A Paróquia de São Jose, da freguesia de Custódia, passava por um momento de letargia incompreensível. Nem um vigário fixo tinha, muito embora dispusesse de um dos templos mais bonitos e imponentes da região.
Até hoje, não se conhece nenhuma Igreja com torre mais alta e exuberante que, muito embora contrastando com sua imponência, dispunha de apenas dois sinos muito pequenos, que tocados com incrível sintonia por Sebastião (sêo Mama) indicavam chamadas para a missa, novenas, enterros,, batizados… etc.
Quando menos se imaginava, eis que desembarca da “sopa” (ônibus) da Empresa Realeza, um homem muito gordo vestido com uma roupa de cor indefinida, talvez marrom, uma resultante do preto da batina com a poeira vermelha do sertão. Atravessou toda a Praça Padre Leão em direção à Igreja, sob a curiosidade de todos que estavam a “jogar conversa fora” em ambos os lados da praça. Era mais ou menos três e meia da tarde. O andar cadenciado, a cabeça erguida, o peito saliente a mala, enorme e pesada, carregada na cabeça por Sebastião “Miudin,” dava a idéia que aquele homem viera para ficar.
A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora.
Viva!!!! Nosso padre chegou!!! São José ouviu nossas preces. Era a glória.
A arrumação da Igreja para a primeira missa do PADRE LUIZ KLUR, mexeu com todos. As toalhas mais alvas ornaram a igreja. As flores mais bonitas foram colocadas nos vasos. O cheiro das dálias, rosas, açucenas, misturados davam uma agradável sensação de limpeza. Não foram usados os tradicionais “cravos de defunto”.
Padre Luiz chegara para substituir o dedicado MONSENHOR URBANO, pároco de Sertânia, que eventualmente dava assistência à nossa paróquia.
Sêo Menino; logo na primeira missa o Padre Luiz implantou seu estilo. Era alemão e sendo alemão, diria o Mução: –Grosso que nem parede de Igreja – foi logo botando pra quebrar.
-Não admitia conversa durante a missa.
-Não admitia interrupções.
-Menino chorão? Nem Pensar. Que ficasse em casa. Ele perdoava. Implicou até com um ceguinho que pedia esmola durante a missa na porta da Igreja. A galera dizia que o padre não queria saber de concorrência.
Diante da gestão ditatorial do Padre, que angariou muitos críticos, entre eles estava Numeriano, cuja magreza e atitudes gozadoras, algumas até curiosas, faziam dele uma figura ímpar. – João Elizeu conta, que certa feita, Numeriano deu um “trupicão” numa pedra, mirou a cabeça do dedão ensanguentada, voltou, olhou para a pedra, e tascou: TÁ QUI PRA VOÇE, OHH!!! E deu uma “banana” pra pedra.
Numeriano costumava assistir a missa aos domingos, encostado na porta da entrada lateral da Igreja, situada no lado direito de quem olha para a praça.
Espirituoso, certa vez uma senhora que chegara atrasada para a missa das sete, sabedoria dos métodos rígidos do Padre Luiz e preocupada se a missa já teria começado, perguntou a Numeriano:
– A missa já entrou?? Numeriano respondeu: Por essa porta, não!!.
Domingo de Páscoa, igreja cheia, o Padre Luiz discorria a explicação do evangelho que falava sobre a multiplicação dos pães e dos peixes..
Falava que “naquele tempo, Jesus distribuíra para dois discípulos, CINCO MIL PAES MAIS DOIS MIL PEIXES, saciando a fome de todos.
Numeriano captou a mancada que o Padre dera, invertendo as quantidades, comentou para Totinha de dona Bela:
-Ôxe,!!Qual a vantagem.?? Isso até eu faço.
Mesmo cochichado, o Padre ouviu o comentário de Numeriano. Nada disse. Apenas olhou-o por cima dos óculos, como quem diz: Me espere. Quem tem com que me pague não me deve nada.
No ano seguinte, ocorria mesma situação. O padre Luiz dizia: Naquele tempo, Jesus repartiu para cinco mil pessoas, CINCO PÃES MAIS DOIS PEIXES, saciando a fome de todo mundo. Olhou por cima dos óculos em direção a Numeriano, e lascou:
- Faz isso agora Numeriano, que eu quero ver.!!!
Numeriano nem se abalou, só respondeu.:
FAÇO SIM, COM O QUE SOBROU DO ANO PASSADO.
Fernando Florêncio
Ilhéus/BA
Em tempo: Foi no período do Padre Luiz que nossa Paróquia recebeu um novo sino e o relógio.
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