Texto: Jorge Remígio
Recife-PE
Abril/2021
Recife-PE
Abril/2021
O dia 30 de maio de 1973 caiu em uma sexta feira. Logo cedo daquela manhã, ao levantar-se da cama ainda preguiçosa, minha irmã Eliane não esqueceu que aquele dia era muito especial para ela, estava completando dez primaveras.
Correu para aprontar-se e tomar café na correria para não chegar atrasada na Escola Maria Augusta. A minha mãe, Ozanira, sempre foi uma pessoa muito dedicada a todos os seus rebentos e demonstrava um amor imensurável e igualitário a todos. Fazia questão de exaltar essa atitude propalando para as amigas que filhos tem que ser criados iguais, sem distinção e favorecimento.
Seria até uma norma para evitar conflitos futuros. Deu um apertado abraço na filha, lembrando-a que havia terminado o seu vestido e que à tarde iria fazer uma festinha/lanche para comemorar o aniversário. Era tudo simples, mas não poderia passar em branco uma data tão emblemática. Era os dez anos da sua primeira filha. Inicialmente teve quatro meninos, encerrando a sua maternidade com duas lindas meninas. Eliane, a aniversariante e Ana Cláudia, um ano mais nova.
Naquela época não se costumava fazer grandes festas de aniversário para os filhos. Geralmente as famílias eram constituídas de grandes proles, então, seriam muitas festas e isso acabaria sendo inviável do ponto de vista econômico, salvo raras exceções de pessoas com muitas posses e poucos filhos. Na escola, foi impossível concentrar-se na aula.
A todo instante vinha-lhe imagens de guloseimas. Ao chegar em casa, tratou logo de almoçar, lembrando que tinha um compromisso. Brincar de bonecas no quintal da casa da amiga Rejane. Pediu a permissão para mãe, no que foi consentido, porém, foi recomendado que não demorassem, não esquecessem a hora da festinha.
Estava pensando em cantar os parabéns às três horas da tarde. Eliane achou muito cedo, mas não ponderou. Antes de sair, foi ao quarto contemplar o seu vestido novo sobre a cama. - Que lindo! É laranja e tem umas partes xadrez da mesma cor. Ao passar na sala a mãe ainda alertou para o horário, pois tinham que chegar antes da hora marcada, porque ainda iam tomar banho e botar o vestido novo.
Aproveitou para informar que os preparativos já estavam bem encaminhados, tinha feito bolos de goma e mandado assá-los na padaria de Dona Jovelina e os guaranás já estavam acomodados na geladeira. O bolo de laranja no forno do fogão exalava um aroma apetitoso, incensando todos os cômodos da casa.
Falando em guaraná, abro aqui um parêntese: as crianças dos anos sessenta e setenta eram aficionadas por esse refresco. Ouvi muitas vezes na minha infância amigos relatarem que achavam muito bom ficar doentes. Isso porque os pais liberavam essa iguaria em junção com a bolacha cream cracker.
Correu para aprontar-se e tomar café na correria para não chegar atrasada na Escola Maria Augusta. A minha mãe, Ozanira, sempre foi uma pessoa muito dedicada a todos os seus rebentos e demonstrava um amor imensurável e igualitário a todos. Fazia questão de exaltar essa atitude propalando para as amigas que filhos tem que ser criados iguais, sem distinção e favorecimento.
Seria até uma norma para evitar conflitos futuros. Deu um apertado abraço na filha, lembrando-a que havia terminado o seu vestido e que à tarde iria fazer uma festinha/lanche para comemorar o aniversário. Era tudo simples, mas não poderia passar em branco uma data tão emblemática. Era os dez anos da sua primeira filha. Inicialmente teve quatro meninos, encerrando a sua maternidade com duas lindas meninas. Eliane, a aniversariante e Ana Cláudia, um ano mais nova.
Naquela época não se costumava fazer grandes festas de aniversário para os filhos. Geralmente as famílias eram constituídas de grandes proles, então, seriam muitas festas e isso acabaria sendo inviável do ponto de vista econômico, salvo raras exceções de pessoas com muitas posses e poucos filhos. Na escola, foi impossível concentrar-se na aula.
A todo instante vinha-lhe imagens de guloseimas. Ao chegar em casa, tratou logo de almoçar, lembrando que tinha um compromisso. Brincar de bonecas no quintal da casa da amiga Rejane. Pediu a permissão para mãe, no que foi consentido, porém, foi recomendado que não demorassem, não esquecessem a hora da festinha.
