Por José Soares de Melo
Minha aproximação com o Sr. Gerson Gonçalves ocorreu nos meus
quatorze ou quinze anos de idade. Nessa época, ele iniciava a vitoriosa
trajetória da Tambaú. A fabriqueta ficava na Avenida Inocêncio Lima, bem
próximo à ponte daquele logradouro. Ainda hoje lembro perfeitamente a imagem
dele sentado em um banquinho, mexendo vagarosamente o doce fervilhando no tacho
de cobre, instalado sobre “trempes” – três pedras que faziam as vezes de fogão,
no meio do único vão que era toda a fábrica. Na entrada do prédio ficava a
administração da pequena empresa. Um birô, uma cadeira e uma estante onde eram
guardados os livros fiscais e o material de embalagem. Uma grande mesa era
usada para recortar o papel celofane que servia de embalagem para os tabletes
de doce de goiaba, e das famosas mariolas: o mesmo tablete de doces, sem a
embalagem, mas recobertos por uma camada
de açúcar.
Essa
aproximação se deu porque na época ele tinha tendências políticas – a nível
nacional, voltadas para a esquerda, e, para difundir isso, ele me convocou para
vender exemplares do jornal “Última Hora”, que era a banda esquerda da imprensa
da época. Diariamente eu recebia os poucos exemplares e percorria as ruas sem
movimento da Custódia de então.
Com o
advento da revolução de 31 de março de 1964, o “Última Hora” saiu de
circulação, e eu passei a ajudar na escrituração fiscal da pequena empresa, e
na embalagem de doces.
Na época, o
quadro de funcionários da Tambaú era bastante reduzido: o próprio Gerson
Gonçalves, sua cunhada Cícera Souza, e Alfredo, baixinho, forte, (jogava
futebol no time principal da cidade), e que era o responsável pelo trabalho
pesada da fabriqueta: transportar e cortar
lenha, fazer entregas e outros
serviços. Dois anos depois
ingressei no serviço público, me afastando assim da Tambaú.
Sempre
admirei o caráter de Gerson. O competente empreendedor que era nada tinha a ver
com a figura do empresário que passa por cima de tudo e de todos em busca do
lucro. Sempre respeitou os valores éticos, e procurava ajudar a quem
necessitasse. Talvêz isso tenha contribuído para o crescimento firme e sólido
da empresa. Todos que trabalhavam com ele tinham orgulho de colaborar com o
crescimento da empresa. Em contrapartida, sempre reconhecia os méritos dos seus
colaboradores, e quando a empresa já estava consolidada, todos os funcionários
eram brindados com um verdadeiro banquete no dia do Trabalhador, prática que
acredito ainda ser corrente na empresa. Cheguei a participar de um desses
eventos, como convidado, em sua Fazenda, pertinho da cidade. Churrasco, bebida,
e música para todos.
Na década de
setenta, com a eleição de Luizito para Prefeito, fui nomeado secretário. Com em
toda eleição, após a posse correu o boato de que Luizito iria cortar o
fornecimento da água do poço do antigo chafariz, que ajudava no abastecimento
da fábrica. Paralelamente, aventou-se a possibilidade de, se isso viesse a
acontecer, a Tambaú seria transferida, preferencialmente para Petrolina.
Sabendo disso Luizito determinou a mim e a João Bosco, que, como emissários
oficiais fôssemos até a Fábrica Tambaú, assegurar a Gerson que o fornecimento
de água não só estava garantido, como ele poderia fazer novos poços se assim o
desejasse. E nossa conversa com Gerson encerrou todos os problemas: ele acatou
e confiou e tudo permaneceu como estava, com a Tambaú crescendo vertiginosamente,
levando seus produtos e o nome de Custódia para todos os recantos do Brasil, e
até para o exterior. Aliás, dessa eleição lembro um diálogo que mantive com
Gerson. Eu era candidato a Vereador, e certa feita, no oitão da Igreja, ponto
de encontro dos custodienses para botar o papo em dia – que não sei porquê
cargas d’ água chamavam o encontro de “Pau do Urubú”, ele me perguntou porque
eu não havia lhe pedido o voto. Sem nenhuma modéstia, eu respondi:
- Não pedi porque você só vota em quem acha o melhor, e como
sou o melhor, você já ia votar em mim mesmo!
Tempos
depois ele me confirmou que efetivamente naquele dia já estava certo de votar
no meu nome.
Nas
comemorações do cinqüentenário de Custódia, a Tambaú colaborou bastante com as
comemorações. Em uma sessão solene em que vários custodienses foram agraciados
com uma plaqueta em reconhecimento a serviços prestados, Gerson foi um dos
homenageados.
Naquela
ocasião eu fui surpreendido também como homenageado. Porém a maior homenagem
que eu recebi naquele dia, foi um simples comentário de Gerson, sobre a citada
homenagem. Após agradecer de público a plaqueta no menor discurso que já fiz na
minha vida, recebi a melhor homenagem que poderia esperar: Gerson Gonçalves se
dirigiu a mim e disse textualmente:
- “ De todas
as homenagens prestadas, a mais merecida foi a sua”.
Sinceramente,
fiquei sem palavras, ouvindo aquilo justamente da pessoa que eu mais admirava
na cidade, o vitorioso empresário Gerson Gonçalves de Lima, esse ícono do
empreendedorismo no Estado de Pernambuco.
Uma correção: a eleição para o cargo de Vereador a que me referi no texto acima na verdade ocorreu na eleição anterior, e não quando Luizito foi eleito.
ResponderExcluirSua eleição foi em 1972.Votei também com você. Tio Orlando estava doente no Hospital e me pediu pra votar com você. Eu confirmei que já iria votar pois éramos amigos desde o curso primário. Quanto a Gerson Gonçalves, já éramos torcedores do Sport desde eu menino.Lembro bem dele e Seu Ze Burgos. O Sport foi bicampeão em 61 e 62.
ResponderExcluirLembro também de Ozinaldo que trabalhava com ele.
Maravilha. Esses registros são importantes para preservar a boa memória de um tempo é dos homens que por ele passaram e deixaram perenes as marcas de sua paixão pelo bem fazer. Uma homenagem mais que justa.
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