Foto: Jussara Burgos
por José Melo
ENTENDEU? COMPREENDEU? BASTOU!!!
Dos muitos custodienses que conheci, uma figura foi bastante marcante. Quer pela personalidade forte, quer pela sinceridade a toda prova, e principalmente, pelo seu estilo popular, sempre considerando a todos iguais. Falo de Zé Burgos, verdadeiro benfeitor da pobreza de Custódia. Jamais se negou a auxiliar a quem necessitasse dele. Além de se prestar a auxiliar a quem lhe procurasse, ele tinha muita experiência no ramo de farmácia, o que lhe permitia, naqueles tempos em que não havia médicos na cidade, a receitar remédios para todos os males dos sertanejos de Custódia e adjacências.
Outro aspecto também bastante forte em Zé Burgos era o humor. Recordo que nas manhãs quentes das segundas-feiras, a matutada ficava sob a marquise da Farmácia Pereira, protegendo-se do sol forte. Zé Burgos pegava uma seringa, daquelas grandes, enchia de água, e sentado por trás do balcão esperava um descuido de um dos matutos, e pressionava uma seringada de água gelada nas costas da vítima, depois retornava seriamente à leitura de um livro ou jornal. A matutada jamais desconfiava de que aquilo era presepada de Zé Burgos.
Recordo que apareceu na cidade um doente mental, cujo apelido era Mãe Gorda, devido a sua obesidade. Chato, não dava sossego a ninguém, sempre tentando puxar conversa, dando uma de inteligente e enchendo o saco. Certa feita chegou na Farmácia dizendo que estava gripado, e pedindo um remédio. Zé Burgos disse que para aquela gripe só tinha jeito uma injeção. Mãe Gorda aceitou na hora. Só que Zé Burgos injetou água no músculo do braço de Mãe Gorda, provocando uma dor tão intensa que ele saiu em disparada e jamais voltou à Farmácia.
Quando mais jovem Zé Burgos fora vendedor da Brahma, a famosa cerveja. Isso o fez apreciador da marca. Lembro que quando eu era menino, fui trabalhar em um boteco, de Joaquim Cabral, que ficava próximo à Farmácia Galeno, de Zé Burgos, que religiosamente tomava uma cerveja, sempre na boca da garrafa, próximo ao meio dia. Sempre via Joaquim Cabral atender ao mesmo, sempre sem nenhum problema.
Ocorre que naquele tempo, a Brahma era a cerveja mais apreciada, enquanto que a Antarctica ninguém queria. Joaquim Cabral, que não era nada tolo, utilizava duas latas daquelas que serviam de embalagem para biscoitos “Maria” e “Creme Craker”, com metade cheia de água. Em uma delas colocava seis garrafas vazias de Brahma e na outra, seis garrafas cheias, de Antarctica. Depois de algumas horas, os rótulos ficavam escorregadios, soltos, e então era só retirar os da Antarctica e colar os da Brahma. Ninguém jamais reclamou da qualidade. Certa feita, na hora em Zé Burgos foi tomar a sua Brahma, Joaquim não estava e eu, inadvertidamente, servi um das brahmas da Antarctica. Ele levou a garrafa à boca, sorveu um gole, cuspiu foram derramou o resto na pia, e disse calmamente:
- Essa aqui você bota na conta de Joaquim Cabral, que ele já sabe que eu só bebo Brahma!
A partir daí, sempre tive o maior cuidado em servir Brahma da Brahma para Zé Burgos.
Como se sabe, o matuto é profundamente grato a quem lhe presta qualquer favor. Zé Burgos prestava inúmeros favores aos caboclos, e certa feita, um deles quis ser agradável a Zé Burgos, porém não conhecia a sua sinceridade acima da média, e lhe disse:
- Seu Zé Burgos, qualquer dia desse eu venho lhe chamar pra o sinhô ir lá em casa comer uma buchada!
Ao quer Zé Burgos respondeu de imediato:
- Eu não como merda na minha casa, quanto mais na dos outros!!!
Com sua fala característica, sempre falando rápido, sempre encerrava uma conversa com a frase do título acima:
- “Entendeu, compreendeu? Bastou!!!”.
J. Melo
ResponderExcluirAgradeço de coração as tuas palavras a meu pai, homem simples porém de uma personalidade marcante. Se passaram quase 35 anos da sua partida mesmo assim sempre está em evidencia por pessoas como você.Muito obrigado.
Hiran
Tínhamos uma grande afeição por seu Zé Burgos.
ResponderExcluirUm grande homem!
Saudades.
Meu padrinho,.José burgus me salvou de uma febre tifóide se não fosse que segundo minha mãe era um anjo eu estaria morta,aliás depois disso nunca mais me deixou de cuidar para que não faltasse comida para mim.ele é sua esposa sempre me acolhiam quando eu chegava em sua casa nunca fui mal recebida.....a não ser pela moça que trabalhava lá e não gostava de servir filha de pobre lá do Alto. Mas madrinha Noêmia me pegava na porta e levava pra sala de jantar enorme linda e bem arrumada e dizia. Senta Lurdinha VAMOS comer.....que delícia.só tenho agradecimento por esta família especial e abençoada
ResponderExcluirMeu nome é Maria de Lourdes leite de Araújo filha de seu ze Miguel e dona Dorinha lavadeira de roupas e carregadora de água para maioria das casas lá de baixo. Quem é da minha idade vai saber o significado de ser lá de cima e lá de baixo
ResponderExcluirQue texto maravilhoso o de José Melo, ainda mais quando se conheceu o personagem.Lembro criança com crise de cansaço e Seu Zé Burgos me dava torrão de açúcar como se fora remédio.E, melhor, passava.
ResponderExcluir