Eduardo Galeano diz : ''Os cientistas dizem que somos feitos de átomos,
mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias." Fui
convidada a escrever sobre meu tio materno Arnaldo Pereira Sobrinho pela
segunda vez. Na primeira vez, minha mãe, Noêmia Pereira Burgos, facilitou meu trabalho. Mas agora ela já não está entre nós e a vida do meu tio será apresentada com bases nas história que ouvi. Visto que, ele teve uma existência breve entre nós. Viveu apenas quatorze anos.
José Neto, Noêmia, Joana e Arnaldo Pereira Sobrinho
Nasceu em Custódia-PE, o menino Arnaldo Pereira Sobrinho, nome dado por seu pai para homenagear um irmão. Seus pais eram Joaquim Pereira da Silva e Corina Marques Pereira, comerciantes donos da Farmácia Pereira, fundada no dia 15 de julho de 1937.
Joaquim Pereira e Corina Pereira com filhos, genros e nora
O casal teve outros filhos: primogênito José Pereira Neto[*30/04/1928 +03/10/2013], Noêmia Marques Pereira, após seu casamento passou a se chamar Noêmia Pereira Burgos [*29/12/1929 +24/06/2021], Joana Marques Pereira, após seu casamento passou a se chamar Joana Pereira Epaminondas [17/07/1933] ainda vive entre nós. E Arnaldo Pereira Sobrinho nasceu em 22 de abril de 1935 e faleceu em 10 de dezembro de 1949. Nasceram ainda duas meninas: Ivone e Clarice que faleceram com poucos dias de vida. E por fim, em 14 de julho de 1940 nasceu o caçula Pedro Pereira Sobrinho que faleceu em 16 de setembro de 2021.
A Farmácia Pereira fundada por meu avô Joaquim Pereira da Silva, durante
vários anos foi a única que existia na cidade de Custódia. Em
parte sua fundação se deve ao fato dos meus avós terem perdido duas
filhas, vítimas de difteria. Casos assim seriam fatais se os pais não
fossem para Arcoverde adquirir uma simples dose de soro antidiftérico.
Subsistia o problema da conservação da vacina que deveria ser
mantida sob refrigeração. Meu avô fez uma jura que não iria perder
mais filhos por causa da difteria. Como naquela época Custódia não
contava com energia elétrica, ele comprou um refrigerador a querosene
onde mantinha sob refrigeração soros como antidiftérico, antiofídico, vacinas e assemelhados. Assim ele salvou não só os seus filhos , mas quem precisou de vacinas.
Meu
tio Pedro Pereira Sobrinho, me contou que tio Arnaldo, era uma menino que
tinha o dom da oratória, ele costumava subir em um caixote para
discursar, imitando políticos discursando em palanques. Também tinha espírito empreendedor. Naquela época era comum os garotos se
prontificarem para levar a feira das senhoras até suas casas para
ganhar moedas. Ele construiu carrinhos e alugava para os meninos.
Meu avô foi analfabeto até os quatorze anos, depois pegou gosto pela
leitura e tornou-se autodidata, lia muito e formou a maior biblioteca particular de Custódia, onde não
havia
escolas para seus filhos. Ele quis oferecer para sua prole aquilo que a
vida lhe negou, então encaminhou seus filhos para Pesqueira, Caruaru e Recife.
No Recife minha mãe e meus tios estudaram em regime de internato no Colégio Americano Batista. Nessa
época não havia ônibus, a viagem era feita de caminhão ou trem. Tio
Arnaldo voltando de férias do Americano Batista sofreu um acidente, em
Vitória de Santo Antão. Viajava na boleia, pediu ao
motorista para ir em cima da carga para fazer companhia a um primo que
viajava sozinho. O caminhão tombou e ele veio a óbito.
Minha
avó Corina contava que tio Arnaldo era muito afetivo, gostava de beijar
e abraçá-la. Quando ele faleceu a dor que ela sentia era tão grande que
a deixou chorando e prostrada em uma rede por um mês. Até que
uma noite meu avô sonhou com tio Arnaldo dizendo: "Pai, olha como eu
estou. Mostrou as vestes molhadas e disse: Pede à minha mãe para parar de chorar!"
Minha avó tocou a vida mas enquanto viveu usou uma medalha com o retrato do filho presa a uma corrente de ouro junto ao seu coração.
Meus pais José Pereira Burgos e Noêmia Pereira Burgos, quando nasceu o primeiro filho, que era também o primeiro neto dos meus avós, deram o nome de Arnaldo para homenagear, ficando Arnaldo Antonio Pereira Burgos.
Como eu disse no início somos feitos de história, aqui reúne histórias de minha família e do meu tio Arnaldo. O escritor uruguaio Eduardo Galeano também afirma que: Eu acho que nós nascemos filhos dos dias, porque cada dia tem uma história e nós somos as histórias que vivemos…
Que Deus o tenha no reino da Glória
Por Jussara Burgos
Luziânia-GO
Março/2023
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