Matriculado no Ginásio Municipal Padre Leão, conheci o Ferdinando Feitosa,
que se tornou muito mais que um simples colega de escola.
Carinhosamente chamado de Saruê, era extremamente alegre e brincalhão,
característica que detém até hoje. Lembro que no início do primeiro ano
ginasial, Ferdinando me deu uma ajuda. É que o Ginásio adotava um
fardamento composto de calça e camisa na cor cáqui, e uma gravata azul
marinho.
A
duras penas consegui a farda, mas não havia gravatas pequenas no
mercado, e foi aí que Ferdinando me ajudou, pedindo à sua mãe, a sempre
gentil D. Maria, que ao fazer a gravata dele também fizesse a minha.
Nossa amizade só foi arrefecida pela distância. Ferdinando foi estudar
no Recife, onde concluiu o curso de medicina e eu permaneci na pequenina
Custódia.
Anos
depois foi a vez de conhecer aquele que foi realmente o meu melhor
amigo: Feitosa, irmão de Ferdinando, Célia, Maristela, Lozinho e Tadeu.
Minha amizade com Feitosa foi intensa, desse tipo de confiança plena e
recíproca.
Colegas
de trabalho – eu, secretário de administração, ele de finanças, da
Prefeitura Municipal de Custódia, nas gestões de Luizito e Djalma
Bezerra, sempre procurávamos atender a todos de forma civilizada e
cidadã.
Lembro
que em um ano de seca braba, nós dois ficamos responsáveis pelos
programas de emergência, o cadastramento dos trabalhadores, a
fiscalização e o pagamento dos grandes contingentes de trabalhadores
assistidos pelas frentes de emergência.
Durante
anos trabalhamos juntos, com uma rotina sempre igual. Após o
expediente, íamos tomar a tradicional “cervejinha” na Churrascaria
Ribeiro, do nosso amigo comum Uilton, onde papeávamos bastante, bem
como constantemente encontrávamos celebridades em passagem por Custódia.
Assim, conhecemos Alceu Valença, Genival Lacerda, Paulo Diniz e muitos
outros que vez por outra apareciam por lá na hora do almoço.
O
Feitosa tinha como característica a sinceridade, e uma solidariedade
fora do comum. Sempre procurava ajudar os menos necessitados. Tinha
sempre uma palavra amiga, e era um apoio para os amigos.
Com
a eleição de Feitosa para Vice-Prefeito em Betânia, e a derrota de
Luizito em Custódia, passamos a nos encontrar bem menos. Com a posse de
Belchior na Prefeitura de Custódia, a quem combati na campanha
eleitoral, e Custódia, pedi licença sem vencimentos, diretamente ao
Prefeito, que numa demonstração de compreensão, ainda tentou me
convencer a não me afastar do cargo, o que não me convenceu. Afastado da
Prefeitura, passei alguns meses trabalhando em Barbalha no Ceará, na
empresa de Luizito. Depois, retornei a Custódia, indo trabalhar na
Fazenda Santa Rita, do então Deputado Ricardo Fiúza.
Deixando
a Fazenda, fiquei desempregado e Feitosa tentou o máximo possível
conseguir um trabalho para mim, na Prefeitura de Betânia, não sendo no
entanto, atendido pelo Prefeito que ajudou a eleger. Depois foram dias
difíceis para nós dois. Preterido em suas pretensões, Feitosa assumiu o
cargo de Secretário de Finanças de Serra Talhada, cujo Prefeito era
Ferdinando, seu irmão. Já na primeira oportunidade me deu uma ajuda:
como eu estava desempregado, ele me contratou para emissão dos boletos
de IPTU de Serra Talhada, o que vim a fazer improvisando equipamentos de
informática que não tinha.
A morte de Feitosa foi um tremendo baque para mim. Era como se fosse meu irmão, tanta afinidade nós tínhamos.
Recordo
que no velório, em Betânia, procurei a todo custo não me encontrar com
Célia a sua esposa e também grande amiga minha. Eu simplesmente não
sabia o que dizer a ela numa hora como aquela. Assim, fui me despedir do
meu amigo, sempre procurando não ser visto por ela, no entanto ela me
viu, e em prantos pediu que eu me aproximasse, não fugisse, pois a minha
presença para ela era como se Feitosa estivesse ali, vivo, como sempre
convivemos.
Ainda
no decorrer da cerimônia, Ferdinando disse que precisava falar comigo. E
ao final do dia, me convidou para assumir a função de Secretário de
Finanças da Prefeitura de Serra Talhada, que exerci até o final do seu
mandato.
Por Zé Melo
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