31 janeiro, 2024

Padre Antonio Duarte - Batistério de um padre

 

Logo ordenado Sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, foi Pároco de Custódia onde prestou assinalados trabalhos, merecendo registro na História do Município.
Era um homem culto e humilde. Deixou saudades e amigos.


Padre Antônio Duarte, além de o padre mais católico e apostólico que Custódia teve, foi, sobretudo, quem mais animou e movimentou os meios religiosos e sociais da cidade na década de 1935 a 1945. Um sacerdócio cheio de realizações.

Recifense, alto, alvo, de olhos perscrutadores, lembrava um europeu. Alegre e comunicativo, inteligente, memória privilegiada, espírito  criativo e empreendedor, estava à frente do seu tempo.

Procedente da paróquia de Floresta, logo que assumiu os destinos da freguesia de Custódia se tornou um autêntico custodiense. Sabia tudo e tudo fazia. Era, entre outras coisas, poeta, compositor, engenheiro e arquiteto nato, eletricista e um grande orador sacro. Voz de barítono, cantava bem, fazendo com quem suas missas solenes levassem os fiéis ao cântico dos cânticos do rei e sábio Salomão. Trajava normalmente a tradicional batina preta, mas, nas horas vagas e em sua residência, já ensaiava a vestimenta civil, numa antecipação de mudança de costumes clericais.

Padre Duarte fez muito por Custódia. Entre as realizações, destaco: 

1) encaliçou e pintor as paredes externas da igreja, que eram em tijolo batido, ergueu a bela torre e fez a calçada de frente, como ainda permanece; 

2) construiu a casa paroquial; 

3) demoliu a capela que existia onde hoje é a agência do Banco do Brasil, transferindo os pertences para a Igreja Matriz, especialmente a porta de entrada; 

4) o catecismo era memorável, pois que, após a doutrinação vinha a parte recreativa com muitos divertimentos; 

5) o mês de maio era cultuado com capricho e veneração; 

6) o Natal, com quermesses e pastoris, este com os cordões azuis e encarnado sempre foram muito concorridos;

7) o São João com comidas típicas nas barracas, fogueiras faiscantes, fogos de vista e os belos balões enfeitando o firmamento; 

8) por fim, os empolgantes Dramas do Padre Duarte, que eram a parte mais esperada e aclamada pelo povo, bem diversificados, constando de uma peça teatral, esquetes, cantos, poesias e do ponto mais expressivo, A Revista da Cidade, cantada em versos, mexendo jocosamente com as pessoas da sociedade. Lembro-me de uma das peças dramáticas, A louca do Jardim, tendo como protagonista Luzia de Seu Cassiano. Lembro-me também, de um dueto composto por Ildo Nino e Yvette Matos interpretando uma bela canção matuta que dizia: "numa casa bonitinha lá no alto dos oiteiros".

Diante do que fez o Padre Duarte por Custódia, e sua gente nos seus dez anos de sacerdócio, acho que ele, ingratamente, é o grande esquecido de sua história.

Deixo aqui, com profundo respeito, o mais ardeste preito de gratidão ao velho sacerdote.

Por Allan Kardec seria visto como a reencarnação de Cura D'Ars.

(*) publicado originalmente no livro A BARAÚNA, de JOSÉ CARNEIRO, em 2015;  © Todos os Direitos Reservados

3 comentários:

  1. Boa Noite, elogios feitos ao Padre Duarte sempre foram feitos por minha família em Recife, meus Avós e Tios sempre conviveram com ele.
    Celebrou Missa de Bodas de Ouro de João Pires e Candóia.
    Edina

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  2. Minha mãe Ozanira Farias (1922-2010) me falava muito do Padre Duarte. Lembrava o quanto ele foi importante para a juventude custodiense, enquanto exerceu o seu paroquiato entre os anos de 1935 e 1945. No texto do primo José Carneiro, ele relata muito bem a dinâmica exercida junto aos jovens pelo pároco. O meu tio José Farias (1933) também me falou muito do ilustre sacerdote. Me falou que certo dia, após tomar banho para ir até a casa paroquial para as constantes reuniões, a sua mãe lhe encharcou um uma colônia muito perfumada. Ao chegar junto aos jovens, já concentrados na casa paroquial, Zé Neto, filho de Joaquim Pereira, "batizou" o meu tio de Zé Colônia, em alusão ao cheiro que exalava. Por corruptela, ficou Zé Colonha. Apelido que carrega até hoje. Em uma das atividades que o Padre Duarte fazia com as crianças, eram as corridas. Começando ao lado da igreja e terminando onde hoje fica a sorveteria de Olímpio. A praça ainda não existia, era chão batido. Zé Farias me falou que era imbatível. O campeão ganhava uma grande sacola com muitas guloseimas. Quem ficava fora do pódio, ganhava uma sacola menor. O quadro da cidade se enchia de gente para ver essas disputas. Era uma glória para o vencedor. O imbatível tio Zé, certo domingo teve uma surpresa desagradável. Expedito Marinho, irmão de dona Ednalva, desafiante do eterno campeão, venceu a prova, causando um grande constrangimento e muito choro para Zé Colônia, que nunca havia perdido aquelas corridas infantis. A saída do Padre Duarte de Custódia, foi constrangedora. Ele foi denunciado ao bispo de Pesqueira por assédio, fato nunca provado e nem esclarecido, o que ocasionou a sua saída da paróquia de Custódia. Como falou Zé Carneiro em seu texto, o Padre Duarte não tem o reconhecimento que merece da memória custodiense.

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