20 julho, 2022

Cinquentenário de Custódia - autor José Melo


Na década de setenta – mais precisamente no período de 01 a 11 de setembro de 1978, Custódia comemorou festivamente o seu cinquentenário, com uma vasta programação elaborada a capricho, pela equipe designada para isso pelo saudoso Prefeito Luizito.

A primeira providência na programação, foi a instituição de um concurso para a escolha da Bandeira do Município, até hoje ainda adotada como Bandeira Oficial. Após as primeiras reuniões, o Município recebeu um presente da Sra. Lia Maciel, da cidade de Arcoverde, que compôs o Hino do Cinquentenário, o qual depois das festividade teve o seu coro alterado por mim e foi adotado extraoficialmente como Hino do Município. Não sei se já foi devidamente oficializado, e  aqui fica a sugestão de que caso não tenha sido, os representantes do povo na Câmara de Vereadores o façam. 

Naquela grande festa, os custodienses tiveram o privilégio de assistir uma verdadeira enxurrada de eventos culturais e artístico nunca antes vista na cidade. Tivemos uma noite dedicada aos poetas repentistas, com a participação dos maiores poetas da época: Jó Patriota, Lourival Batista, Cancão, entre muitos outros, todos prestando uma homenagem ao grande repentista – presente ao evento, Pinto do Monteiro, que mesmo alquebrado, velho e cego, não perdia oportunidade de mostrar sua fina ironia e criatividade. Lembro que um pouco antes da abertura da noitada de poesia, caiu uma repentina chuva, interrompendo o fornecimento de energia elétrica. Dr. Pedro Pereira, um coordenadores da Programação, comentou com Pinto do Monteiro:

- Mas quem já viu, chuva em Setembro!

Ao que Pinto do Monteiro, imediatamente emendou, fazenda a rima:

-“Se eu vi não me lembro!” 

Apresentações artísticas nunca vistas em Custódia aconteceram naquele período. O Trio Asas da América, no auge de seu sucesso se apresentou na praça Padre Leão, além de outras atrações, a exemplo do Quinteto Violado, na sua melhor época.. No CLRC uma noite da mais pura música clássica com a Orquestra Armorial, que encantou a todos.

Durante todo o período dezenas de atividades assinalaram a comemoração do cinquentenário. Ginkanas, passeio ciclístico, futebol, apresentação de grupos folclóricos, como o Grupo de Bacamarteiros, com mais de duzentos componentes, desfile de vaqueiros, apresentação de danças, jecana etc.

Uma das atividades que mais chamaram a atenção da população, foi a apresentação de paraquedistas, além das dezenas de voos panorâmicos realizados por 12 pequenos aviões que viriam para fazer apenas uma apresentação e retornariam no mesmo dia, tendo que ficar mais um dia dado a quantidade de gente que aproveitando a oportunidade realizavam o seu primeiro voo, e a partir de então poderia dizer que “já andei de avião”. Uma camionete teve que se deslocar para a Capital pernambucana, para adquirir mais combustível para os aviões. Nunca se viu tantos aviões e tanta gente no “campo de pouso”, já chamado de aeroporto, pois havia sido há pouco tempo reformado, com o asfaltamento da pista.

Outra atividade também inédita na cidade foi o desfile de motos: Luizito conseguiu com seu amigo Toinho da Fonte, o patrocínio para o deslocamento de cerca de 200 motoqueiros de Recife até Custódia, onde realizaram um grande desfile pelas principais ruas da cidade, numa barulheira infernal. 

Hoje, uma programação desse porte poderia não despertar a atenção da população, dada a grande transformação que a cidade experimentou desde aquele tempo. Mas em plena década de setenta, era inimaginável que uma cidadezinha como Custódia, pobre, atrasada e sem recursos, realizasse uma programação naquelas proporções.

Como Secretário Municipal, participei de todas as atividades, coordenando os trabalhos, providenciando a infraestrutura para os eventos e ainda por cima fazendo as vezes de mestre de cerimônia e apresentador. Foi tão desgastante, que no final da programação tive uma pequena vertigem tendo sido medicado e voltado ao microfone. No encerramento das festividades, o inesquecível Luizito, feliz com o sucesso das festividades e num ato de reconhecimento ao meu trabalho, mandou-me escolher um hotel na região para descansar pelo tempo que quisesse. Dispensei o Hotel e fui descansar na casa de uma parente em Garanhuns, afirmando na saída que iria passar uma semana, no que ele concordou. Chegando em Garanhuns, após dois dias folga não suportei o ócio e retornei as minhas atividades na Secretaria de Administração da Prefeitura de Custódia.

As comemorações do cinquentenário de Custódia tiveram o condor de mudar completamente as programações de festas da cidade. A partir de então a população não mais se contentava com as tradicionais festas como eram realizadas. No mês de março, antigamente as festas se resumiam ao novenário e a um baile no CLRC, na véspera do dia de São José. Após a festa do cinquentenário passou a ter uma programação maior, com shows em praça pública, e foi crescendo até chegar a dimensão dos dias atuais. O mesmo aconteceu com as outras datas festivas da cidade, A Festa da Emancipação Política, o São João, as festas de fim de ano etc. todas tiveram uma grande evolução, passando a atrair mais e mais visitantes da região, e consolidando a cidade como uma das que melhor realizam festas públicas.

Texto de autoria de José Melo Soares. Todos os direitos reservados.
 Cedido gentilmente e exclusivamente para o Blog Custódia Terra Querida.

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