Rogério Gonçalves Pessoa
Olinda - PE
Maio/2020
Quanto mais
vamos caminhando ao longo da vida e a neve do tempo teimando em cobrir
nossos cabelos, mais distantes ficam as lembranças do nosso passado.
Porém, existem fatos que, comprovadamente não saem da nossa memória, que
não são vencidos pelo passar dos anos, como sua primeira bicicleta, seu
passeio inesquecível, sua primeira comunhão, suas professoras do
primário e ABC.
Claro que,
muitas destas emoções remetem da época em que vivemos neste pedaço de
chão que nos envolve, mesmo a distância, embora a um longo tempo sem
pisar nesta terra abençoada por Deus, Custódia – PE.
E é justamente
desta época que vou falar, lá pelos idos de 1976, 1977, onde um dia
comum na vida daquele garoto começara e que deixaria entalhado em sua
memória este encontro inusitado com o rei do baião.
Era costume na
maioria dos finais de semana irmos até o Hotel Macambira, almoçar com a
família, recebidos por Tio Gerson e tia Teca.
Por lá, onde
caminhávamos por todo os lugares, lembro da cozinha a todo vapor,
preparando as delícias, as carnes de sol temperadas por meu avô Amaro
estendidas no quintal, vovó Maria inspecionando tudo, os adultos
conversando e os primos? Ah, esta equipe não parava um segundo:
Os filhos de
Gerson e Terezinha se juntando com os de Nicinha e Rui, meu Pai do céu.
Pegava fogo! Não tinha um lugar do terreno em que a gente não
explorasse. E Virgínia, nossa eterna cuidadora ainda tinha que ouvir
piadas em que ficava vermelha e pedia pra gente parar. Ah, Virgínia,
quantas lembranças boas.
Acredito que
antes do almoço parou uma comitiva na frente do hotel e como todos sem
exceção eram bem recebidos, um senhor alto chegou no balcão e pediu
rapadura batida, produto bem vendido no hotel. Eu vinha saindo da
cozinha e parei diante do balcão, identificando aquela voz.
Sim, era ele,
seu Luiz Gonzaga, rei do baião, aquele que cantava a “Apologia do
Jumento”, que eu repetia tanto. Já que não tinha vergonha de nada mesmo,
olhei pra ele e disse:
-Seu Luiiiiz, comi seu mi, e como, e como, e como...
Já junto da portinha que dividia os balcões.
Aí todo mundo
se virou e queria saber de quem era aquela voz, e o rei do baião,
solícito e muito simpático, colocando sua mão em minha cabeça falou:
-Fi da peste, comeu mesmo!
Risos no salão do hotel e eu realizado! O rei tocou minha cabeça e falou comigo!
Pronto, deste
dia para cá, ao escutar suas músicas, este fato se repete na memória,
onde já contei inúmeras vezes, o que aviva mais esta linda experiência:
O dia em que vi o rei.
Farão parte da terceira edição do meu livro Foi Assim 1, um relato semelhante enviado por Jussara Burgos e outro enviado por Petronio Eugênio. Ambos são engraçados, porém com desfechos diferentes. (Fernando Florêncio)
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