Estava pensando em cantar os parabéns às três horas da tarde. Eliane achou muito cedo, mas não ponderou. Antes de sair, foi ao quarto contemplar o seu vestido novo sobre a cama. - Que lindo! É laranja e tem umas partes xadrez da mesma cor. Ao passar na sala a mãe ainda alertou para o horário, pois tinham que chegar antes da hora marcada, porque ainda iam tomar banho e botar o vestido novo.
Aproveitou para informar que os preparativos já estavam bem encaminhados, tinha feito bolos de goma e mandado assá-los na padaria de Dona Jovelina e os guaranás já estavam acomodados na geladeira. O bolo de laranja no forno do fogão exalava um aroma apetitoso, incensando todos os cômodos da casa.
Falando em guaraná, abro aqui um parêntese: as crianças dos anos sessenta e setenta eram aficionadas por esse refresco. Ouvi muitas vezes na minha infância amigos relatarem que achavam muito bom ficar doentes. Isso porque os pais liberavam essa iguaria em junção com a bolacha cream cracker.
Morávamos ao lado da Igreja Matriz de São José e o grande relógio afixado em sua torre gótica anunciou duas badaladas. - Duas horas, já era para as meninas terem chegado. Vou mandar Isabel chamá-las. Isabel trabalhava na nossa casa já há alguns anos. Por não ser distante, logo retornou e disse ter avisado da hora para as meninas que brincavam animadamente com bonecas. Estavam fazendo um cozinhado.
Minha mãe não gostou, pois calculou que tinham que tomar banho, botar roupa nova, o tempo ficaria atropelado. Mas, continuou nas arrumações. Duas e meia e nada das meninas. Já demonstrando impaciência, pediu para que Isabel fosse novamente até elas e fizesse uma intimação. Viessem urgente. Os minutos se passavam, a tensão aumentando, e nada das meninas. Tonho, Jânio, Sérgio e Antônio Erasmo, afilhado e acolhido por minha mãe para estudar na cidade, já estavam postos, na expectativa.
O desapontamento da minha mãe já era explícito, pois já era quase três e meia da tarde, ela estava realmente magoada. Nesse momento chega em casa Maria de Joca. Sempre foi uma pessoa muito íntima, pois tinha sido a babá das meninas. Ela disse. - Eita dona Ozanira, e vai ter festa? Di Assis fez aniversário ontem, dia 29.
Minha mãe não gostou, pois calculou que tinham que tomar banho, botar roupa nova, o tempo ficaria atropelado. Mas, continuou nas arrumações. Duas e meia e nada das meninas. Já demonstrando impaciência, pediu para que Isabel fosse novamente até elas e fizesse uma intimação. Viessem urgente. Os minutos se passavam, a tensão aumentando, e nada das meninas. Tonho, Jânio, Sérgio e Antônio Erasmo, afilhado e acolhido por minha mãe para estudar na cidade, já estavam postos, na expectativa.
O desapontamento da minha mãe já era explícito, pois já era quase três e meia da tarde, ela estava realmente magoada. Nesse momento chega em casa Maria de Joca. Sempre foi uma pessoa muito íntima, pois tinha sido a babá das meninas. Ela disse. - Eita dona Ozanira, e vai ter festa? Di Assis fez aniversário ontem, dia 29.
É não, Maria. É só um lanchinho. Hoje é o aniversário de Eliane, mas eu já estou é com raiva. Faz um favor para mim. Vai ali na casa de Totonho e chama as meninas. Diz que já está tudo pronto e só falta elas. Quando Maria chegou, minha mãe já lhe esperava na porta da entrada da casa. - E aí, Maria?
Elas falaram que estavam terminando uma brincadeira, depois “vinha”. Aí foi a gota d’água, paciência tem limite, mãe “pegou ar” mesmo. Ela falou. - Maria, você falou que Di Assis completou ano ontem, vá chamar ele. Manda ele tomar banho e botar uma roupa nova. Vai logo e não demora, já passa das quatro horas. Maria realmente foi muito veloz, chega com Di Assis, ainda sem compreender o que sucederia.
