13 novembro, 2023

A alma das ruas (José Carneiro)

 


JOSÉ CARNEIRO DE FARIAS SOUZA

A Baraúna
(Prosa e Versos)
Recife-PE
2015

As ruas são a alma das cidades. Toda rua tem um nome e uma história. Ninguém esquece a sua rua, especialmente aquela onde se viveu na infância. A rua sempre guarda algo que nos acompanha por toda a vida, porque ela faz parte da história de cada um de nós. Da minha rua recordo de muitas passagens agradáveis e deliciosas, especialmente da esquina, onde eu ia esperar minha primeira namorada quando ela vinha da escola e onde eu dei o primeiro beijo.

A Rua 4 de Outubro, hoje Praça Padre Leão, era a artéria principal de Custódia. Era o centro da cidade. Nela estava o grosso comércio e moravam os habitantes mais velhos do lugar.

Encabeçava a rua a Igreja Matriz de São José. As alas de suas casas eram distanciadas da outra e, no meio, onde agora é a Praça Padre Leão, não havia nada. Era aquele vazio.

Do lado direito, o primeiro imóvel, esquina com a rua da Várzea, o Açougue Público Municipal, seguindo-se a casa de Solidônio Medeiros e Marta Rodrigues, proprietários da Fazenda Serrote e tidos como os mais ricos do município; a casa de dona Dondom, mão do tabelião Né Marinho; a casa de Apolônio Carneiro e Maria Farias; a Casa Paroquial; a Casa de Né Marinho e Ester; um grande bangalô, alpendrado, que, transformado inteiramente, foi a loja de tecidos e residência do casal Valentim e Eva Simões; a loja de tecidos de Elpídio Pires, que veio a se casar com Alzira Pires; a loja de tecidos de Zuzu Pires, casado com Filomena Pires; a Casa Góis, comercial, dos irmãos Sebastião e Domingos Góis; a Padaria Confiança, de João Miro, casado com Jovelina Góis; a Padaria de Cícero Gomes, casado com a dona Bela; a casa de Pordeus Pires, casado com Dona Lica; e a Prefeitura Municipal, onde hoje é a agencia do Banco do Brasil.

O flanco esquerdo começava com o Hotel Sabá, de Izabel Mafra, atualmente a Prefeitura Municipal, seguindo-se a mercearia e casa residência de Joventino Feitosa, casado com Analrelina Góis/; o “Vapor”, bolandeira de descaroçar algodão, de Antônio Junco; o Bar Fênix, de Né Marinho; a loja de tecidos de Zé Daniel, casado com Laura Florêncio; a casa residencial e cartório de Luiz Amaral, oficial do Registro Civil; a Farmácia Pereira, de Joaquim Pereira, casado com Corina Pereira; e, por fim, a sapataria de Duquinha de Antônio Cota.

Na Rua 4 de Outubro nasci e passei a infância e juventude. Ela foi a fonte das minhas inspirações. Nela senti as primeiras manifestações da natureza e vivi os melhores dias de minha vida. Provei o sabor de viver e vi as belezas do mundo. Enfim, construí os mais coloridos sonhos de minha existência.

A Rua 4 de Outubro permanece viva na minha memória e retina como a mais sadia e promissora arrancada das realizações da minha vida pública e privada.

Eis parte da história da rua mais bela da face da Terra.

 

Para acessar mais conteúdos de José Carneiro, clique AQUI

 

 


2 comentários:

  1. Não sabia que esta Rua tinha este nome, em uma casa nesta Rua Nasceu O Meu Pai, Domingos Alves de Gois!

    ResponderExcluir
  2. Que texto maravilhoso! Passeamos por suas palavras.

    ResponderExcluir