Acho que estávamos no ano de 1957 ou início de 58. A minha residência ficava por trás da casa paroquial da minha pequenina Custódia, vizinha à residência de Zé de Isaías. Não me recordo da fuga, mas, tenho certeza que a minha mãe não me viu sair. Eu tinha uns 03 anos e costumava ficar sentado no batente da porta de entrada vendo o movimento da rua onde morávamos. Rua Vinte de Julho em homenagem ao aniversário do político local Ernesto Queiroz.
Naquela tarde calorosa, fui guiado pelo som mágico de pífanos que vinha de não muito longe. Guardo esses flashes na memória até hoje como um filme antigo. Imaginem a cena que me deparo. ZÉ BIÁ e sua bandinha tocando ao lado esquerdo da igreja onde à tarde fica sombreado. Creio que ainda não havia o “caçoá” como os adultos chamavam o puxadinho que o Padre Luiz posteriormente construiu para servir de confessionário, alterando a arquitetura original do templo. Mas esse é outro papo.
Sim, lembro-me que no local ao lado da igreja não tinha cimento, era chão batido e eu com uma roupinha branca e gravata borboleta, impulsionado pela música, passei a dançar e rodopiar ao som de pífanos tarol e zabumba, levantando uma nuvem de poeira acinzentada. Os expectadores davam sonoras gargalhadas e em poucos minutos aumentou consideravelmente o número de espectadores. Acho que a plateia já beirava umas sessenta pessoas, que em círculo, constituíram uma grande roda, e eu no centro, dançando e rodopiando.
Como a minha casa ficava próximo, imagino que foram avisar a Dona Osanira, que chegando rápido, deparou-se com aquela cena dantesca, e atônita que estava não conseguiu transpassar toda aquela plateia para resgatar o filho hipnotizado com o som de ZÉ BIÁ. Naquele momento de aflição, pediu ajuda a Naimes de Seu Isaias para que tirasse o filho dela daquele “mico” ou ridículo. Isso na interpretação dela, pois eu estava nas nuvens de satisfação, me sentindo um autêntico astro.
Então, Naimes pediu licença às pessoas à frente e em seguida me colocou em seus ombros e saiu andando compassadamente margeando a igreja e o coreto da antiga praça. Conversava comigo alguma coisa seguindo em direção à minha casa. Eu lá no alto daquele rapaz forte olhei para trás e observei a minha mãe enxugar as lágrimas e agradecer a gentileza de Naimes. Os anos foram se seguindo na minha primeira infância e a bandinha de pífanos de Zé Biá passou a fazer parte constante da minha sonoridade e aventuras.
Jorge Farias Remígio.
Que bom lê seu texto!
ResponderExcluirFico imaginando a sua felicidade no meio daquela gente. Como também, imagino a aflição de sua mãe, ao lhe procurar e não te encontrar sentado aonde te botou.
Me emocionei ao citar meu tio Naimes, que não conheci, mas, ouvi tanto falar sobre ele, que aprendi a amá-lo, so por o ouvir dizer...😭 e o tenho guardado na minha memória, através dessa fotografia😍
Parabéns, folião nato, Jorge Remígio !
Abraço.