O distrito de Betânia foi criado em 6 de dezembro de 1928,
pela Lei Municipal n. 2, subordinado a Custódia.
O município foi instalado em 19 de março de 1962.
Visitei Betânia, em pleno coração do RIACHO DO NAVIO. Poucas Vilas sertanejas possuem tradição mais viva e história mais trepidante do que sua vizinhança do município de Custódia, batizada pelo saudoso Vigário e grande amigo da terra padre José Ribeiro e onde, de calças curtas, brincou de "cangaceiro", trazendo a guisa de cartucheira uma "enfiada" de sabor de milho, o Dr. Ribeiro do Vale, atual procurador da República em Pernambuco. Pasto querido de Lampião, reduto famoso de homens valentes, que encheram o passado com a fúria das guerrilhas e das lutas cruentas Betânia tem um lugar destacado na história das façanhas guerreiras quando o sertão ainda esperava a força coercitiva da Lei e a influência benéfica da Civilização.
Guardo desde a infância o nome de Betânia, aureolado pelo clarão dos papos-amarelos e dos bacamartes cuja fumaça tisnou a face do generais de chapéu de couro do cangaço. Era a legenda viva e tumultuosa dos homens de bronze, dos heróis de aço e lama que escreveram os capítulos de fogo da história da terra bárbara. Por ali rolavam as "volantes" nos entreveros com os bandidos, no labirinto cinzento das caatingas. Por isso quando cheguei a Betânia sobre um sol faiscante, fiquei a olhar a vila tranquila branquejando na manhã luminosa, escondendo com a poesia cristã do seu nome o passado pontilhado de cruzes e de mortes. Cada esquina da vila quieta guarda a história de uma façanha. E as cruzes do caminho são as páginas de um passado agitado onde espocaram os mosquetes nas "razzias" tremendas. Por ali passaram os Marcolinos, José de Souza, os Rajados, José Liberal, o velho Manoel Pequeno, campeão das empreitadas sinistras e no meio de todos, rude e terrível pisando forte como um rei nas terras do seu domínio, Casimiro Honório, o mais famoso bandoleiro dos sertões do Riacho do Navio junto de quem lampião era café pequeno e Antônio Silvino engatinhava. Esses eram os homens que fincaram em torno de Betânia os limites da bravura e da Valentina da zona mais belicosa de Pernambuco o riacho do navio.
Também ali perto campearam de armas à mão, Luiz Padre e Sebastião Pereira, mestres da estratégia matuta, cujas façanhas ainda hoje reboam pelos sertões. Certa vez Lampião atacou uma fazenda nas proximidades de Betânia. Os donos apareceram de repente, por trás de um chiqueiro de bodes. E meteram o rifle para cima. Depois de horas de tiroteio, apesar da superioridade numérica e da fama dos atacantes, o capitão Virgulino recuou. Brigaram sorrindo, chamando nomes feios, dizendo palavrões de arrepiar. Cada tiro correspondia a um doesto. Cada estampido, a uma palavra suja que cortava como bala de chumbo. Quando cessou o fogo os da fazenda deram uma risada. E gritaram para Lampião que fosse tirar o cheiro de mijo...
Eram assim os bambas de Betânia. Iam para a luta como os outros vão para o noivado. Hoje Betânia vive tranquila, com a sua gente acolhedora e tenaz, entregue ao comércio ativo, à agricultura e à pecuária. Possui os seus armazéns de cereais e de peles, as melhores da região. Um distinto estudante, irmão do Capitão Olímpio, falou-me enternecido da família famosa. Senti nas palavra do jovem Ferraz que aquela gente ama o palmo de chão natal com o complexo telúrico rolando nas veias. Sai à tardinha. Deixei Betânia, com seu povo trabalhador de voz pausada e gestos mansos. Moças risonhas enchiam a vila do encanto Moreno das sertanejas.
Despedir-me do amigo que me abriu lar hospitaleiro. A saída ele me presenteou com uma garrafa de mel de mandaçaia, leve, perfumado e saboroso. Era Luiz Epaminondas Barros, comerciante e homem de prestígio afável, maneiroso, de olhos claros e ar de capitão holandês. E por cima, sobrinho de Sebastião Pereira - o treme terra do Riacho do Navio.
Arcoverde - Janeiro de 1950.
Edição 0029
Publicado em 04/02/1950
Tempos que se foram gente destemida que defendiam suas convicções por entenderem que estavam certos .
ResponderExcluirBelo depoimento. Fui uma vez em Betânia, nunca esqueci.
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