A titulo de colaboração um pequeno comentário a respeito do Livro Quaderna nosso poeta maior, JOÃO CABRAL DE MELO NETO, onde ele nomeia nossa Custódia em um dos seus poemas.
“O Livro Quaderna foi publicado primeiramente em Portugal, no ano de 1960. Sua escrita iniciou em 1956, quando João Cabral, trabalhando como cônsul, foi removido para Barcelona e autorizado a residir em Servilha, a fim de fazer pesquisas no Arquivo das Índias. No Brasil, foi publicado em 1962, juntamente com “os dois parlamentos” e “serial”, em um livro chamado Terceira Feira.”
“Após tematizar a morte em “Morte e Vida Severina”, João Cabral a presentifica em Quaderna com os poemas dedicados ao cemitério. São quatro aparições que surgem localizados geograficamente no titulo a abaixo dele: “Cemitério Paraibano” (Entre Flores e Princesas), “Cemitério Pernambucano” (Custódia), “Cemitério Pernambucano” (Floresta do Navio) e “Cemitério Alagoano” (Trapiche da Barra).
Tal localização, no entanto, demarca o espaço regional, mas acima de tudo, as descrições feitas permitem que sejam identificadas as regiões. Desse modo, percebe-se que a identificação geográfica precisa não impede ao poeta revelar, até mesmo no tratamento da morte, a diferença entre as regiões mais e menos favorecidas financeiramente.”
Em “Cemitério Paraibano” (Entre Flores e Princesa), João Cabral considera o cemitério uma casa. A comparação envereda para outro ponto, transformando-a em um espaço necessário e coletivo:
Uma casa é o cemitério
dos mortos deste lugar.
A casa só, sem puxada,
e casa de um só andar.
E da casa só o recinto
entre a taipa lateral.
Nunca se usou o jardim;
Muito menos, o quintal.
E casa pequena:própria
menos a hotel que a pensão;
pois os inquilinos cabem
no cemitério saguão,
os poucos que, por aqui
recusaram o privilégio
de cemitérios cidades
em cidades cemitérios.
Mesmo que delimite a região geograficamente, em “Cemitério Pernambuco” (Custódia), a descrição do espaço o aproxima do que foi representado no poema anterior. Percebe-se uma realidade semelhante à que foi descrita, ao revelar a dificuldade financeira que assola seus habitantes e os acompanha na morte:
E mais prático enterrar-se
em covas feitas no chão:
ao sol daqui, mais que covas
são formos de cremação.
Ao sol daqui, as covas logo
se transformam nas caieiras
onde enterrar certas coisas
para, queimando-as, fazê-las:
assim, o tijolo ainda cru,
as pedras que dão a cal
ou a capoeira raquítica
que dá o carvão vegetal.
Só que nas covas caieiras
nenhuma coisa é apurada:
tudo se perde na terra,
em forma de alma, ou de nada.
Além de apontar uma situação social, o poema mostra uma região precisa: o sertão pernambucano, castigado pela ação da natureza, salientando a presença do sol escaldante como elemento de identificação do espaço. O sol do sertão é severo, duro e cumpre a sina de “cremar” os corpos lançados ao chão. Também verifica-se a junção de dois elementos: a terá e o fogo (sol). O primeiro esconde, e segundo dá fim ao corpo sertanejo, mas, nem por isso, consegue livrar-se do que o move: sua alma. Então, a terra parece herdar a essência do interior do corpo extinto, sua alma, mas movendo a dúvida a respeito de sua existência, salientada nos últimos versos.
Material enviado por Marcelo Genário Burgos Pereira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário