10 maio, 2023

Um amigo irmão


 

Matriculado no Ginásio Municipal Padre Leão, conheci o Ferdinando Feitosa, que se tornou muito mais que um simples colega de escola. Carinhosamente chamado de Saruê, era extremamente alegre e brincalhão, característica que detém até hoje. Lembro que no início do primeiro ano ginasial, Ferdinando me deu uma ajuda. É que o Ginásio adotava um fardamento composto de calça e camisa na cor cáqui, e uma gravata azul marinho. 

A duras penas consegui a farda, mas não havia gravatas pequenas no mercado, e foi aí que Ferdinando me ajudou, pedindo à sua mãe, a sempre gentil D. Maria, que ao fazer a gravata dele também fizesse a minha. Nossa amizade só foi arrefecida pela distância. Ferdinando foi estudar no Recife, onde concluiu o curso de medicina e eu permaneci na pequenina Custódia. 


Anos depois foi a vez de conhecer aquele que foi realmente o meu melhor amigo: Feitosa, irmão de Ferdinando, Célia, Maristela, Lozinho e Tadeu. Minha amizade com Feitosa foi intensa, desse tipo de confiança plena e recíproca.

Colegas de trabalho – eu, secretário de administração, ele de finanças, da Prefeitura Municipal de Custódia, nas gestões de Luizito e Djalma Bezerra, sempre procurávamos atender a todos de forma civilizada e cidadã. 

Lembro que em um ano de seca braba, nós dois ficamos responsáveis pelos programas de emergência, o cadastramento dos trabalhadores, a fiscalização e o pagamento dos grandes contingentes de trabalhadores assistidos pelas frentes de emergência.


Durante anos trabalhamos juntos, com uma rotina sempre igual. Após o expediente, íamos tomar a tradicional “cervejinha” na Churrascaria Ribeiro, do nosso amigo comum Uilton, onde papeávamos bastante, bem como constantemente encontrávamos celebridades em passagem por Custódia. Assim, conhecemos Alceu Valença, Genival Lacerda, Paulo Diniz e muitos outros que vez por outra apareciam por lá na hora do almoço. 

O Feitosa tinha como característica a sinceridade, e uma solidariedade fora do comum. Sempre procurava ajudar os menos necessitados. Tinha sempre uma palavra amiga, e era um apoio para os amigos.

Com a eleição de Feitosa para Vice-Prefeito em Betânia, e a derrota de Luizito em Custódia, passamos a nos encontrar bem menos. Com a posse de Belchior na Prefeitura de Custódia, a quem combati na campanha eleitoral, e Custódia, pedi licença sem vencimentos, diretamente ao Prefeito, que numa demonstração de compreensão, ainda tentou me convencer a não me afastar do cargo, o que não me convenceu. Afastado da Prefeitura, passei alguns meses trabalhando em Barbalha no Ceará, na empresa de Luizito. Depois, retornei a Custódia, indo trabalhar na Fazenda Santa Rita, do então Deputado Ricardo Fiúza.


Deixando a Fazenda, fiquei desempregado e Feitosa tentou o máximo possível conseguir um trabalho para mim, na Prefeitura de Betânia, não sendo no entanto, atendido pelo Prefeito que ajudou a eleger. Depois foram dias difíceis para nós dois. Preterido em suas pretensões, Feitosa assumiu o cargo de Secretário de Finanças de Serra Talhada, cujo Prefeito era Ferdinando, seu irmão. Já na primeira oportunidade me deu uma ajuda: como eu estava desempregado, ele me contratou para emissão dos boletos de IPTU de Serra Talhada, o que vim a fazer improvisando equipamentos de informática que não tinha.

A morte de Feitosa foi um tremendo baque para mim. Era como se fosse meu irmão, tanta afinidade nós tínhamos.

Recordo que no velório, em Betânia, procurei a todo custo não me encontrar com Célia a sua esposa e também grande amiga minha. Eu simplesmente não sabia o que dizer a ela numa hora como aquela. Assim, fui me despedir do meu amigo, sempre procurando não ser visto por ela, no entanto ela me viu, e em prantos pediu que eu me aproximasse, não fugisse, pois a minha presença para ela era como se Feitosa estivesse ali, vivo, como sempre convivemos.

Ainda no decorrer da cerimônia, Ferdinando disse que precisava falar comigo. E ao final do dia, me convidou para assumir a função de Secretário de Finanças da Prefeitura de Serra Talhada, que exerci até o final do seu mandato.

Por Zé Melo

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