13 fevereiro, 2023

Como eu conheci Zé Biá - por Miguel Pedrosa



Por Miguel Pedrosa


Hoje, com conhecimentos básicos sobre teorias quânticas, sei que o tempo linear é apenas uma ilusão, ou uma seqüência de eventos. É um tempo relativo. Na concepção quântica, o que existe mesmo é o eterno presente dentro do qual os eventos se movem. 

DESCULPEM! - Utilizei estas afirmações, apenas para enfatizar que aquilo que chamamos passado ainda existe dentro de mim. e no bojo deste espaço, imagens impossíveis de serem deletadas permanecem vivas e em alta definição. Imagens ricas de vida, de sons, de cores e odores. Imagens de um homem de pequena estatura, coração de criança, responsabilidade de um gigante, simplicidade de pessoa especial. Sons de um pífano projetando sons de uma musicalidade brejeira, traduzindo movimentos e sentimentos, obedecendo ao compasso emprestado por caixas e bombos. Odores misturados de extratos vendidos em bancas na feira, matutas cheirosas, moças da cidade incendiando os espaços com cheiro de "Marajoara". 

Difusora Duas Américas tocando músicas de Augusto Calheiros, Luiz Gonzaga, Carlos Galhardo, Jacob do Bandolim, Altamiro Carrilho, sem se falar nas valsas orquestradas. Povo de bom gosto o daquele tempo! Música era música mesmo. Ruídos, só os chiador dos discos de 78 rpm mas que ninguém notava, tamanha era a beleza das melodias. Os que observam o tempo linear chamam isso de passado. Para mim tudo isso é presente. Registros que posso acessar a qualquer momento, aqui e agora. 

E em apenas um click mental, lá está Zé Biá: hora tocando o seu "pife" de bambu fazendo peripécias ao lado da igreja, hora trepado nos pés de côco no sítio de madrinha Anita parecendo um magnífico símio, derrubando as frutas secas para serem vendidas na feira, hora sentado humildemente numa esteira, na sala de sua morada simples comendo feijão num prato de barro. E eu estive lá, comendo feijão com ele, dona Maria, Félix, Manoel e José. Eu era apenas mais um ali, até a hora de voltar pra casa, o chalé da rua da várzea, desconfiado, com medo do chinelo de minha mãe, mas feliz e realizado. 

COMO EU CONHECI ZÉ BIÁ!!!

Publicado na Comunidade do Orkut: Eu Conheci Zé Biá

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