava fazendo para Leny.
Seu
Né – muito ocupado no seu ofício – enfiou a mão no bolso e me deu um
cruzado. Era uma bonita moeda de prata um pouco maior do que o real de
hoje, e mais pesada.
Atravessei
a rua e fui à loja de tecidos de Tio Zuzu. Na ponta dos pés depositei o
cruzado no balcão, e lhe pedi um pano para meu vestido novo. Meu tio
sorriu, deixando cair o pincenê, e fez um sinal para o balconista, que
logo encontrou um retalho estampado. Meu tio me entregou o embrulho e o
cruzado de volta, dizendo-me para voltar para casa.
Minha
mãe só percebera que eu tinha saído quando lhe entreguei o pacote, com o
tecido para o meu vestido. E fui brincar feliz, porque ia ficar bonito
como o da minha irmã! Quanto ao cruzado, não faço ideia do seu destino.
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