Por José Melo
Recife-PE
Julho/2013
Recife-PE
Julho/2013
A vida de caminhoneiro sempre
atraiu muitos fazendeiros do sertão, que não raro, vendiam seus rebanhos e
aplicavam todo o dinheiro em caminhões, na maioria das vezes, velhos, que
terminavam por arruinar financeiramente os antigos fazendeiros.
Muitas
estórias eram contadas sobre a ventura e desventura desses aventureiros. Como a
de um fazendeiro que comprou um velho caminhão, depois de ter vendido boa parte
de seu rebanho. O caminhão quebrava mais que bolacha Creme Craker, e constantemente
o velho fazendeiro tinha que vender algumas rezes para custear os constantes
reparos.
Até
que sem mais nenhuma rês para vender, com o caminhão quebrado no terreiro da
fazenda, tomou uma decisão: mandou o “Chauffer” abrir a boca do “bicho” ( levantar
o Capô), e dirigindo-se ao caminhão deu o veredito:
- “ Ô seu infeliz, você já comeu
todo o meu gadinho, comeu toda a minha safra de algodão, comeu todo meu rebanho
de cabras, e agora num tem mais nada. Se quer comer, agora você só tem as
minhas terras. Vender eu não vendo mas se quizer, pode começar a comer!”
Esse
evidentemente é um caso que não posso assegurar como verídico, mas muitos
outros são verdadeiros, como o que relato a seguir.
Zé
Batista sempre foi um fazendeiro muito equilibrado e trabalhador, sempre
zelando por sua bela fazenda na Cacimba Nova.
Dado
a proximidade da cidade, passou a morar na cidade. E foi contaminado pelo
“cheiro da gasolina”.
Mas,
precavido, procurou não errar. Antes de mais nada, construiu uma Garagem, na
Rua Dr. Fraga Rocha. E quando alguém perguntava que construção era aquela, ele
respondia sempre:
- “É uma garagem, pois penso no
futuro em comprar um caminhão”.
Os
amigos então o aconselhavam a desistir da empreitada, apontando os insucessos
de muitos que enveredaram pela vida de caminhoneiro. Mas ele, apesar de analfabeto, era
inteligente. Terminou a construção, trabalhou mais algum tempo, e depois
comprou um Caminhão Chevrolet Brasil, zero quilômetro. Contratou um motorista e
passou a realizar o seu sonho: fazia o transporte de mercadorias do Sudeste
para o Nordeste e vice-versa.
Com
o passar dos tempos passou a encaminhar a filharada para a profissão de
caminhoneiro. Resultado: todos os seus filhos, à exceção do caçula, o saudoso
Ozório, passaram a dotar a profissão de motorista. Foi assim, um dos poucos
fazendeiros que migrou para a atividade de transporte com sucesso.
Outros,
nem tanto. Meu próprio pai tinha um comércio ativo, bem movimentado, com grande
clientela. Caiu na tentação de ser caminhoneiro e viu seu comércio ir a deriva.
Vários
“causos” engraçados se contam sobre caminhoneiros sertanejos. Como o de um
Fazendeiro das Bandas do Barro Vermelho, que comprou um caminhão, e na primeira
viagem, o novo caminhoneiro segui na cabine ao lado tendo o motorista, de nome Valdeci,
constatado já no final da descida da Serra do mimoso que o “bruto” perdera os
freios, exclamou:
“- Valha-me Deus, faltou freio!”
Ao que o apavorado transportador
passa a implorar:
“- Intonce, Sêo Vardemar, pare
pra eu descer, qui eu nun quero morrer de virada não!”
Outro
fala sobre a arrogância de um motorista que acabara de dar um polimento na
pintura do famoso “Marta Rocha” ( Chevrolet 1956, de linhas arrojadas para a
época), quando um fazendeiro, encantado com a beleza do bruto passou a mão na
pintura, ao que o motorista “chiou”:
“ - Ei, velho, tire a mão e esse
saco velho da pintura do caminhão.”
Ao que o pobre coitado,
humilhado, pergunta ao motorista:
“- Sêo moço, qui má lhe pregunto:
quanto custa mar ou meno um caminhão desse?”
O Motorista, para humilhar ainda
mais o velhote, deu um preço bem superior ao real. O velhinho fez as contas,
abriu o saco velho e despejou em cima do capô do caminhão, uma verdadeira
fortuna, fruto da venda de uma boiada, e cujo valor cobria o valor informado
pelo motorista, e deu o troco ao motorista:
“- Apois se o caminhão vale isso
e é seu, me passe os papé dele que eu compro ele agora, e pago a vista. Agora
se não for seu, dêxe de xalerá o dono e num venha querer passar pito nas
pessoa!”
Certa
feita, Adamastor foi chamado para consertar uma camionete, em Quitimbu, que
fazia semanas que a “bicha” não “pegava” nem no tranco.
Limpeza
do carburador, regulagem do relê, bota em tempo, enfim, faz uma revisão geral.
Como a bateria estava arriada, pede aos presentes para dar uma empurradinha na
camionete, para ver se ela “pegava”.
Na
primeira tentativa, nada, na segunda também não. Depois de várias tentativas e
novos ajustes, enfim ela pega, fazendo aquele barulhão tão esperado pelo dono,
que não se contendo agradeceu:
“ Viva Santa Luzia, qui graças a
ela meu carrim tá bom de novo!!!
Ao que, Adamastor, conhecido por
sua fina ironia, não perdoou:
“- Se foi ela que consertou seu
carro, porque você foi me chamar pra consertar?”
E o agora feliz proprietário
contra argumentou:
“- Você consertou, mas ela
ajudou!”
Adamastor aproveitou e concluiu:
“- Então você vai ter que pagar
dobrado: além do meu trabalho, que deu certo, você teve a sorte de ter uma
Santa ajudando!
E o pobre homem pagou a Adamastor
regiamente e ainda faz uma doação para a Padroeira de Quitimbu.
E pra finalizar, nada mais
ridículo do que aquele ajudante de caminhão que, para garantir a segurança do
veículo e da carga, foi dormir na boleia do caminhão. Quando se preparava para
dormir, descobriu um pijama do dono do bruto, e não teve conversa: vestiu
aquela roupa “chic”.
Só que na manhã seguinte, quem
disse que ele conseguia desamarrar o nó cego que ele deu no cordãozinho do
pijama? Pense num sufoco, vendo a hora o dono chegar e ele ali vestido no seu
belo pijama!!!
Não sei o final, só sei que isso
aconteceu na antiga Bomba, no Posto Shell que lá havia.
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