21 fevereiro, 2013

José Carneiro para Jussara Burgos


Estimada Jussara:

De coração agradecido às lisonjeiras palavras com que me cumulou, o que vem reafirmar seu distinto modo de ser. Gostei de tudo que me disse. Você, além de escrever bem, expõe com elegância o sentimento, especialmente o relacionado à sua terra natal, seu povo e familiares. 

Fui íntimo amigo de seu pai. Era uma amizade verdadeiramente fraternal. Zé Burgos foi um homem excepcional, de uma generosidade fora do comum e completamente despojado de vaidade e de interesses subalternos. Além de humano e de agradável maneira de conviver era, como poucos, uma pessoa prestimosa. Na empresa Antarctica, onde gozava de excelente conceito, era o maior e melhor vendedor. Ninguém, por mais esforço que fizesse, conseguia superá-lo. Moramos juntos um bom tempo e fui uma espécie de secretário, acompanhando-o no seu serviço de entrega, tirando notas e cuidando da escrita e da correspondência. Era da sua inteira confiança. 

Entre vários casos ocorridos entre nós, destaco o em que, nós dois, no seu caminhão, numa curva, a porta se abriu e ele foi arremessado ao chão, momento em que, numa ação refletiva, freei o auto e ele, levantando-se, saiu correndo, entrou no caminhão e continuou dirigindo como se nada tivesse acontecido. A tudo assisti pelo espelho retrovisor. Separamo-nos quando passei no vestibular e fui residir na casa do Estudante. Sinto profunda emoção ao falar de Zé Burgos, de quem guardo inesquecíveis lembranças. 

A minha amizade com você, Jussara, embora sem convivência, data do meu paraninfado de turma do Ginásio Padre Leão, sob seu patrocínio. Além disso, sempre fui ligado à família Pereira, a começar por seu Joaquim Pereira, com quem nunca deixei de manter bons encontros e animadas palestras. Naquele tempo havia a Rádio Difusora de Custódia, de propriedade de José Pires, que viria a casar com uma irmã minha, com uma boa discoteca e com o animado programa "DE ALGUÉM PARA VOCÊ", que marcou época como uma espécie de termômetro social, pois que, media o prestígio do homenageado pelo número de dedicatórias postadas no dia. 

Eu era o locutor e seu Joaquim Pereira, em meio a compostos gregos e brocardos latinos, me indagava sobre concordâncias verbais por mim empregadas nas locuções. De certa feita, ao anunciar a programação de uma troupe que se apresentava nos palcos de Custódia, eu disse:"AMANHÃ, PELA SEGUNDA VEZ, ESTRÉIA..." Seu Joaquim, no dia seguinte, me chamou e sapecou:"SE ESTRÉIA DUAS VEZES?" Dei a mão à palmatória, enfiei a viola no saco e fui tocar noutra freguesia. 

Assim era seu Joaquim Pereira. Gostava dele, apesar de sua conversa que tinha começo mas não tinha fim. Também me dava bem com dona Corina, alegre e simpática. Zé Neto, nem se fala. Fomos companheiros de quarto numa pensão em Recife e sempre conservamos a amizade. Quanto a Noêmia é e sempre foi uma boa contemporânea e, sobre Joany, que foi a namorada mais firme que tive em custódia na minha mocidade. Achava-a bonita e era apaixonado por ela. Pedro e Arnaldo Pereira são de outra geração. E, de quebra, sou padrinho de um dos filhos de Zé Burgos, o que vem reforçar os velhos elos da corrente de amizade.

Estes, entre outros traços, são lembranças de um tempo que se encobriu nas brumas do passado, mas que permanecem vivas na minha memória e no meu espírito.

Dê-me notícia de minha madrinha Maria Eunice.

Por derradeiro, Jussara, tenho a lhe dizer que não estou disputando a primazia universitária de Custódia, apenas gostaria de esclarecer que o Dr. Anísio Pires não é filho natural de Custódia e que o fato a que me referi teve apenas e tão somente o caráter histórico.

Afetuosamente. 

J.Carneiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário