Naqueles tempos difíceis, a justiça propriamente dita era resumida a figura do Juiz de Direito – geralmente acumulando várias Comarcas e visitando esporadicamente cada uma delas, o promotor, da mesma forma, e o Oficial de Justiça, que geralmente morava na cidade. Advogados, apenas para aqueles que dispunham de recursos suficientes para “importar” um de Arcoverde ou do Recife. A maioria da população tinha que se contentar, para defesa de seus direitos, com a figura do rábula, prático que fazia as vezes de advogado.
Custódia teve alguns rábulas famosos, a exemplo de Juvino da Costa Leão, a quem eu sempre o chamava de “Padrinho”, que muitas vezes subiu a tribuna para defender réus pobres. Exercia naquela época as funções de Advogado dos Pobres, cargo que seria hoje o de Defensor Público.
Conta-se que certa feita, ocorreu um Júri, onde a acusação fora feita por um jovem e entusiasmado Promotor. Na Defesa, o Advogado dos Pobres, Juvino da Costa Leão.
Empolgado, o defensor deitou o verbo para convencer os jurados a inocentar o réu. Animado com as palmas da platéia, encerrou sua defesa com uma frase em latim:
– Por isso, Senhor Juiz e Senhores Jurados, peço a absolvição do réu, afinal, “Dura Lex, Sed Lex” (dura é a lei, mas é a lei).
A pequena sala que servia de Fórum quase vai abaixo com tantas palmas dirigidas à erudição do orador. O promotor, por sua vez, sabendo das limitações do defensor, tentou colocar o mesmo no “pé da parede”, fazendo a sua última intervenção:
– “Muito bonita a alocução do nobre defensor, mas gostaria que ele traduzisse o “dura lex sed lex”!
Ao que o rábula provou que a esperteza por vezes supera o conhecimento.
-“Pois não Excelência, eu reconheço que o Senhor e o MM. Juiz, por serem bastantes jovens, ainda não tem muito conhecimento da língua latina, por isso passo a traduzir: ”Dura Lex, Sed Lex,” quer dizer, “Dai a César o que é de César!”.
Desta vez os aplausos estrondaram na pequena sala, e o MM Juiz e o Promotor ficaram impossibilitados de retrucar, pois a platéia jamais iria desacreditar nos “conhecimentos” e “experiências” do velho rábula.
Por: José Soares de Melo
Sr. José Soares, gostei muito desse causo que me fez relembrar "Seu Juvino" e a torcida que lembro se fazia, quando ele ia defender alguém. Na época Né Marinho, meu pai, tabelião da cidade,era quem acolhia juizes e promotores, por vezes recém formados, que careciam do aprendizado e da experiência de rábulas como Seu Juvino, no Fórum e de Seu Né, no cartório.Como é bom lembrar essas histórias!
ResponderExcluirPrezada Sra. Vanise:
ResponderExcluirConheci muito de perto Seu Né. Estou devendo um texto sobre ele, assim que o fizer, submeterei a sua avaliação antes de postar.
José Melo
O grande cronista José Melo produziu um excelente texto sobre Né Marinho meu pai, e agradeci a ele na ocasião. Os detalhes de sua crônica me emocionaram. Seu Né substituiu o seu pai cartório e
ResponderExcluirquando decidiu se aposentar contava com que Leny ou eu o substituísse Mas nós tínhamos outros planos e não quisemos seguir a tradição. Tenho essa gratidão por ele ter compreendido e respeitado minhas escolhas.