13 novembro, 2020

Jorge Remígio - Adendos para Blog Lampião Aceso




Por Jorge Remígio

Caros amigos. Interessante o texto do escritor Hilário Lucetti. Porém, faz-se necessário a correção de algumas datas e graus de parentesco de pessoas envolvidas nesta história que é uma verdadeira saga. A árvore genealógica dessas duas famílias que guerreavam no sertão, basicamente no Pajeú das Flores, torna-se complicada devido aos aos casamentos consanguíneos de Pereiras e Sá, como também, Carvalhos e Nogueiras. Não raro, a união por matrimônio entre membros da família  Pereira e Carvalho. Leve-se em conta também, o grande número de nomes iguais e repetidos, principalmente dos Pereiras. A seguir, algumas considerações sobre o texto postado:

" Sinhô Pereira e Luís Padre eram netos de Andrelino Pereira da Silva..."

Não, Luis Padre era neto e Sinhô, sobrinho neto. O avô de Sinhô, Aureliano Pereira da Silva, pai de Constância, era irmão de Andrelino, o Barão do Pajeú.

Na morte de "Né" Delegado em 1905, por Antônio Clementino de Carvalho, conhecido por Quelé, houve um incidente que precedeu ao fato, digno de relato. Cassiano Pereira da Silva (meu bisavô) e o meio irmão Cincinato Pereira, foram desarmar Quelé, invocando autoridade para esse ato. Quelé negou-se a entregar a arma em plena feira de Vila Bela. Manoel Pereira Maranhão, conhecido por Né Delegado e irmão dos dois, o qual havia sido Delegado anteriormente, achou esse ato uma desfeita e tomou as dores para ele, indo desarmar Quelé posteriormente na mesma feira, sendo assassinado.

"O matador de Padre Pereira foi Luiz de França da família Carvalho"

Não, Luiz de França não era da família Carvalho. Este, juntamente com os cabras Manoel Tomé e Mariano Mendes emboscaram e mataram Padre Pereira a mando de João Nogueira, o qual era casado com uma irmã de Sinhô, Benvenuta, mas conhecida por Benuta. Não foi crime de vingança. João Nogueira insistia pela herança da esposa Benuta, mesmo o sogro estando vivo e Padre Pereira opinou contrariamente junto ao irmão Manoel Pereira da Silva, sogro de João Nogueira. Este passou a ter ódio de Padre Pereira.

" Sinhô, dono praticamente de muitas terras e gado, vendeu tudo barato para cuidar da vingança"

Sinhô era muito jovem em 1916, ainda ia completar 21 anos e era o caçula de vinte e dois irmãos O pai teve dois casamentos. Foi o escolhido pela família, porque era solteiro e muito valente. Quem custeava as finanças do bando era Antônio Andrelino Pereira da Silva, filho do Barão e também Manoel Pereira Lins, o Né da Carnaúba, primo em primeiro grau do pai de Sinhô. Importante esclarecer, que o Major José Inácio do Barro-CE, foi quem deu toda estrutura suficiente para concretização do bando. Dona Chiquinha era sobrinha do marido Padre Pereira. A sua mãe Maria Pereira era irmão de Padre Pereira, a qual residia no Barro com o filho Luís Padre, antes de 1916.

“Os Carvalhos além de numerosos, por serem duas grandes família ligadas por afinidade, estavam sempre de cima na política, o que vale dizer, ter a polícia à disposição”

Nem sempre. Vale salientar, que os três primeiros prefeitos de Vila Bela, foram: Andrelino Pereira da Silva, o Barão do Pajeú, Manoel Pereira da Silva Jacobina, (Padre Pereira) e Antônio Andrelino Pereira da Silva, filho do Barão. Os Pereiras eram correligionários de Rosa e Silva. Político que deteve o poder por muito tempo em Pernambuco. Na eleição de novembro de 1911, mudaram de lado e apoiaram o General Dantas Barreto. Os Carvalhos apoiaram Rosa e Silva, o qual venceu a eleição, mas não levou. Dantas Barreto impondo-se pelas armas, expulsou Rosa e Silva de Pernambuco, sendo o General, referendado como governador.

O Monsenhor Pequeno, amigo da família Carvalho, articulou politicamente a adesão dos Carvalhos ao partido de Dantas Barreto pós-eleição, inclusive, manipulando votos no diretório, conseguindo assim, maioria e consequentemente levando os Carvalhos a indicar pessoas de confiança em cargos estratégicos, havendo então, uma alternância no poder das famílias beligerantes a partir do ano de 1912.
Como é relatado no texto, Sinhô não assassinou Eustáquio Carvalho. O autor foi Manoel Pereira da Silva Filho, o Né Dadú, seu irmão mais velho. Em 1907, Sinhô tinha apenas 11 anos.

" Diz Zeca André em seu livro...  nos últimos meses de 1919, chegavam ao Barro no Ceará, Luís Padre e Sinhô" Sinhô Pereira formou bando no final de 1916 e Luís Padre já residia no Barro com a mãe, D.  Chiquinha. “No mês de dezembro de 1920, morria a mãe de Luís Padre"

D. Chiquinha  faleceu em 1918, acometida pela gripe espanhola. No mesmo ano, Luís Padre e Sinhô deixaram  o cangaço e viajaram separadamente para o Estado de Goiás. Sinhô sofre perseguição da polícia no Piauí e retorna ao campo de luta, permanecendo até a metade do ano de 1922.

Era o que eu tinha a dizer.

Att 
Jorge Farias Remígio
Funcionário público e pesquisador do cangaço e de quebra tem o sangue dos Pereiras de Villa Bella. 
Custódia, PE 


Publicado em: LAMPIÃO ACESO

2 comentários:

  1. Gostei caro professor Jorge, das suas explanações, pois, elas tiram minhas dúvidas em minhas pesquisas sobre o cangaço. Estou escrevendo um livro cujo título: O CANGAÇO a ser analisado à luz da Sociologia e da Psicologia. Grato. Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha-Ba. E-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br

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  2. Sou Sérgio,, minha avó paterna Olindina Pereira Wanderley é sobrinha de Sinhô Pereira, pois ela vem a ser a caçula de Francisco Pereira da Silva Neto e Generosa Pereira da Silva.
    Minha avó nasceu em 1898 na então Vila Bela, com a morte dos país aos 9 anos de idade foi morar com sua irmã Emília, casou com meu avô Manoel Nunes Wanderley em 1917, nascido em 1894 (faz. ou povoado Varzinha) em Vila Bela. Em 1923 foi morar em Cedro-Ce. voltando para Serra Talhada em 1928. Em 1932 sai de Serra Talhada chegando em Viçosa-Al. em 1936.
    Adianto que descendo de dois filhos do capitão José Pereira da Silva, Coronel Francisco Pereira da Silva (fundador da Vila São Francisco) bisavô paterno de vovó Olindina e o Coronel Manuel Pereira da Silva (Comandante Superior) bisavô materno de vovó

    Parabéns por suas correções e fica aqui meus agradecimentos a este espaço.
    sergio-wanderley@hotmail
    sergioewanderley@gmail

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