Minha mãe disse. - Bote um tamborete aqui para Di Assis ficar mais alto. Venha, meu afilhado, a gente vai comemorar o seu aniversário que foi ontem. Di Assis ficou atônito, impactado com aquela informação surpreendente. Subiu no tamborete sem caber de emoção. Cantaram parabéns para você e quando estavam degustando os bolos com guaraná, chegam Eliane, Ana Cláudia e Rejane, desconfiadas, com as caras mais lisas que espinhaço de pão doce.
Então nossa mãe falou. - Entrem meninas, venham comer do bolo de Di Assis. O aniversariante ainda em êxtase falou. “Madrinha, eu queria dizer uma coisa”. - Diga, meu afilhado. “Eu estou muito contente e queria dizer que nunca na minha vida eu tinha comemorado um aniversário meu. Muito obrigado para a senhora”.
- Não foi nada, meu afilhado. E tem o seguinte: Ano que vem, se houver atraso, você ganha outra festa de aniversário.
Minha mãe disse. - Bote um tamborete aqui para Di Assis ficar mais alto. Venha, meu afilhado, a gente vai comemorar o seu aniversário que foi ontem. Di Assis ficou atônito, impactado com aquela informação surpreendente. Subiu no tamborete sem caber de emoção. Cantaram parabéns para você e quando estavam degustando os bolos com guaraná, chegam Eliane, Ana Cláudia e Rejane, desconfiadas, com as caras mais lisas que espinhaço de pão doce.
Então nossa mãe falou. - Entrem meninas, venham comer do bolo de Di Assis. O aniversariante ainda em êxtase falou. “Madrinha, eu queria dizer uma coisa”. - Diga, meu afilhado. “Eu estou muito contente e queria dizer que nunca na minha vida eu tinha comemorado um aniversário meu. Muito obrigado para a senhora”.
- Não foi nada, meu afilhado. E tem o seguinte: Ano que vem, se houver atraso, você ganha outra festa de aniversário.
Recife, 12 de abril de 2021
Jorge Remígio
Parabéns para D.Ozanira.Uma lição pras meninas. 👏👏👏👏👏😂😂
ResponderExcluirAdorei Jorge as suas istórias são ótimas. Abraços da prima Janise. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼🌹
ResponderExcluirJorge, que linda crônica! Um retrato clássico de Ozanira, mãe, mulher firme e decidida, acolhedora e alegre. Os seus comentários sobre a vida eram cheios de humor. Mesmo quando comentava coisas sérias. É assim que a recordo.
ResponderExcluirJorge nos faz retornar ao passado de uma forma tão envolvente, que o sentimento de arrependimento da minha parte vem à tona, mas minha mãe era muito sábia que soube conduzir de uma forma que deu a oportunidade a Di Assis de comemorar seu aniversário deixando-o muito feliz e nos deu uma lição de moral que com certeza foi bastante educadora. Nossa querida mãezinha era iluminada,fomos privilegiados em ter recebido tanto amor dessa pessoa mais linda do mundo ❤❤❤❤❤❤
ResponderExcluirTEXTO ( VIVO ) SIMPLESMENTE EXPETACULAR !
ResponderExcluirQuando terminei de ler esse emocionante a detalhado relato, fiquei em dúvida se eu tinha acabado de assisitir a um filme, se eu tinha saído de uma sala de teatro ou se eu tinha acordado de um sonho. Porque do jeito que você conta, Jorge, traz cenas do passado de uma forma tão presente e tão viva, que fui me envolvendo e vi passando assim essas imagens todas - como se fosse um filme, uma peça de tetro ou um sonho.E senti crescer diante de mim uma Ozanira-mãe educando para a vida, com sabedooria, inspiração e firmeza ditadas pelo amor. E é dessa mesma múltipla fonte que vem o efeito colateral, que emociona: o chamamento para o "meio", de quem está habituado às margens, para viver a magia da primeira celebração de aniversário de sua vida. E o menino Di Assis transbordou de emoção, alegria e gratidão. Parabéns, Eliane, por ser protagonista dessa história tão bonita! Parabéns,Jorge, por contá-la com tanta excelência.
ResponderExcluirLaíse Rezende
Nossa que atitude maravilhosa por parte da sua mãe.E Isabel que na época trabalha na casa da sua mãe é minha sogra. Ainda hj, ela bastante em todos vcs.
ResponderExcluirQue bela crônica Jorge.Cada parágrafo permeado por uma riqueza de detalhes que nos transportam a nossa infância tão maravilhosa. Tatiana.
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