Nascida em Custódia, PE, em 1959, Lourdes de Deus, mudou-se para Osasco quando tinha apenas dois anos de idade. Casou-se com o pintor naïf Waldomiro de Deus, em 1976, e convivendo com o dia-a-dia do artista, passou a tomar gosto pela arte, começando a pintar em 1992. Daí em diante, seu trabalho foi se aperfeiçoando.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em O avesso das coisas, apontou que “a flor não nasceu para decorar uma casa, embora o morador pense o contrário“. O mesmo ocorre com a pintura de Lourdes de Deus. Quem observa seus quadros pode, ingenuamente, ver apenas flores, festas populares e procissões. Doce ilusão. Há nas imagens da artista um denso sentimento estético, expresso em formas bem definidas e cores vívidas.
Desde o começo, porém, seus quadros deixavam pouco espaço livre na tela. Até hoje, o branco é compulsivamente preenchido, mas com delicadeza. O olho do espectador tenta em vão escapar do quadro, mas novos elementos, geralmente harmonicamente repetidos, chamam-no de volta e o envolvem num jogo imagético, que encanta pela pureza e simplicidade.
Mas há pouco de ingenuidade nesse processo. Assim como o poeta falava das flores, as telas de Lourdes parecem ser feitas para decorar, mas revelam uma consciente e elaborada transformação da realidade. As festas populares do interior e as formas da natureza ganham então novas conotações e levam a refletir sobre a complexidade do mundo moderno que nos afasta das coisas mais simples e belas da vida.
A pintora, portanto, reintroduz nosso olhar no cotidiano. Flores não são apenas elementos da natureza, mas indiciam a ingenuidade perdida pela vida atribulada, enquanto as festividades do interior e procissões indicam um caminho possível para recuperar o prazer de viver. De fato, Drummond, como de hábito, não se enganava: flores não são feitas como adorno, mas ensinam a viver. Qualquer semelhança com as telas de Lourdes não é mera coincidência.
A pintora, portanto, reintroduz nosso olhar no cotidiano. Flores não são apenas elementos da natureza, mas indiciam a ingenuidade perdida pela vida atribulada, enquanto as festividades do interior e procissões indicam um caminho possível para recuperar o prazer de viver. De fato, Drummond, como de hábito, não se enganava: flores não são feitas como adorno, mas ensinam a viver. Qualquer semelhança com as telas de Lourdes não é mera coincidência.
Oscar D’Ambrosio - jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica- Seção Brasil), a Associação Paulista de Críticos de Artes e a União Brasileira de Escritores. Bacharel em Letras (Português e Inglês), é coordenador de imprensa da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, pós-graduado em Literatura Dramática (ECA-USP) e publicou, entre outros, Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora Unesp) e Mito e símbolos em Macunaíma (Editora Selinunte). Escreveu para a Coleção Contando a arte de..., da Editora Novhaa América, livros sobre os artistas plásticos Ranchinho, Maroubo, CACosta, Jocelino Soares e Antonio Peticov.
Nenhum comentário:
Postar um comentário